Para professor, livro premiado sobre pré-história do Brasil é um exercício de cidadania

O professor Luiz Anelli, vencedor do prêmio Jabuti, no museu do Instituto de Geociências. (Foto: Cecília Bastos/USP Imagens)

O professor Luiz Eduardo Anelli, do Instituto de Geociências da USP, recebeu o prêmio Jabuti pelo seu último livro “O Brasil dos Dinossauros”. A obra foi premiada na categoria Infantil e Juvenil, a mais importante da premiação, na última edição de entrega do Prêmio. Conversamos com o professor para saber mais sobre a criação e lançamento de seu livro, produzido junto com o artista Rodolfo Nogueira.

“O projeto nasceu como uma série de TV”, conta o professor, “Em 2014 decidimos que seria melhor fazer um livro mais detalhado”. O objetivo, segundo Anelli, sempre foi contar a pré-história do Brasil. Mesmo com 27 cenários de diferentes regiões do País, o professor diz que o livro foi fartamente reduzido na edição. “Não queria repetir assuntos de outros livros, aqui conseguimos falar de outros lugares, e outros dinossauros que habitaram essas regiões, que não tinham ganhado atenção antes”, diz o autor.

Um dos aspectos mais chamativos de “O Brasil dos Dinossauros” são as ilustrações riquíssimas de Rodolfo Nogueira, sobre as quais comenta o professor Anelli: “Cada imagem é uma narrativa. Eu queria inovar, e não fazer o que já fizeram antes”. Segundo o autor, o objetivo não apenas das ilustrações, mas do livro como um todo, era dar protagonismo ao cenário do Brasil pré-histórico: “Nunca foi ilustrado dessa maneira, aqui nós usamos os dinossauros para contar a história da evolução geológica do nosso País.”

O professor comenta sobre a importância da obra no cenário da literatura nacional. “Eu queria mostrar esse patrimônio cultural e geológico do Brasil. Acaba virando um exercício de cidadania, isso torna alguém um cidadão brasileiro”. O professor continua comentando sobre como referências do presente são usados para localizar o leitor, adicionando informações inéditas às figuras e escritos: “Mostramos, por exemplo, o vulcão de Poços de Caldas. Ele poderia, um dia, ter sido a maior montanha do Brasil. Quem sabe esse tipo de coisa? Mostramos também São Paulo como um grande deserto, como era há milhões de anos. Esse deserto virou arenito, uma rocha porosa que absorveu a água da chuva e deu origem ao Aquífero Guaraní. Esse tipo de coisa é fundamental para entender nossa história.”

Amadurecendo com os gigantes

Se destaca também, a maneira como Anelli construiu seu próprio estilo ao longo dos anos, o qual conseguiu transmitir com maestria em seu último lançamento. “Ele tem a minha alma”, comenta o professor. “Tem um lirismo, um romance. Tem até dinos namorando.” Leia um trecho:

“Se hoje sabemos como tudo aconteceu, foi porque a geologia generosamente arquivou nas rochas os restos e vestígios do passado. Sem estudá-la, ainda viveríamos como na Idade Média, em busca de pistas sobre a criação, queimando lendas, aniquilando mitos, apagando tradições, destruindo inscrições e calendários, e lutando por fragmentos de textos sagrados de nós ainda cruelmente escondidos.”

O professor destaca uma cena em particular, um grande dinossauro carnívoro e predador deitado na floresta. “Ele está doente e morrendo”, conta. “Todo mundo já fez esse cara caçando, eu queria fazer diferente. Descobriu-se resquícios dos protozoários que transmitem a Malária em âmbar da mesma era que esta espécie. Eu queria então representar ele doente, uma doença microscópica que conseguia matar um bicho tão grande.”

Anelli conta sobre sua trajetória na literatura, e como escrever livros infantis o ajudou a amadurecer como autor. “Você vai escrevendo e vai se libertando. E conforme os livros amadureceram, o sucesso foi crescendo”. O professor também cria um contraste entre sua obra e os livros didáticos que discutem os temas abordados por ele. “Eles [livros didáticos] são como zumbis. Não tem alma, e isso é importante na literatura”, comenta, “fazer esse trabalho me enriqueceu bastante, eu consegui colocar minha alma neste livro”.

O próximo passo, segundo Anelli, é a continuação do trabalho em outro formato. O professor diz que, após sucesso de “O Brasil dos Dinossauros” e o esgotamento dos volumes, agora procura por uma mudança na apresentação. “Estamos procurando alguém que se interesse em fazer o livro em fascículos”, comenta.

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