Presença humana em rios, lagos e mares pode estimular a preservação ambiental

As pessoas se aproximam da água quando se conscientizam de sua importância

(Foto: Divulgação)

A falta de saneamento básico é um problema que afeta cerca de 47,6% dos brasileiros de acordo com uma pesquisa de 2019 feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O dado é alarmante porque o esgoto é um dos principais poluentes da água.

Rios, lagos e mares estão sendo deteriorados. Para reverter esse cenário de deterioração das águas, a relação dos seres humanos com esses espaços precisa ser reconstruída de acordo com Michelle Benedet — que estudou o assunto em sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. 

Ao contrário do que o senso comum dissemina, a pesquisadora explica que a presença humana pode colaborar para a preservação da natureza em alguns casos, por exemplo, quando não há espécies em extinção no local. “Permitir que as pessoas se apropriem das frentes de água pode elevar positivamente as condições ambientais, na medida que elas vão se conscientizar da importância de manter esses locais preservados”, afirma. 

De acordo com a arquiteta, é importante analisar cada caso individualmente. Assim, ela conta que dotar uma área com infraestrutura e equipamentos urbanos pode ser adequado em casos em que o rio já está ocupado e manter as pessoas ali é uma necessidade. 

A questão é que a tese de Michelle defende que profissionais busquem condições facilitadoras de atitudes e pensamentos positivos naqueles que frequentam ambientes com frentes de água. Os espaços de lazer podem proporcionar isso, mas muitas vezes nas cidades eles são escassos. Sendo assim, a região dos corpos d’água surgem como alternativas, já que são espaços disponíveis graças às leis ambientais. A arquiteta ainda ressalta que existem formas de conectar as pessoas com um lugar sem prejudicar sua fauna e flora.

Em seu trabalho, a pesquisadora mostra que isso acontece na cidade de Afuá, localizada no Pará. O município foi construído sobre a água, em um desnível de 1,5 metro do terreno, permitindo que a cidade acompanhe as mudanças da maré. Além disso, espaços de convivência como praças foram construídos próximos à água, fortalecendo o convívio entre as pessoas — que já é intenso porque é proibido o uso de motos e carros. Michelle destaca, porém, que Afuá ainda enfrenta alguns problemas de saneamento básico e descarte de lixo.

Michelle também faz questão de fazer outra ressalva: “A urbanidade é algo que deveria ser almejado em todos os espaços das cidades”. A arquiteta acredita que isso não foi uma prioridade no passado, mas a situação está mudando e as agendas políticas dos países desenvolvidos são evidências. Há 20 anos, com recursos da União Europeia, a cidade de Vila Franca de Xira (Portugal) vem investindo na requalificação de sua frente de água. “Logo isso deve ser alcançado no Brasil também”, comenta.

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