Inteligência Artificial e arquitetura: os prós e contras dessa relação

Foto: Gerd Altmann/ Pixabay

A Inteligência Artificial (IA) é um conceito que atravessa gerações sendo assunto do passado, presente e futuro. O termo cunhado na década de 1960 representa a possibilidade de máquinas realizarem tarefas humanas complexas, como raciocinar ou tomar decisões. Atualmente, ela encontra-se presente em diversas áreas do conhecimento e cotidiano, como jogos, aplicativos, reconhecimento de voz, entre outros. Mas, qual é a atuação e as possibilidades da Inteligência Artificial na arquitetura? É o que o pesquisador e arquiteto Vinícius Juliani Pereira busca analisar em sua dissertação de mestrado “Alteridade digital no processo de projeto: estudo sobre a interação entre arquiteto e inteligência artificial”, defendido pela FAUUSP.

Na pesquisa, mais do que explicar as aplicações da IA, ele promove uma reflexão sobre a prática dela na arquitetura, analisando pontos positivos e negativos. O primeiro tópico que o pesquisador destaca é a questão das ferramentas digitais com Inteligência Artificial serem produzidas e programadas por uma empresa ou técnico na área. Com isso, há a possibilidade da tecnologia gerar vícios nos processos produtivos. “Quando elas [tecnologias] tomarem decisões ou auxiliarem no nosso processo de escolha de decisões […] elas podem ter resultados enviesados, podemos reproduzir racismos ou outros problemas sociais que são estruturais e podem ressoar em aparatos técnicos”, alerta Vinícius. 

Mas não há somente esse ponto de reflexão no que se refere ao uso da Inteligência Artificial na arquitetura. O pesquisador também ressalta um receio no uso dos meios digitais que é a possibilidade de cercear a ação do arquiteto. Ou seja, o profissional pode ter seu processo criativo limitado durante as produções, devido a autonomia da máquina. 

Por outro lado, ele destaca os lados positivos e possíveis melhorias na conciliação entre IA e arquitetura. Vinícius acredita que utilizar a Inteligência Artificial como recurso visual dos projetos, por exemplo com o uso de hologramas, aproximará a relação entre clientes, usuários e projetistas. “Se o cliente não se sentir contemplado, ele vai falar, vai poder modificar o projeto junto de você e, ao mesmo tempo, vai dialogar com essa inteligência artificial”, aponta o arquiteto. 

O arquiteto abrange a discussão das novas tecnologias digitais para o contexto social. Ele dá o exemplo dos aluguéis de bicicletas e patinetes que, mesmo úteis, forneciam seus serviços apenas a um nicho específico da população, considerando a cidade de São Paulo como exemplo. Isso porque esses serviços atuam com um raio de distância na cidade, não ampliando seu serviço para as regiões periféricas da metrópole, assim excluindo os moradores mais afastados do centro do uso dos equipamentos. Para Vinícius, é preciso se atentar a essas questões para não intensificar as segregações urbanas, sociais e técnicas. 

Vale ressaltar que as diferentes gerações lidam de maneiras diferentes com a tecnologia e, consequentemente, com a Inteligência Artificial. Os nascidos a partir de 1980 são os chamados “nativos digitais”, ou seja, cresceram familiarizados com as tecnologias digitais. Por isso, o arquiteto destaca que essa familiaridade pode ser importante para a futura relação entre IA e arquitetura, tendo em vista que os nativos digitais conhecem o mundo por meio do mundo digital. 

A Inteligência Artificial continuará a promover discussões acerca de sua aplicabilidade nas áreas do conhecimento e cotidiano. Para a arquitetura, ela pode apresentar melhorias em alguns aspectos da área, mas também é preciso estar alerta para as problemáticas. É essencial que o projetista se mantenha ativo na relação entre projetos e tecnologias, a fim de evitar desequilíbrios nessa relação. “É preciso saber quando o potencial de uma tecnologia já acabou, para não virar refém de uma empresa ou de um conglomerado de empresas que desenvolvem um software”, sacramenta Vinícius. 

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*