Baía do Araçá conecta biota de manguezais da costa brasileira

Ligação é mais forte com manguezais do norte e nordeste

Caranguejo ermitão (Clibanarius vittatus). Foto de Andrea Westmoreland

Estudo da pesquisadora Paola Sanches demonstrou que a Baía do Araçá é fundamental para a conexão da biota entre Manguezais da costa brasileira – de pelo menos duas espécies de crustáceos, que foram o foco do estudo. Resultados indicam que vários outros animais podem depender da região.

O estudo é importante ainda por lançar bases para pesquisas futuras sobre diversos temas, tais como: impactos em outros organismos; influência da circulação de navios; e buscas por explicações dos motivos para a conexão ser mais forte ou mais fraca entre determinadas regiões.

Em sua tese de doutorado, Paola Sanches, do Instituto Oceanográfico, coletou amostras de DNA dos caranguejos ermitões e de crustáceos em vários manguezais do País, partindo de Laguna, em Santa Catarina e indo até Bragança, no Pará. 

Os exames mostraram que existe uma forte conexão genética entre populações de crustáceos que vivem na Baía do Araçá com aquelas que vivem nos manguezais no norte e nordeste do País. Existem também uma ligação entre aquelas que vivem na região Sul com as de Araçá.

No entanto, o ponto mais forte da pesquisa é que as populações do Sul e das regiões Norte e Nordeste têm pouca relação genética entre si, o que demonstra que a Baía do Araçá é um ponto central para as espécies analisadas.

A pesquisa lança bases para estudos futuros que busquem identificar as causas dessa conexão mais forte entre os manguezais do norte e nordeste com o da Baía do Araçá, pois o estudo desenvolvido por Paola buscava apenas identificar se existia ou não a conectividade e onde ela era mais robusta.

No entanto, ela indica três hipóteses para essa relação entre São Sebastião e o litoral mais próximo da linha do Equador: 

A explicação mais provável seria a conexão estabelecida pela última era glacial, algo que já foi comprovado em estudos semelhantes para outras regiões do País.

Uma segunda razão seria a forma como as correntes marítimas interferem na dispersão dessas espécies durante o período reprodutivo, algo que também tem validade científica, algo que a pesquisadora pensa em explorar em futuras análises.

Por fim, existe uma outra possibilidade que demandaria mais estudos, que é a de que os navios que circulam na região estejam ajudando nessa conectividade. Isso pode acontecer porque as embarcações utilizam a água do mar para acrescentar e distribuir melhor o peso, inundando compartimentos próprios para isso, algo que ajuda no nivelamento e equilibrar dos navios – e que tem o transporte de organismos como consequência secundária.

Impacto da ampliação do porto

O porto de São Sebastião fica ao lado da Baía do Araçá. Nos últimos anos grupos que lutam pela preservação da área estão batalhando para impedir que seja construída uma nova área para estocagem de contêineres, que reduziria a área da Baía em cerca de 30%.

Para analisar os efeitos da perda dessa área sobre as populações dos crustáceos analisados, a pesquisadora Paola Sanches fez um estudo preliminar que simula a conectividade dos manguezais sem a Baía do Araçá.

Os resultados, segundo ela, não podem ser considerados definitivos, pois carecem de mais análises, mas a princípio, indicam que haveria perda significativa na conexão da biota dos manguezais do Sul com os do Norte e Nordeste.

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