Microrganismo é um bom candidato na prevenção de atrofia muscular

Imagem ilustrando partículas de adeno associado no combate a gripe. | Foto: Image courtesy of Peter Bell/University of Pennsylvania

Um microrganismo criado, em laboratório e que não transmite doenças, teria potencial para levar aos tecidos musculares do corpo humano a expressão gênica capaz de aumentar a massa e a força muscular. O microRNA29-c seria o responsável por esse processo de fortalecimento preveniria o risco de atrofia. Estudos de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP tentam dominar o método para levar adiante uma outra técnica patenteada por eles e com grande sucesso em camundongos.

No estudo anterior, o microRNA29-c era introduzido em um vetor – o plasmídeo. Ao ser colocado na região da tíbia, as células musculares captavam a presença e, junto a uma sessão de exposição a eletricidade, elas começavam a expressar o fragmento de RNA continuamente, levando a um aumento de 40℅ na força e no tamanho do músculo esquelético.

Porém, esses experimentos foram feitos em modelos animais. Seria necessária uma reformulação para o processo avançar em seres humanos. William Silva, pós-doutorando no Instituto de Ciências Biomédicas, resolveu elaborar pesquisas que utilizassem o adenovírus associado como esse transportador.

O “mensageiro” nessa nova iniciativa seria o adenovírus associado, um tipo de vírus que não causa problemas ao ser humano. Ele faria a entrega gênica às diferentes musculaturas que necessitam de regressão da sua perda de massa e força. Esse é justamente um diferencial: a possibilidade de se trabalhar com qualquer região muscular do corpo, através do adenovírus na corrente sanguínea.

“Têm vários tipos deles: o retrovírus que é o tipo da gripe, tem o adenovírus e tem ainda o adeno associado, pois ele precisa do adenovírus pra existir. Esse adeno associado é eficiente em entregas específicas para músculos específicos e o mais interessante é que ainda não tem doença humana relacionada a ele”, conta William, que desenvolve as pesquisas no Laboratório de Plasticidade Muscular.

Representação dos microrganismos citados e que podem atuar no corpo humano | Foto: Carlos Menck e Armando Ventura para Revista USP, n.75, p. 50-61

O projeto ainda está em fase de elaboração. É preciso construir o adenovírus associado em laboratório. E isso é um processo um tanto quanto complexo. “Tem que ter culturas de células. Coloca-se três plasmídeos dentro das células, com esses plasmídeos um vírus vai sendo construído. Depois, deve purificá-lo, colocar em centrífugas com velocidades brutais. Ainda tem que isolar e haver uma quantidade suficiente para uma injeção”, reforça o coordenador do laboratório, Anselmo Moriscot.

A técnica anterior levou uma patente na Agência USP de Inovação (Auspin). Agora, a estimativa é que as células dos músculos também produziriam a sequência capaz de causar hipertrofia de maneira constante. “No processo de eletro apuração e plasmídeo, coloca-se num músculo específico, que no caso, foi o tibial anterior. No caso do adeno associado, como ele reconhece todo o sistema muscular, pode fazer uma entrega sistêmica. Na teoria, boa parte do tecido muscular vai receber e superexpressar esse microRNA29-c”, complementa William.

É tecnicamente difícil e caro fazer tal pesquisa. Mas pacientes com perda muscular por conta de algum câncer que, como consequência, perdem massa muscular e acaba por agravar o quadro seriam beneficiadas com a pesquisa. Também há as pessoas que fazem uso crônico de medicamentos que têm corticóides. Segundo os pesquisadores, um dos principais efeitos do consumo desses remédios é a atrofia muscular.

“Poderíamos pular todo o processo e, em vez de produzir, comprar quantidades de grandezas para nosso estudo. Mas é muito caro. Mas, uma vez que tem isso padronizado em um laboratório, consegue ter muito mais liberdade, consegue escalonar melhor. É uma coisa que é boa dominar a tecnologia disso”, conta William ao se referir a criação de quantidades de grandezas de partículas de plasmídeos para a criação de injeções para grupos de animais na realização dos testes.

Mesmo o professor Anselmo Moriscot e o pós-doutorando William Silva receberam recentemente a patente com técnica de eletrotransferência com o estudo com plasmídeo, ambos afirmam que há muito a se questionar e explorar. “Quanto mais avançamos, mais tem a se descobrir”, conta Moriscot. Já William ressalta que “mesmo empresas que oferecem terapias gênicas, com os medicamentos químicos se degradam no corpo, o grande desafio ainda é: como entregar um ácido nucleico em células dos tecidos alvos?”.

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