Pesquisa aponta padrões de diversidade em família de lagartos

Espécies divergem em características que definem sua estrutura genética e molecular

Lagarto da família Tropiduridae (Imagem: André Luiz Carvalho)

No estudo realizado no Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da USP (IB), o pós-doutorando André Luiz Carvalho, pesquisador do Laboratório de Herpetologia, analisa répteis e anfíbios neotropicais, mais particularmente lagartos. Em seus últimos trabalhos, tem estudado mais especificamente um grupo de lagartos que está incluso na família Tropiduridae. 

Dentro dessa família existe um vasto número de espécies, cerca de 70 restritas à América do Sul, com grupos estritamente associados a ambientes abertos, como Cerrado e Caatinga, ou ambientes florestais, como a Floresta Amazônica. A partir dessa dicotomia clara na ecologia desse grupo de lagartos, o pesquisador aborda como principal ponto de discussão em seus estudos os padrões de diversidade das espécies na região neotropical, em especial, na América do Sul.

Através dessas constatações, Carvalho consegue reunir informações para descobrir novas espécies, investigar padrões genéticos e moleculares. Além disso, há uma busca para entender como esses aspectos evoluíram ao longo do tempo.

Descrição de espécies

Associado ao trabalho de pesquisa do pós-doutorando, a descrição de novas espécies é um fator relevante em seus estudos. Ao focar-se em estudar gênero Tropidurus na América do Sul, o pesquisador, em conjunto com colegas do laboratório, conseguiu descrever três novas espécies que vivem no Paraguai, além de ter feito descobertas relativas a uma espécie da Caatinga baiana Tropidurus sertanejo cujo nome é uma homenagem ao povo do sertão.

Na Bolívia, o trabalho do grupo levou a descoberta de uma nova espécie chamada Tropidurus azurduy, em homenagem a Juana Azurduy, uma das líderes do processo de independência da região que corresponde hoje à Bolívia.

Esse ponto de nomenclatura é um fator importante nos trabalhos do pesquisador. André procura nomear as espécies que descobre ou descreve com nomes de mulheres latino-americanas que tiveram um grande impacto social ou político na história dos países em que os lagartos são encontrados. 

Um exemplo desse padrão, além da homenagem à Azurduy, é a descoberta de uma espécie do grupo Tropidurus, originária do Brasil, que irá ser nomeada em homenagem à Marielle Franco. O pós-doutorando acredita que esse padrão é importante para valorizar esses nomes, que por muitas vezes são esquecidos no meio acadêmico.

Procedimentos da pesquisa

O pesquisador salienta que o trabalho com esses lagartos surgiu em seu doutorado, quando ainda atuava ligado a um programa de estágio do Museu de História Natural de Nova Iorque. Hoje, a pesquisa ligada ao IB continua e consiste em “amostrar [encontrar novas espécies e conseguir identificar suas características] os lagartos em diferentes regiões, sendo que novas espécies foram descobertas a partir disso. Depois foi iniciado o processo de descrição dessas espécies e esses trabalhos vêm sendo progressivamente publicados”, explica o pesquisador.

Além disso, o propósito que leva ao seguimento dessa pesquisa é trabalhar com uma amostragem ampla dos genomas dos lagartos. Ao mesmo tempo, busca-se começar um movimento que eleve esse grupo a um patamar de modelo para estudos evolutivos na América do Sul.

Ainda nessa perspectiva, Carvalho acredita que esse estudo de lagartos possui as características necessárias para atingir esse objetivo. “Analisando grupos suficientemente bem estudados em termos genéticos, sistemáticos, morfológicos, fisiológicos, ecológicos e assim por diante, seremos capazes de juntar todas as peças do quebra-cabeça e entender como a evolução moldou ao longo do tempo a biodiversidade na América do Sul”, explica. “Esse é o grande foco do trabalho”.

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