Como um médico veterinário pode contribuir no combate ao coronavírus? De início pode-se achar difícil encontrar uma relação direta entre o front dos profissionais de saúde contra a Covid-19 e médicos veterinários. Mas, os residentes da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo nos provaram o contrário!
Dezenove residentes da FMVZ-USP se disponibilizaram como voluntários, duas a três vezes por semana, para auxiliar os médicos do Hospital Universitário (HU) contra o coronavírus de março a agosto desse ano, quando os números de infectados e mortossó cresciam.
O trabalho deles, que se dividia em plantões de 6 a 12 horas, era gerir e regular os leitos do hospital, auxiliar as enfermeiras e chefes de plantões responsáveis a fim de gerir as vagas internas, solicitar vagas externas, e também analisar os dados da vigilância epidemiológica.
Além disso, os residentes também faziam ligações diárias aos pacientes que passavam pelo gripário (área exclusiva a quem estava doente e/ou com sintomas de Covid-19) e os acompanhavam por teleatendimento, por aproximadamente 14 dias, caso surgisse algum sintoma grave ou evolução negativa, sempre buscando reforçar os métodos de isolamento e prevenção. Ou seja, além de trabalhos administrativos, eles também estavam diretamente ligados ao atendimento de pacientes.
Os residentes também realizaram a doação de dez tablets para que os pacientes infectados pudessem se comunicar com suas famílias durante o isolamento, já que visitas estavam suspensas. O dinheiro foi totalmente arrecado por eles por meio da I Conferência Nacional de Residência em Pequenos Animais, evento online que aconteceu entre 1 e 4 de junho de 2020.
Gabriela Pinheiro, uma das residentes voluntárias, classificou a experiência como ‘surpreendente, tanto no âmbito técnico como no pessoal’. “Como somos residentes multiprofissionais (pós-graduação voltada para o aprendizado na prática das diferentes profissões que englobam a área da saúde, como medicina veterinária), ficamos felizes em poder atuar diretamente no SUS, reforçando a importância do médico veterinário na saúde única, foi um momento oportuno para exercitar alguns conceitos que aprendemos durante a graduação e ver como era a funcionalidade do nosso sistema de saúde na prática.”
Já no âmbito pessoal, Gabriela conta que se sentiu extremamente acolhida por toda a equipe do hospital e pôde vivenciar ’a empatia, valorização da vida e comunicação ativa’. “Muitos pacientes e seus familiares passavam por momentos de vulnerabilidade e é papel do profissional de saúde acolhê-los e validar as suas necessidades.”
O professor da FMVZ-USP responsável pela idealização da parceria, André Zoppa, reforça a importância de projetos como esse e diz que pretende mantê-lo para além da pandemia: “Geraram um relacionamento profissional entre os médicos veterinários e os médicos do HU muito interessante e profícuo, sendo que projetos futuros já estão sendo analisados e elaborados. E isso graças ao empenho dos Médicos Veterinários Residentes, e a hospitalidade, generosidade, companheirismo e respeito profissional por parte dos profissionais do HU.”
Gabriela tem uma visão parecida com a do professor e acrescenta que a parceria foi importante para reafirmar a capacidade de atuação do médico veterinário frente à saúde humana, direta ou indiretamente, já que, segundo ela, a medicina veterinária é uma ciência onde a interdisciplinaridade é muito presente, logo os profissionais são muito bem preparados para lidar também com humanos. Além disso, os veterinários já lidam com as coronaviroses há muito tempo, mesmo antes do surto em humanos, podendo trazer algum tipo de contribuição nesse momento de pandemia.
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