Comprovada a associação entre grupos específicos de bactéria e o tumor retal

Foto: Adrian Lange - Unsplash

Cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP avaliaram em estudo do Laboratório de Bactérias Anaeróbias no Departamento de Microbiologia a existência de uma associação entre um grupo específico de bactérias anaeróbias e o câncer de reto. 

As bactérias de interesse para o estudo eram predominantes na microbiota do trato gastrointestinal e, entre elas, destacam-se as espécies Bacteroides fragilis e Clostridium perfringens, que foram as estudadas com maior profundidade pelos pesquisadores por serem consideradas oportunistas, além de possuírem a capacidade de causar doenças em hospedeiros suscetíveis através da produção de toxinas e enzimas.

Para o estudo, em busca de avaliar se existiria ou não associação entre a presença dessas bactérias na microbiota com o câncer de reto, foram recrutados 40 pacientes com câncer de reto e 20 pacientes sem câncer. Desses pacientes, foram analisadas amostras de fezes, sangue, tecido tumoral, tecido adjacente ao tumor e tecido sadio dos pacientes sem câncer que foram recolhidas entre abril de 2015 e maio de 2016.

O projeto é da pesquisadora Gabriela Gama Freire Alberca, que apresentou no último 2 de setembro sua tese de doutorado baseada no estudo e intitulada “Possível associação da presença de bactérias anaeróbias do trato gastrointestinal com a neoplasia retal: ocorrência e caracterização molecular bacteriana”, recebendo aprovação. Foi realizado sob a orientação do Prof. Dr. Mario Julio Avilla-Campos, falecido em abril de 2019, depois pelo Prof. Dr. Nilton Lincopan e co-orientação da Profa. Dra. Viviane Nakano. O projeto contou também com uma parceria com o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP).

Foi a partir da parceria com o ICESP, centro de referência no Brasil em tratamento oncológico e que recebe casos da rede pública, que os cientistas conseguiram recrutar pacientes e conseguir as amostras para análise, através da colaboração do setor de endoscopia e cirurgia gastrointestinal e todo o corpo clínico do setor, fundamental para a realização da pesquisa.

Para o estudo, foram utilizadas técnicas de biologia molecular previstas na literatura para esse tipo de experimento, como a extração do DNA das bactérias isoladas e do DNA total das amostras coletadas. Técnicas de PCR convencional e multiplex, PCR em tempo real, AP-PCR (Arbitrarily Primed PCR) e PFGE (Pulsed Field Gel Electrophoresis – em tradução livre, Eletroforese em Gel de Campo Pulsado).

De acordo com a explicação de Gabriela, as técnicas de PCR convencional e Multiplex foram utilizadas para identificar as bactérias isoladas do material fecal e analisar os genes responsáveis pela produção de toxinas.

“O PCR quantitativo em tempo real (real-time PCR), foi utilizado para verificar a presença de bactérias predominantes orais e intestinais nas amostras de fezes, sangue, tecido tumoral, tecido adjacente ao tumor e tecido sadio dos pacientes com câncer e sem câncer de reto.

Para avaliar a diversidade genética da espécie Bacteroides fragilis, foi utilizada a técnica AP-PCR e para espécie de Clostridium perfringens a técnica de PFGE”, explica.

Com os resultados obtidos do estudo, os pesquisadores constataram a existência de uma associação entre a presença de algumas bactérias e toxinas com esse tipo de tumor. “Porém mais estudos são necessários para melhor entender o papel dessas bactérias no desenvolvimento ou progressão da doença ou até mesmo contribuir para novas estratégias intervenções terapêuticas”, disse a pesquisadora Gabriela Alberca em entrevista.

Também foram constatadas diferenças na presença de bactérias predominantes orais e intestinais nas amostras de fezes, tumor, tecido adjacente e sadio entre pacientes com e sem câncer. Além disso, algumas toxinas só foram encontradas em espécie bacteriana isolada da amostra de fezes dos pacientes com câncer retal.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*