Produtos químicos não solucionam problemas na qualidade das águas de reservatórios paulistas

Represa Billings, importante reservatório paulista (Imagem: Paulo Pinto/Fotos Públicas)

A qualidade da água que será utilizada para consumo da população paulista é mensurada e trabalhada por meio de ações de órgãos como a Sabesp, que é uma das entidades responsáveis pela fiscalização e tratamento das águas do estado de São Paulo. Um problema a ser combatido pela empresa, a fim de que se atinja um bom nível na qualidade das águas brutas gerenciadas por ela é um processo gerado pelo lançamento de nitrogênio e fósforo nos rios e reservatórios, chamado de eutrofização. Isso causa diversos problemas que poderão tornar a água inadequada para o consumo humano. Este lançamento normalmente é decorrente da entrada de esgoto sem tratamento, in natura.

Porém, a forma como a empresa cuida de alguns mananciais, como os reservatórios Guarapiranga e o braço Rio Grande da Billings, segundo o professor Marcelo Pompêo, do Instituto de Biociências da USP, suscita dúvidas em relação ao surgimento de novas problemáticas a partir das ações da empresa. Nestes reservatórios, mas também em outros, a Sabesp lança mão de produtos químicos para interromper a reprodução de microorganismos que atuam na eutrofização, em especial das algas. 

Nesse procedimento, são adicionadas na água substâncias como a água oxigenada peróxido de hidrogênio e o sulfato de cobre pentahidratado. Ambos são conhecidos internacionalmente como algicidas e, principalmente, o sulfato de cobre foi muito empregado no passado em vários países para o controle do crescimento de algas.

Diante dessa realidade, Pompêo trata de analisar por meio de uma rede de estudos, como essas ações de lançamento dos algicidas em importantíssimos reservatórios para a região da cidade de São Paulo coloca em risco ou não o consumo de água para a população. 

Além disso, Pompêo verifica os custos financeiros inseridos nessa tentativa de resolução do tratamento de águas, e abre uma discussão sobre outras possíveis alternativas que solucionem a questão da eutrofização em reservatórios e não prejudique os serviços ecossistêmicos oferecidos por essas massas de águas.

Fonte dos problemas

Em seus estudos, o professor abrange alguns dos principais reservatórios que localizam-se no estado de São Paulo. São eles: Billings, Guarapiranga, Paiva Castro, entre outros, que abastecem a população paulistana. Nesses reservatórios, a Sabesp adota a medida de lançamento desses algicidas. Para se ter ideia, apenas para o reservatórios Guarapiranga é possível a aplicação de 400 toneladas de sulfato de cobre e de 600 toneladas de peróxido de hidrogênio, ambos para o período de um único ano.

Toxicidade dos sedimentos no reservatório Paiva Castro (Imagem: Philipe Leal)

A necessidade desses compostos acontece quando o sistema de saneamento básico é falho e permite que cheguem aos reservatórios grandes quantidades de fósforo e nitrogênio, elementos químicos que potencializam o crescimento das algas, em especial.

Nestes reservatórios, a ocorrência da eutrofização pode ser observada pelo mau-cheiro e também crescimento exacerbado de plantas aquáticas e algas. Para plantas aquáticas, esse crescimento pode chegar a níveis de aumento de 10% ao dia, algo que traz problemas como a inviabilização da passagem de embarcações pelo curso dos reservatórios, por exemplo.

Possível solução para a eutrofização

A alternativa investigada por Pompêo para essa medida seria o investimento financeiro em uma estação de tratamento de esgotos com capacidade para tratar o esgoto gerado por uma população de um milhão de pessoas, particularmente para o reservatório Guarapiranga.

A conclusão encontrada pelo professor é “os custos para essas duas formas de tratamento se equivalem. Ao longo de 40 anos os custos das aplicações de algicidas e o processo de construção e operação de uma estação de tratamento de esgoto pelo mesmo período possuem um gasto financeiro equivalente”.

Ao analisar a represa Guarapiranga, os estudos demonstram que na situação atual os sedimentos apresentam 80% de sua área superficial com níveis preocupantes de cobre. Deste modo, é premente que se altera o modo como hoje se pratica o manejo de alguns dos reservatórios paulistas, reduzindo a zero as aplicações de algicidas, em especial do sulfato de cobre.

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