Oscar entregue para parasita marca mudança de tendência na premiação

Longa foi o primeiro em língua não-inglesa a vencer na categoria de melhor filme. Novidade representa mudança nos critérios da academia

Bong Joon-Ho se tornou o primeiro diretor de um filme não-inglês a vencer o Oscar de melhor filme. Foto: Flickr

No dia 9 de fevereiro de 2020, Bong Joon-Ho, cineasta coreano, revolucionou a história do Oscar. Parasita (Parasite, 2019), longa que dirigiu, conquistou quatro dos principais prêmios da Academia: Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Roteiro Original, Melhor Direção e, para fechar com chave de ouro, a produção foi a primeira em língua não-inglesa a conquistar a estatueta de Melhor Filme.

Há anos as escolhas da Academia sofrem severas críticas por parte dos mais diversos setores sociais. As principais delas apontam a tendência da premiação em laurear longas compostos por homens, brancos e de língua inglesa. Tal parcialidade é reconhecida como uma injustiça que impede filmes produzidos fora do eixo Europa-Estados Unidos de atingir o mérito.

O resultado dessa iniquidade de julgamento foi uma grande queda de audiência que atingiu as transmissões do Oscar nos últimos anos. Em 2018, o evento já havia registrado o pior número da história, com 26,5 milhões de telespectadores. Após pequena melhora no ano seguinte, quando cerca de 29,6 milhões acompanharam a premiação, o evento voltou a registrar um recorde negativo de adesão em 2020: 23,6 milhões.

Envolver novos mercados cinematográficos — automaticamente novos públicos — e, ao mesmo tempo, atender a demanda de grupos influentes, por meio de uma avaliação mais abrangente, deve ser a nova postura da Academia, aponta Roberto Franco Moreira, professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão com ênfase em Roteiro e Direção Cinematográficos: “Acho que [a premiação de Parasita] pode marcar uma tendência do Oscar se tornar um prêmio global. A audiência tem caído e não vejo outra solução senão esquentar a competição”.

Bong Joon-Ho se tornou o primeiro diretor de um filme não-inglês a vencer o Oscar de melhor filme. Foto: Flickr

O Oscar precisou chegar à sua nonagésima segunda premiação para contemplar um longa de língua não-inglesa. O dado fala por si só e deixa claro a existência de algum tipo de parcialidade. “Inúmeras obras [de língua não-inglesa] poderiam ter alcançado antes tal distinção. Muitas vezes o Oscar de melhor filme estrangeiro premiou filmes melhores que os americanos”, comenta Roberto. 

Um dos trunfos daqueles que defendem as escolhas da Academia é apontar o grande investimento envolvido nos mercados cinematográficos europeu e norte-americano como razão das preferências. O professor Roberto Moreira, por outro lado, acredita que a explicação é “mais simples”: “O cinema americano é global e por isso a cerimônia mobilizava o mundo. O que Parasita marca é a ascensão de novas cinematografias nesse mercado global e a premiação tendo que reconhecer isso, sob risco de perder legitimidade e público”.

A esperança geral é de que, após a conquista de Bong Joon-Ho, a cerimônia passe a abrir os olhos definitivamente à outras partes do mundo, inclusive incentivando a produção de outros mercados. Roberto acredita que sim, “a hegemonia americana no mercado mundial tende a ser ameaçada”, porém pontua que “é a mudança no mercado que altera a premiação e não o contrário”.

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