Nota de R$200,00 é menos polêmica do que parece

Rodrigo De Losso esclarece dúvidas sobre a nota de R$200

Pandemia gerou aumento na demanda de papel moeda. Foto: Banco Central do Brasil

O Banco Central afirma que a pandemia, especialmente devido ao auxílio emergencial, exigiu uma demanda maior por circulação de cédulas no país. De acordo com o procurador-geral do BC, Cristiano Cozer, a demanda por papel moeda entre agosto e setembro é estimada em R$105,9 bilhões e sem a produção da nota de R$200 este montante seria inviável de ser alcançado.

Desde o comunicado oficial de sua produção, a nota é alvo de vários questionamentos e polêmicas entre a população. O professor Rodrigo De Losso, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA-USP) foi entrevistado com o objetivo de se promover maior esclarecimento a respeito do tema.

Qual é a importância do dinheiro físico?

Rodrigo De Losso explica que “a população bancarizada no Brasil ainda é relativamente baixa e concentrada nas regiões mais desenvolvidas” e, ao que parece, as pessoas que dependem do auxílio emergencial em maioria não possuem cartão de crédito ou débito. “Logo, é natural que aumente a demanda por papel moeda”.

Além disso, o dinheiro físico permite que as pessoas retenham em seu poder suas rendas. “O confinamento existe para as pessoas não se aglomerarem, inclusive em banco. Logo, parece-me uma resposta natural demandar mais papel moeda para manter em casa, pois isso evita frequentes saídas ao caixa ou ao banco, contribuindo para evitar o contágio ou ser contaminado”.

A produção de mais papel moeda pode aumentar a lavagem de dinheiro?

O fato do dinheiro físico não ser rastreável, levantou uma série de discussões sobre a credibilidade de se aumentar a circulação do papel moeda e se isso poderia facilitar a ocultação e lavagem de dinheiro. Todavia, o economista afirma:

Quanto a lavagem de dinheiro, é difícil dizer como poderia haver um incremento dos incentivos. Teria que haver um incremento no crime oriundo da expansão de papel moeda. Se há, não é muito evidente. Não vejo como a expansão de transações em moeda possa gerar mais lavagem de dinheiro ou ocultação de dinheiro diretamente. A lavagem de dinheiro ocorre por meio de atividades lícitas, de modo que continuará ser assim.

É um gasto prejudicial para a União?

O governo federal, desde o início de 2020, alega apresentar limitação orçamental para combater a pandemia com maior eficiência. Para a produção da nota de R$200 (em conjunto com novas notas de R$100) o Banco Central anunciou um gasto de R$ 113,8 milhões.

O número visto fora de contexto parece ser um grande gasto, contraditório ao momento de crise. Mas a respeito disso, De Losso explica: “O orçamento para imprimir mais moeda é absolutamente insignificante ante o orçamento total do governo na casa dos trilhões de reais. Em resumo, a impressão de moeda é virtualmente grátis”.

E como fica a inflação?

O grande receio em relação à produção da nota de R$200,00 é se ela elevará a inflação. Com a pandêmia os preços estão aumentando e os efeitos negativos disso já afetam a alimentação dos brasileiros, basta olhar o preço do óleo e do arroz. Em um contexto tão incerto, o medo em relação a inflação é totalmente válido.

De Losso, porém, afirma: “Se o BC está substituindo 4 de R$ 50 por uma de R$ 200, não tem efeito inflacionário algum. Se ele está inflando a economia com mais moeda, poderá haver um efeito inflacionário sim, porém, ao que parece, a demanda está tão deprimida que esse possível efeito inflacionário tem-se dissipado no curto prazo”.

O economista defende que talvez a inflação ocorra caso haja uma recuperação econômica no futuro. E adverte que o maior problema atual é fiscal. “O Governo não tem conseguido se financiar emitindo títulos de prazo longo ou lhe é exigido uma taxa maior nos prazos mais longos. Logo, há problemas importantes à frente oriundos do desequilíbrio fiscal. Quando se materializarem, aí sim a inflação passará a ser um grande problema”.

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