Radiação em tomografias pediátricas de pulmão e tireoide pode ser reduzida

Tomografias torácicas são as mais comuns em crianças [Imagem: Bio Imagem]

“A estimativa da dose de radiação utilizada em um exame onde há raio X é importante para calcular o risco associado ao procedimento”, explica Paulo Costa, pesquisador do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP). Otimizar estes exames é usar a menor dose de radiação possível para a melhor qualidade de imagem. O artigo produzido pelo pesquisador trata da diminuição da radiação em tomografias de tireoide e pulmão aplicadas a crianças.

Para a realização de tomografias, é usado um equipamento que emite raios X. Cada um dos materiais de que o corpo é feito absorve determinado nível de radiação, o qual é medido por detectores que giram ao redor da área a ser analisada. Por exemplo, na região torácica, constituída de ossos, carne e ar pulmonar, os ossos absorvem mais radiação que o ar. Esses dados são transformados em um mapa, que é usado pelo médico para diagnosticar doenças.

Existem atualmente três maneiras de se calcular a quantidade de radiação utilizada nesses processos. A primeira é por meio de simuladores de corpo — bonecos com órgãos e tecidos semelhantes aos de humanos — e a segunda faz uso de cadáveres, ambos associados a detectores. O terceiro método, chamado Monte Carlo, utiliza simulações computadorizadas de imagem, que estimam estes números. Este último pode “apenas fazer uma aproximação da dosagem, não é um cálculo como os dois primeiros”, diz o professor.

A pesquisa fez uso do primeiro método. “Utilizamos um simulador antropomórfico infantil de uma criança de cinco anos, associado a dosímetros termoluminescentes introduzidos no boneco. Então medimos a radiação em alguns órgãos de interesse, como pulmão e tireoide”, diz Costa. O pesquisador explica que a escolha dessas regiões se deve a hipersensibilidade da tireoide à radiação e ao fato de que procedimentos de tórax são um dos mais frequentes em crianças.

As técnicas de imagem foram então modificadas sob a supervisão de radiologistas com experiência em pediatria e a dose de radiação foi reduzida. “É um processo feito aos poucos, pois é preciso avaliar o ruído da imagem a cada etapa”, explica o pesquisador. Com o estabelecimento da nova dose, a medição feita na primeira fase foi repetida, e notou-se que a qualidade do diagnóstico foi mantida.

Dados da transmissão de radiação pelos tecidos do corpo são transformados em um mapa, que pode ser analisado por pediatras [Imagem: Bio Imagem]
Por que estudar redução de doses em imagens radiológicas pediátricas? 

Costa explica que existem diferenças na abordagem dada a pesquisas com fins pediátricos e tradicionais. “Crianças não são pequenos adultos”, explica o pesquisador. Para o procedimento de imagem, tratar a criança como um adulto pequeno leva a uma inadequação dos parâmetros associados a ele. “Você fica com imagens excessivamente boas a um custo de dose para o paciente”, diz. 

Outra questão que deve ser levada em consideração é a longevidade de crianças. A radiação, apesar de ter probabilidade baixíssima de ser causadora de doenças como câncer, tem um ciclo de vida muito longo. Ela permanece por muito tempo no organismo, o que faz com que uma criança tenha chances muito maiores de desenvolver essas doenças que um adulto.

Por isso, existem alguns princípios fundamentais que devem ser levados em consideração na realização de procedimentos em que há radiação. Um deles diz respeito à justificação: um exame radiológico em uma criança tem que ser bem justificado. “Ele deve ser a única maneira de fazer um diagnóstico, ou uma ferramenta complementar que realmente incorporará qualidade e informações à conduta terapêutica”, afirma Costa. 

Outro princípio trata da otimização. Já que o procedimento é necessário, ele deve ser feito com o melhor equilíbrio entre dose de radiação e qualidade da imagem. A pesquisa realizada trabalha no sentido de atender a esse princípio.

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