Arquipélago de Alcatrazes serve como infantário para espécies de raias e tubarões

Pesquisa aponta como área funciona para espécies de raias e tubarões

Identificação de raias em Alcatrazes. Foto de Mariana de Almeida Borsari Ramos

Um dos maiores Refúgios da Vida Silvestre (REVIS) da costa brasileira, Alcatrazes tem papel fundamental para raias e tubarões presentes no litoral sul e sudeste do país. Além de servir como habitat fixo de algumas espécies, o arquipélago ainda serve como ponto de passagem, local de reprodução e infantário para 16 espécies identificadas na região.

Analisando dados obtidos entre 2011 e 2019, a pesquisadora do Instituto Oceanográfico da USP Thamíris Karlovic chegou a importantes conclusões quanto aos fatores que afetam a abundância dessas espécies na região do arquipélago. Além disso, dados os padrões de diversidade observados, ela pôde compreender como a área é utilizada pelas espécies identificadas e a importância da unidade de conservação.

Com isso, Thamíris afirma que é possível entender como essa área, recentemente transformada em REVIS, funciona para as raias e tubarões e a partir disso fornecer informações fundamentais para a tomada de decisões sobre as ações de preservação dos órgãos gestores.

A pesquisadora explica que seu estudo pode ser dividido em quatro etapas. Na primeira, ela buscou identificar, através de análises não letais, quais espécies estavam presentes no arquipélago, quais as proporções de machos e fêmeas e os números de jovens e adultos. Em um segundo momento, verificou os padrões de diversidades, ou seja, se os números eram significativos se comparados aos de outras áreas, além de buscar entender como ocorre a distribuição das espécies na área – se estão concentradas em pontos específicos ou distribuídas aleatoriamente e se isso mudou ao longo dos anos.

Por fim, de acordo com ela, a pesquisa procurou entender quais atividades cada uma das espécies realiza naquele ecossistema e quais variáveis ambientais afetam a abundância dessas espécies (temperatura, salinidade, profundidade, massas de água) – o que foi feito através da categorização das espécies em grupos. 

Classificação dos indivíduos de raias e tubarões em adultos e jovens para as respectivas famílias. Imagem Thamíris Karlovic

Essa divisão levou em conta dois fatores: as estratégias de reprodução, pois algumas espécies põem ovos, enquanto outras geram embriões dentro do corpo, podendo alimentá-los com uma espécie de leite uterino, além de outras formas. O segundo foi pelas estratégias de alimentação, ou seja, o que cada uma das espécies come e de que forma obtém esses alimentos.

Ela afirma que, ao concluir a pesquisa, foi possível determinar que as variáveis que mais influenciaram abundância foram temperatura e presença da Água Central Atlântico Sul (ACAS). Essa é uma massa de água que invade a costa sudeste na primavera e permanece até o verão e que altera as propriedades químico físicas da água.A ACAS reduz a temperatura da água, principalmente a de fundo, fertiliza o ambiente, trazendo novos nutrientes e matérias orgânicas, além de servir como ponte invisível para outras espécies expandirem sua distribuição.

Além disso, os resultados permitiram à pesquisadora entender que a área não é utilizada da mesma forma por todas as espécies. “Em geral, há predominância de indivíduos adultos, mas para algumas raias e tubarões, a região de Alcatrazes serve de infantário – local onde os jovens crescem e se desenvolvem”.

Thamíris afirma que “os padrões de diversidades são muito significativos em comparação à outras áreas. São 16 espécies demersais (animais que vivem a maior parte do tempo no fundo, próximo às rochas ou areia) identificadas nessa pesquisa. Se pensarmos que, em diversos trabalhos, foram identificadas 30 espécies (demersais ou não), reportadas entre o Uruguai e o Rio de Janeiro, vamos concluir que mais de 50% estão presentes na região. E isso olhando apenas para raias e tubarões”.

A partir dessa compreensão, é possível fornecer informações para a REVIS e para agências de preservação, que vão ajudar a delimitar as ações para a preservar essas espécies. 

“Acho que é importante dizer que temos uma biodiversidade significativa de espécies de raias e tubarões, das quais a gente conhece muito pouco, e com o passar do tempo estamos perdendo a oportunidade de conhecê-las melhor e poder fazer algo para evitar que elas desapareçam”.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*