Larvas de mosca varejeira são alvo de estudo para produção de cicatrizantes

Pesquisa conjunta entre USP e Unicamp busca descobrir substâncias produzidas por larvas para criação de remédios que auxiliam na cicatrização.

Mosca Varejeira. Imagem: Reprodução

As larvas de moscas varejeiras começam a ser estudadas para criação de cicatrizantes. Devido ao hábito de se alimentar de carne em decomposição, esse inseto é alvo de pesquisas como um possível produtor de substâncias que auxiliam na cicatrização. A professora Tatiana Torres é uma das pesquisadoras que auxilia nesses estudos e seu alvo de estudo é a evolução e o hábito alimentar dessas espécies.

Segundo Tatiana, o estudo genético, evolutivo e dos hábitos alimentares é fundamental para entender o porquê de algumas larvas preferirem carne em decomposição e outras o tecido vivo. Um bom exemplo são as moscas varejeiras, pois existem espécies que se alimentam de tecido vivo, em decomposição e de ambos. O objetivo é entender o que leva cada uma a ter tais hábitos: “O que nós queremos saber é porque só a mosca da bicheira causa miíase, que é essa infestação, em humanos. Porque duas espécies do mesmo gênero, que são tão parecidas, possuem larvas que se alimentam de coisas diferentes.”, como explica a pesquisadora do Instituto de Biociências da USP.

Para descobrir exatamente do que cada espécie se alimenta, são realizados diversos testes, como explica a professora: “A primeira coisa que fazemos é ver se realmente a mosca prefere uma comida ou outra. Então nós colocamos elas com duas caixas: uma com a carne podre e outra com uma carne que simula o tecido vivo uma carne fresca, com sangue, com anticoagulante e quente. Nisso, medimos quantas vezes uma espécie escolhe um meio ou outro e quais escolhem exclusivamente um dos alimentos.”

O teste também é feito com as larvas. A prova ocorre de maneira semelhante: elas são colocadas nos dois tipos de ambiente, um que simula o tecido vivo e um em decomposição. As larvas que se alimentam exclusivamente de carne podre até chegam a fase de pupa, mas devido ao calor, não alcançam a fase adulta. Já quando os insetos parasitas são colocados no tecido em decomposição, esses nem chegam a sair dos ovos. 

Uma prática antiga é a terapia larval, que consiste em utilizar larvas como essas para, literalmente, comer os tecidos já necrosados, dessa forma evitando que a infecção se espalhe. O estudo feito pela professora Tatiana e sua orientanda Gisele Antoniazzi Cardoso do Instituto de Biociências da USP busca descobrir, através do código genético, que substâncias essas larvas podem produzir que auxiliarão no processo de cicatrização.

Larvas de mosca varejeira, utilizadas nos estudos da pesquisadora. Reprodução

Os estudos com o RNA das larvas e moscas também tem outro intuito. Para fazer a terapia larval é necessário descobrir quais espécies são exclusivamente necrófagas e, para isso, é necessário não só entender os hábitos alimentares das espécies, mas também descobrir quais processos evolutivos as levaram a possuir tais hábitos. Estudando a evolução das moscas, descobriu-se que inicialmente as espécies eram todas necrófagas, e a partir da mudança de comportamento das fêmeas, que começaram a botar seus ovos em meios vivos, mudou-se o hábito alimentar das larvas. Essa descoberta está relatada na tese de doutorado da orientanda. 

Feitas essas descobertas iniciais sobre evolução e hábitos alimentares, iniciou-se uma parceria com a professora Patrícia Tissen da Unicamp, que trabalha de maneira mais efetiva com a terapia larval. Enquanto pesquisadores da USP estudam todo o RNA e a evolução das moscas, em Campinas é feita a síntese desses estudos e onde eles são aplicados de maneira prática. O projeto ainda está no começo, mas a ideia é desenvolver cicatrizantes, anti-inflamatórios, entre outros fármacos, a partir das substâncias retiradas das larvas.

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