Análise do vírus da Chikungunya possibilita novos estudos e possíveis tratamentos

Novas informações sobre a interação entre o vírus e seu hospedeiro e podem ser essenciais para novas descobertas

Aedes aegypt, transmissor da chikungunya. Fonte: O Globo

A chikungunya, doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypt, tem entre seus principais sintomas a febre e a poliartrite ou poliartralgia – dor em diversas articulações do corpo. Este último sintoma pode tornar-se crônico e perdurar por anos nas pessoas infectadas.

A partir disso, um grupo de pesquisadores analisou amostras de sangue de pacientes infectados para tentar entender a cronicidade desse sintoma. “Um dos objetivos foi tentar prever quem desenvolveria a poliartralgia crônica após a infecção”, explica Helder Nakaya, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e orientador de Natália Baptista Cruz no projeto, que resultou em sua dissertação de mestrado.

Nakaya acrescenta que outro objetivo do trabalho foi tentar compreender o que essa infecção viral causa nas células do sistema imune das pessoas: “Ao entender quais são os genes envolvidos e quais são as vias envolvidas, é possível pensar em alvos para drogas e entender a patogênese do vírus. Sabendo tudo isso você pode pensar até em possíveis tratamentos”.

O pesquisador também conta que em estudo publicado no ano de 2011, ele observou uma similaridade muito grande entre a artrite reumatóide – doença autoimune desenvolvida espontaneamente – e a artralgia crônica gerada pela chikungunya. “Isso sugeriu que o tratamento da artrite causada pela infecção viral, com drogas usadas para artrite reumatoide, poderia funcionar”. A descoberta ajudou a tratar o sintoma, mas, até hoje, não existem tratamentos que de fato combatam o vírus.

Sintomas, tratamento e prevenção da chikungunya. Fonte: site ufc.br

Na atual pesquisa, segundo o professor, a análise do sangue dos pacientes foi feita logo após os mesmos serem infectados, ou seja, na fase aguda da doença – que é o momento “em que o vírus está se replicando, os sintomas estão se manifestando”. Então, um monitoramento longo e cuidadoso teve de ser feito para poder analisar quem desenvolveria os sintomas crônicos: “Você tem que seguir os pacientes por meses para ver qual deles está com artrite crônica. Muitos não voltam depois que melhoram ou nem têm um telefone para contato. Então foi algo difícil de fazer”.

Nakaya enfatiza que esse foi um trabalho com alta demanda de tempo e esforço, e só pôde ser concluído graças à colaboração de diversos autores: “O trabalho só saiu porque teve gente que coletou as amostras, que seguiu os pacientes, monitorou os sintomas, fez a viremia. Então, o que a gente fez foi analisar esses dados, e organizar o trabalho”.

Após coletadas, essas amostras de sangue foram analisadas através de um método novo chamado biologia de sistemas. De acordo com Nakaya, essa metodologia observa sistemas biológicos integrando dados, o que permite ter uma visão holística do que está acontecendo dentro das células. “Com isso, é possível ver quais são os genes que estão alterando suas expressões, e também como eles estão interagindo na infecção. Isso dá mais poder para destrinchar os mecanismos moleculares da infecção”, esclarece Nakaya.

Isso abre uma série de hipóteses para estudos futuros sobre a chikungunya, além de possibilitar que outros pesquisadores descubram futuras relações entre genes específicos e determinadas características ou sintomas da infecção. “Esse é o ponto que vai abrir muitas portas para que as pessoas consigam escolher genes para novos estudos”, explica o pesquisador. “Não é um trabalho definitivo que já diz qual é o mecanismo certo a ser seguido. Ele te dá as pistas para pesquisas futuras”.

O professor também afirma que, com a colaboração de Dario Zamboni, da USP de Ribeirão Preto, o grupo está tentando compreender como os genes atuam na patogênese do vírus e conseguiram ver o papel do inflamossomo nessa infecção. “Isso é importante porque existem vários candidatos a drogas contra esse inflamossomo. Então, ao mostrar que isso é importante para a infecção viral, pode-se propor possíveis drogas para tratamento”.

Agora, o pesquisador pretende continuar suas análises com um outro corte de pacientes e ver os genes realmente importantes para predizer a artrite crônica: “Se uma pessoa chega na clínica com essa doença e já sabe que essa artrite será crônica, é possível tentar fazer algum tipo de intervenção mais rápida”.

O professor acrescenta que, apesar das dificuldades e do esforço, é recompensador ver que o estudo poder gerar mais conhecimento: “Não é apenas analisar e gerar um monte de resultados a partir disso, é fornecer possibilidades de outros mestrados e doutorados a partir desses resultados”.

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