Ensino de ciência e tecnologia deve considerar temática do risco

Reprodução: Freepik

Um estudo sobre a educação científica no Brasil e no mundo, com enfoque na temática do risco dentro dos currículos das escolas básicas. Esse é o ponto de partida da pesquisa Educação científica na Sociedade de Risco, do professor Maurício Pietrocola, da Faculdade de Educação (FE) da USP. Com início em janeiro e previsão de encerramento no mês de dezembro, os estudos de Pietrocola fazem parte do Projeto Ano Sabático, do Instituto de Estudo Avançados (IEA) da USP.

Para compreender a temática do risco e sua relação com o ensino da ciência e das tecnológicas é necessário entender o conceito de Sociedade de Risco, desenvolvido pelo sociólogo Ulrich Beck. Para o pensador, a Sociedade de Risco é uma característica da modernidade tardia – período atual, em contraponto à modernidade do início das revoluções industriais.

Beck considera que a ciência e as tecnologias surgem para libertar a sociedade de riscos “primitivos”, como a fome. No entanto, esse processo resulta na criação de outros riscos, inclusive com a ordem de grandeza do problema inicial. Para esse risco produzido a partir da ciência, dá-se o nome de risco manufaturado. A compreensão desse efeito colateral provocado pela ação humana por meio da ciência capta a noção de Sociedade de Risco.

Há também a ideia do compartilhamento do risco. Pietrocola esclarece que na modernidade tardia os impactos gerados em certa localidade serão sentidos em outras regiões do planeta. A invenção do automóvel ilustra bem os conceitos. O carro reduz a distância entre dois pontos, mas, ao mesmo tempo, emite Gases do Efeito Estufa. Ou seja, há concomitantemente um risco manufaturado e seu compartilhamento.

Nas escolas

Educação científica na Sociedade de Risco traz como metas o aprofundamento do entendimento sobre a Sociedade de Risco, a análise da forma como a temática risco aparece em currículos internacionais, o desenvolvimento de cenário sobre o risco para atividades na escola básica, a avaliação de atividades de ensino sobre o risco e tomada de decisões com grupo de professores da escola básica e, por fim, a realização de seminário e publicações.

“Quando iniciei a pesquisa, o raciocínio que elaborei foi: ‘Quanto que a educação científica que oferecemos aos alunos lida com a questão da Sociedade de Risco?”, expõe o professor da FE. Pietrocola esclarece que o ensino da ciência desde a década de 1990 é norteado pelo conceito de educação para cidadania. Isto é, refletir sobre a importância do papel da ciência na sociedade atual, pois sem noções básicas de matemática, física, biologia ou química é impossível exercer a cidadania em sua totalidade.

Para Pietrocola, essa metodologia de ensino parte da perspectiva da modernidade anterior, ou primeira, não considerando os riscos manufaturados intrínsecos à ciência. Ao analisar os currículos internacionais, o professor não encontrou nenhum país que trabalhe com o risco manufatura na educação básica. “O currículo americano, uma versão do inglês e o australiano trabalham com a noção do risco, mas não do manufaturado e sim do risco da modernidade primeira”, diz.

O docente considera fundamental trabalhar com os alunos essa questão dialética entre solução científica versus risco potencial. Para isso, ele chama a atenção para dois aspectos importantes que devem ser incorporados pelos educadores: tomada de consciência, ou seja, entender o que está em jogo, e tomada de decisão, saber mensurar o impacto do risco.

Por fim, Maurício Pietrocola revela que Educação científica na Sociedade de Risco é o embrião de projeto maior que será iniciado em 2020.

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