Treinamento postural reduz risco de queda em pessoas com Parkinson

Portadores de Parkinson são severamente afetados por perturbações posturais no cotidiano. [Imagem: Shutterstock]
Portadores de Parkinson são severamente afetados por perturbações posturais no cotidiano. [Imagem: Shutterstock]

Perturbações externas, como escorregões, tropeços e colisões, ocorrem diariamente e podem levar pessoas a quedas imprevisíveis e inesperadas. O corpo humano reage a isso com movimentos que buscam impedir a queda, chamados de respostas posturais reativas. Uma pesquisa busca melhorar essas respostas em portadores de Parkinson por meio de simulações de perturbações posturais.

A mestranda Caroline Ribeiro de Souza, do Laboratório Sistemas Motores Humanos da Escola de Educação Física e Esporte da USP, desenvolveu um projeto que avaliou os efeitos do treinamento por perturbações posturais em indivíduos com bloqueio de marcha por doença de Parkinson (BMDP).

O sintoma e suas complicações

O bloqueio de marcha é um sintoma apresentado nos estágios mais avançados da doença de Parkinson, que gera ausência ou redução da progressão para frente dos pés apesar da intenção de andar: “A pessoa sente como se os pés estivessem colados no chão. Ela quer andar, dar um passo, mas não consegue mover os pés. Pode ocorrer quando ela vai começar a andar, quando está andando e precisa mudar a direção, ou em uma passagem estreita”, explica Caroline.

Esse sintoma pode aumentar o risco de queda nos portadores. Eles ainda parecem apresentar respostas posturais menos expressivas ou atrasadas, e o tratamento medicamentoso tem efeitos limitados para a melhora desse controle do equilíbrio. Isso motivou Caroline a procurar uma alternativa no treinamento por perturbações posturais.

O sistema de treinamento

Outros estudos da literatura já haviam trabalhado com esse tipo de treinamento para pessoas com Parkinson. As sessões, porém, eram únicas, a avaliação posterior tomava por base um intervalo curto e as perturbações eram pouco diversificadas, e, portanto, não tão imprevisíveis.

Sendo assim, a mestranda concebeu um treinamento com oito sessões de treinamento, partindo da hipótese de que pessoas com doença de Parkinson precisam de um tempo mais prolongado, para acumular ganhos motores gerados pelo treinamento. As sessões foram distribuídas entre quatro semanas. As avaliações foram feitas antes; 24 horas após a última sessão, para observar os efeitos imediatos; e 30 dias depois do término, para investigar a retenção desses efeitos.

Os participantes foram submetidos a perturbações aplicadas em uma plataforma móvel. Eles ficavam parados em cima da plataforma, e em determinado momento, sem aviso, ela se movia. Os deslocamentos do dispositivo eram variados, de translação ou rotação, realizados em diversas direções e velocidades, de forma a torná-los mais imprevisíveis. “O objetivo era que os participantes respondessem a essas perturbações tentando manter o equilíbrio, sem se segurar nas cordas de segurança ou precisar do suporte do membro da equipe que ficava ao lado deles”, explica Caroline.

Durante o mesmo período, foi realizado com outro grupo de participantes um treinamento de força, com exercícios em aparelhos de musculação. O propósito era mantê-los engajados em atividades físicas para depois comparar os ganhos de desempenho apresentados pelo outro grupo.

Os resultados mostraram que o treinamento baseado em perturbações reduziu o número de quedas e gerou respostas reativas mais estáveis, e muitos dos ganhos em respostas persistiram após um mês. E os benefícios não foram meramente físicos: “Na dimensão psicológica, o treinamento por perturbações posturais se mostrou efetivo em promover de forma persistente a redução do medo de quedas”, aponta Caroline.

Mesmo assim, o treinamento de força aplicado não ficou atrás em todos os aspectos: “Como importante implicação clínica, ambos os treinamentos parecem ter levado à redução de incidência de eventos de bloqueio de marcha no cotidiano dos participantes”, diz Caroline. Mas, de uma forma geral, o treinamento por perturbações posturais melhorou o controle dos movimentos compensatórios em indivíduos com BMDP, reduzindo o risco de queda.

Caroline afirma que a constatação da pesquisa contribui para o desenvolvimento de novas estratégias para a melhora das respostas posturais reativas: “A persistência e generalização dos ganhos do treinamento por perturbações sugerem sua efetividade como recurso terapêutico para prevenção de quedas no cotidiano”.

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