Relação entre sexualização precoce e abuso de crianças

Os deveres da sociedade para com as crianças e sua exposição precoce a padrões de beleza que as forçam a perder sua infância

Banco de imagens - programa do Silvio Santos

Em seu programa Silvio Santos, tradicional apresentador da televisão brasileira, estampou as manchetes por causa de um concurso de beleza infantil. Nele, foram expostas meninas menores de dez anos e foi julgado quem teria (SIC) as coxas mais bonitas, o rosto mais bonito, o colo mais bonito e o conjunto mais bonito. A revolta ocorreu por setores de defesa dos direitos das crianças e por psiquiatras.

Estatuto da Criança e do Adolescente .Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

O professor colaborador do Departamento de Psiquiatria da USP, Táki Cordás, médico supervisor coordenador geral do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (AMBULIM) e coordenador do Ambulatório dos Transtornos do Impulso(AMITI) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP divulgou uma nota de repúdio sobre o ocorrido. “Os comentários do Sr. Silvio Santos sobre a beleza das pernas e do colo das meninas, submetendo-as à escrutínio público, foi, sem sombra de dúvida, aviltante”, comenta.

Estatuto da Criança e do Adolescente .Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

“Primeiro, de uma maneira geral, qualquer concurso de miss, que explore padrões de beleza é excludente para a grande maioria das mulheres”. Segundo ele, foi feito um estudo em que mulheres avaliavam seus corpos antes de serem expostas a imagens de mulheres com corpos tidos como ideais. Em seguida, deveriam se autoavaliar novamente. Invariavelmente, a segunda nota que davam para si era menor do que a primeira. Essa exposição a um padrão alheio ao do próprio corpo conduz a uma instantânea baixa de autoestima. 

Estatuto da Criança e do Adolescente .Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

Imagem: banco de imagens Freepik

Quando essa exposição acontece com crianças, elas acabam sendo mais propensas a desenvolver transtornos alimentares, como compulsão (comer demais ou de menos), bulimia e entrar em dietas precoces. Segundo o professor, tal exposição a uma pressão estética altera as funções cerebrais logo cedo. ”Isso acaba alterando a relação entre hipotálamo, hipófise e adrenal, o circuito do stress”, afirma.

Um desbalanceamento nesse circuito provoca, em longo prazo, outros distúrbios: depressão, bipolaridade, síndrome do pânico e borderline (também chamada de personalidade limítrofe, é parecida com a bipolaridade, caracterizada por comportamentos impulsivos e mudanças súbitas de humor). 

Estatuto da Criança e do Adolescente .Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

A sexualização infantil leva à mudança de comportamentos, não apenas da parte da criança, mas da sociedade. Ao colocar o corpo da criança como objeto desejado, abre-se um espaço para o abuso destas crianças. O professor também afirma: “Ao expor o corpo infantil, abre-se uma prerrogativa para o assédio e abuso de crianças”. 

Estatuto da Criança e do Adolescente .Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

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