Nova espécie de peixe lagarto é descoberta pela USP

O trabalho de mestrado de Nathalie Amorim Fernandes comparou exemplares do peixe pela costa brasileira e descobriu quais espécies habitam o atlântico sul ocidental, incluindo uma inédita

Colagem com imagens da nova espécie de peixe lagarto descoberto no Instituto Oceanográfico da USP. Foto: Nathalie Amorim

Dentre todas as conclusões do trabalho de mestrado de Nathalie Amorim Fernandes, a mais importante — e surpreendente — foi a descoberta de uma nova espécie de peixe: a synodus sp. N, um tipo de peixe lagarto anteriormente tratado como parte de outras espécies. Uma das principais características que diferencia a nova espécie das demais é o comprimento do focinho em relação à órbita. Enquanto nos outros animais o comprimento é maior, no synodus sp. N ele é menor ou igual. A descoberta inclui também o fato de esses peixes habitarem as águas do litoral das regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil, em uma profundidade de até 64 metros. 

A pesquisa de mestrado trouxe contribuições importantes para o estudo do peixe e sua ocorrência no litoral brasileiro. O gênero animal, conhecido popularmente como peixe lagarto, foi escolhido como objeto de estudo da pesquisadora, que descobriu durante o estudo a real ocorrência e distribuição das espécies no oceano Atlântico Sul Ocidental. 

Antes, acreditava-se que existiam cinco espécies do gênero synodus vivendo no litoral brasileiro: synodus bondi, synodus foetens, synodus intermedius, synodus poeyi e synodus synodus. “Das sete existentes no Atlântico Sul, cinco estariam presentes no Atlântico Sul Ocidental. No meu trabalho, eu vi que, na verdade, existem seis espécies aqui, sendo uma delas antes desconhecida, e algumas que acreditavam estar na costa brasileira na verdade não estão”, conta Nathalie. 

A dissertação confirmou a ocorrência de peixes das espécies synodus bondi, synodus foetens, synodus intermedius e synodus synodus na região do Atlântico Sul Ocidental. As maiores descobertas são relativas a mudanças na classificação anterior: além de encontrar uma nova espécie, o estudo do IO concluiu que a espécie synodus poeyi, antes considerada existente na costa brasileira, na verdade fica restrita ao Caribe. Além disso, uma espécie descoberta em 2013, a synodus macrostigmus, pode ser encontrada na região, apesar de anteriormente ser classificada como uma espécie restrita ao Atlântico Norte. 

O objetivo da pesquisa, intitulada Revisão Taxonômica de Synodus Scopoli, 1777 (Synodontidae, Aulopiformes, Teleostei) do Atlântico Sul Ocidental e desenvolvida no Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade de São Paulo, era organizar a chave taxonômica na qual se encontrava o gênero de peixes. A pesquisadora revela que as chaves, que servem para identificar a espécie por meio de características específicas catalogadas, era muito confusa, dificultando o trabalho de classificação desses animais. Um trabalho semelhante foi desenvolvido no Atlântico Norte, mas não era aplicável à parcela sul do ambiente, portanto Nathalie começou a revisão do material que fazia referência à costa brasileira.

“Comecei meu trabalho falando um pouco sobre os animais do gênero, como é possível identifica um synodus, e depois eu fui diferenciando as espécies”, diz Nathalie. A metodologia da pesquisa envolveu a revisão de exemplares do gênero synodus provenientes de diversos museus ao longo da costa do Brasil. Durante o processo, descobriu que haviam muitas classificações feitas de forma errada, com os caracteres morfométricos — medidas feitas com paquímetros ou contagem de raios das nadadeiras, por exemplo — não se encaixando nas chaves. “Como eu não conseguia incluir, tive que fazer minhas próprias chaves para identificar os bichos de forma correta”, completa.  

Nathalie conta que grande parte do seu trabalho se resume a diferenciar corretamente as espécies de synodus. “O meu trabalho tem muitos detalhes, descrevendo todas as características de cada espécie, para ajudar quem tiver identificando cada uma”, explica. Outros resultados obtidos pela pesquisa foram a localização de novas características para diferenciar as espécies, que antes não estavam identificadas nas chaves e a catalogação de um peixe que serve de exemplo para representar a espécie synodus synodus e suas características. 

O synodus é um gênero de peixe que não possui interesse comercial e é comum em áreas de estuário, e não costuma despertar o interesse de muitos pesquisadores. Nathalie conta que espera que os resultados obtidos em seu trabalho possam ajudar outras pessoas que queiram trabalhar com eles no futuro.

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