A real proteção do filtro solar contra danos à saúde da pele

Paira um certo senso comum sobre os benefícios e malefícios da exposição da pele aos raios solares. Considerando que o sol pode afetar diretamente a saúde das pessoas, quando em excesso, é evidente a busca por maneiras que possam frear os danos. Ponderando que também é de conhecimento mútuo a importância de momentos diários, ao ar livre, para tomar um pouco de sol, em vista a necessidade do mesmo na produção de vitamina D pelo corpo humano.

As campanhas de conscientização, em modo geral, alertam quanto aos danos causados pelos raios solares invisíveis, na faixa Ultra-Violeta (UV). De modo a estimular a população no uso frequente de filtros solares, como forma de proteção, visando diminuir os riscos quanto a doenças como o câncer de pele.

Segundo o professor Mauricio da Silva Baptista, formado em Farmácia e Bioquímica pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP), e chefe do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), “os estudos epidemiológicos têm mostrado que as taxas mundiais de incidência de câncer de pele não têm diminuído, pelo contrário, alcançaram níveis epidêmicos”. Assim, é evidente que os resultados, para os efeitos protetivos, buscados através das estratégias atuais de fotoproteção, ficam muito aquém do aceitável.

O mito da proteção total dos filtros solares

Os índices nada satisfatórios para a incidência de câncer de pele esbarram numa explicação comum: a não utilização ou o mal uso do protetor solar pela população. Contudo, esse entendimento não encontra embasamento científico para tal. Afinal, não podemos ser tão simplistas e cair no senso comum, e obter um diagnóstico através de analogias ou suposições.

A explicação é o fato dos protetores solares disponíveis no mercado filtrarem apenas uma parcela pequena de toda a radiação solar que vem do sol e que atinge a pele. Se tem algo que os filtros solares atuais fazem com certeza, é que eles evitam que as pessoas de pele clara fiquem vermelhas durante a exposição solar, mas não evitam o bronzeamento. Já se perguntou o porquê? “A razão é que os filtros solares disponíveis atualmente são precários. Eles evitam que os raios solares UV (5% da fluência solar) penetrem na pele, mas não apresentam capacidade de proteção contra os demais, como os raios solares na faixa do visível (45% da fluência solar) e do infravermelho (50% da fluência solar)”, explica Baptista.

São os raios UV que causam o avermelhado na pele, característico de uma exposição excessiva ao sol. Com o uso dos filtros solares esse desconforto da vermelhidão se ausenta. “Os raios UV causam danos diretos no DNA das células da pele, iniciando um processo inflamatório agudo que deixa as pessoas vermelhas. A vermelhidão é uma proteção do corpo humano, pois sinaliza o excesso de exposição solar e a necessidade premente deste indivíduo sair do sol”, alerta o especialista em bioquímica.

Sobre a baixa atuação dos filtros solares em proteger por completo a pele de todas as faixas dos raios solares, é possível entender a projeção continuada do câncer de pele na população mundial. Baptista pontua: “a luz visível (não UV) possui efeitos similares aos de UVA (um tipo de raio UV) sobre as células da pele, induzindo a formação de espécies oxidantes que causam muitos danos na pele, incluindo lesões no DNA potencialmente mutagênicas”.

Todos os fatores que atingem livremente a pele podem não causar vermelhidão. Entretanto, causam danos severos às células, que podem ser irreversíveis. Por outro lado, evitar completamente o sol tem consequências gritantes, pois a radiação solar se faz necessária no alcance de efeitos benéficos à saúde. Como o caso da vitamina D, “caso no qual 90% utilizada por nós deve ser gerada através da ação dos raios UVB (outro tipo de raio UV) na pele, momento que ocorre a síntese de vitamina D3”, afirma Baptista.

Alternativa aos filtros solares

Além da falta de entrega plena na proteção contra os raios solares, os protetores causam danos diretos nas células da pele por conta de sua composição química. O fato foi analisado pelo professor Baptista: “de maneira contraproducente, muitos protetores solares apresentam moléculas orgânicas tóxicas à pele, como a oxibenzona, que interfere na fisiologia da pele e do organismo, acumulando-se no corpo e, ironicamente, levando ao envelhecimento e ao câncer de pele”.

Em princípio cabe ao Estado legislar por uma melhoria no produto oferecido, regulando o oferecimento de melhores condições. Segundo o bioquímico: “órgãos de vigilância internacionais estão ficando atentos aos problemas. Pensando positivamente, os governos regulamentarão os rótulos de filtro solar — para dizer que não protegem completamente e que as pessoas não devem ficar se expondo tanto ao sol — e as empresas serão forçadas a desenvolver produtos melhores”.

Essas alternativas não estão tão distantes, “atualmente, nosso grupo e outros, quase sempre em parcerias com empresas do setor estão considerando três estratégias: filtro solar com bloqueio de luz visível (vai trazer cor na pele), estratégias antioxidantes e antiinflamatórias, e proteção de membranas. Para isso, nós desenvolvemos uma nanosílica com recobrimento de melanina que tem potencial para funcionar como filtro de luz visível.”

As alternativas que estão em desenvolvimento, pelo grupo de pesquisa do professor Mauricio da Silva Baptista, ainda estão buscando parceiros para exploração do ponto de vista comercial. Enquanto a nanosílica não é realidade o alerta quanto ao real produto que a população utiliza deve ser amplamente divulgado, explicado seus efeitos positivos e negativos, com a transparência necessária que o tema pede.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*