Organizar para entender: projeto propõe estruturação de dados do SUS

[Imagem: DarkoStojanovic/Pixabay]

Como a maior cidade do País, São Paulo demanda grande estrutura na área de saúde – mesmo que nem sempre a disponibilize. Em cada hospital, clínica ou posto, relatórios e mais relatórios são preenchidos para contabilizar os atendimentos do dia. A importância desses dados é gigante, já que, sem o conhecimento a respeito do que é mais ou menos frequente, não há como gerenciar bem uma área tão complexa. O problema é que o Sistema Único de Saúde, o SUS, conta com diversos bancos de dados, cada um deles com características diferentes. Na prática, encontrar informações e fazer análises é muito mais difícil do que deveria.

É para formular soluções para este problema que o projeto Combining Data for Better Health Care, coordenado pela professora Renata Wassermann, surgiu. Ele faz parte de uma iniciativa maior, o InterSCity, chefiada pelo pesquisador Fábio Kon. Este é um núcleo de pesquisa que busca aplicar as tecnologias da informação para melhorar a qualidade de vida nas cidades, construindo as ditas Cidades Inteligentes. Fábio completa “a gente sempre pensa em como a Ciência da Computação pode ter um impacto positivo na sociedade”.

Reconhecendo as dificuldades geradas pela falta de unificação em seus sistemas, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo procurou o Instituto de Matemática Estatística (IME) e, deste resultado, surgiu o projeto coordenado por Renata. Ao todo, ele conta com a participação de muitos outros pesquisadores, sejam eles os próprios professores ou estudantes de mestrado e graduação. É desenvolvido em parceria tanto com a Secretaria quanto com a Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP), o que fornece o apoio necessário para organizar uma rede tão complexa.

Para tratar os dados, usa-se a ontologia. De acordo com Renata, o método “descreve os conceitos e as relações entre eles de forma organizada”, não limitando as buscas apenas às palavras-chaves. Proveniente da área da Ciência da Informação, a ontologia pode ser utilizada em variados casos de representação e organização do conhecimento.

Primeiramente, é necessário que os conceitos sejam definidos e descritos. Para isso, o contato entre os pesquisadores do IME e os profissionais da saúde é essencial. São feitas perguntas como: “o que é um paciente?”, “quais são as informações que temos sobre um paciente?”, “o que é um parto?”. A partir de respostas que contemplem a todos os principais conceitos da área, elaboram-se versões da ontologia, que serão ligadas aos bancos relacionados. Neste momento, o projeto se conecta a outro, também desenvolvido pelo IME: o Health Dashboard, coordenado por Paulo Meirelles. Este está desenvolvendo a infraestrutura computacional para a visualização dos elementos.

Para Renata, a unificação e organização dos dados é importante, já que permite que façamos perguntas mais complexas. Isso quer dizer que, além de responder quantos usuários o SUS atende por dia – informação que hoje não está disponível – a presença de todos os parâmetros em um só banco pode responder questionamentos como: “onde falta atendimento?”, “o que é prioritário em cada aula?”, “quanto as pessoas precisam se deslocar para buscar auxílio?”. As respostas para essas perguntas são essenciais para a formulação de boas políticas de saúde pública.

São muitos os projetos do IME que estão relacionados à saúde, área deficitária de um país como o Brasil que, por vezes, falha em fornecer a mínima estrutura para a qualidade de vida da população. Neste cenário, a organização das informações é importante para que se saiba o que deve ou não ser prioridade. Para isso, nada melhor que o respaldo da ciência, conhecida como instância de inovação e que merece a credibilidade que carrega – ainda que nem sempre reconhecida pelo governo. “O que temos hoje é uma massa de dados sempre muito grande e, mesmo que existam muitos métodos estatísticos ou máquinas para lidar com isso, tem coisas que só quem tem o conhecimento da área consegue inferir”, afirma Renata.

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