Trabalho do COB pautou cobertura jornalística da Olimpíada Rio-2016

Informações de comitê "levaram" jornalistas distantes ao Rio e abordaram todas as modalidades, mas cobertura in loco e de esportes populares prevaleceu

Rio-2016: as coberturas e o portal do COB (Foto: Gabriel Araujo)

Os Jogos Olímpicos atraem, de quatro em quatro anos, todas as atenções do mundo. Em sua última edição de verão, em 2016, o Rio de Janeiro recebeu o evento pela primeira vez. Ao todo, foram credenciados, segundo a Associação Brasileira de Imprensa, 25 mil jornalistas de 105 países diferentes. A cobertura olímpica, porém, se desenvolveu tanto antes quanto depois dos 17 dias de disputas, envolvendo até mesmo muitos jornalistas que sequer ao Rio foram. Para compreender as nuances do jornalismo nos Jogos, especialmente no contato com o Comitê Olímpico do Brasil (COB), o pesquisador Carlos Tavares Júnior realizou trabalho sobre o tema, englobando o período de 2015 a 2018. Dele nasceu uma tese de doutorado, Rio 2016: o jornalismo esportivo e o Comitê Olímpico do Brasil, defendida no último dia 25 de março na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP).

“Desenvolvi o trabalho atrelado a um projeto que coincidia com três períodos (2015-2018) específicos: preparação, realização dos eventos e pós-Jogos. O procedimento metodológico que adotei foram as entrevistas de campo”, conta Tavares à Agência Universitária de Notícias. “O objetivo da tese foi verificar de que forma os jornalistas teriam utilizado o conteúdo do site do COB durante a cobertura dos eventos”.

Explicando a cobertura do COB, o pesquisador diz que ela “é, ao mesmo tempo, jornalística e pautada em eventos esportivos que impactam no ranqueamento e reconhecimento dos atletas confederados”. Tavares afirma que o comitê abordou todas as modalidades, inclusive aquelas com menor atenção da mídia tradicional, com serviços como divulgação de resultados e entrevistas com atletas.

Segundo Tavares, a utilização dos instrumentos fornecidos pelo COB esteve diretamente ligada ao credenciamento para os Jogos. O pesquisador concluiu que os jornalistas com acesso às arenas, além da presença física, em geral tinham como facilitador o suporte extra de uma redação, usando menos a fonte do comitê. Assim, o portal do COB se mostrou um meio encurtador de distâncias especialmente para os que não puderam realizar a cobertura in loco.

“Quem não pôde estar nos locais recorria ao conteúdo do COB como meio de informação de credibilidade que fornecia material em texto e de fotografias de maneira gratuita”, cita Tavares. O pesquisador ressalta que a cobertura olímpica do comitê não teve função institucional, sendo de fato muito mais próxima de uma agência de notícias que de uma assessoria de imprensa.
Mesmo no auge das denúncias de corrupção contra o ex-presidente da instituição, Carlos Arthur Nuzman, que em 2017 acabou preso pela Polícia Federal na Operação “Unfair Play”, o COB não mudou de formato ou apagou notas anteriores, conta Tavares.

“Quando visitei as instalações do COB, os jornalistas que atuam lá revelaram algo importante: não têm o objetivo da assessoria, mas de divulgar informações para o fã dos esportes”, diz.

O COB como fonte
Em seu trabalho, Tavares dividiu as fontes jornalísticas em primárias e secundárias. Diante da classificação, concluiu que os repórteres presentes aos eventos utilizaram o COB principalmente como fonte secundária, de informações complementares que partem de órgãos oficiais. Já os jornalistas distantes do Rio, por sua vez, buscaram o comitê pela necessidade de uma cobertura que abrangesse as mais variadas modalidades.

“O COB foi uma fonte secundária principalmente para os jornalistas que entrevistei e que puderam estar presentes nos Jogos”, diz o pesquisador. “ Aqueles que não tiveram credenciamento recorreram ao COB, não por causa do aspecto oficial, mas como uma fonte que noticiou todas as modalidades e para o acompanhamento de partidas simultâneas”.

As fases de cobertura
No recorte de Tavares, a fase pré-Jogos destacou “as obras de construção, o encaminhamento das autoridades – prefeitura e governo do Rio de Janeiro –, as parcerias público-privadas (PPP) e repasses de recursos do governo federal”, além de “muito material promocional/marketing dos Jogos e da infraestrutura a partir do evento.”

Mas o grande momento certamente foram as Olimpíadas em si, nas quais o pesquisador notou no site do COB “uma verdadeira profusão de notícias, em comparação com a publicação média de 3 notícias por semana”, impulsionada pelos funcionários contratados temporariamente, além dos quatro jornalistas fixos do comitê.

Na grande mídia, porém, foram os esportes “queridinhos” do público que se mantiveram no holofote. Mesmo com 42 categorias de 28 esportes diferentes em disputa, a pesquisa concluiu que, com exceção da cobertura ampla do COB, nas principais emissoras predominaram modalidades como futebol, vôlei e basquete.

“Os canais credenciados ficaram restritos a uma cobertura verticalizada pelo prestígio: o primetime contava com o futebol masculino, vôlei, tênis e basquete”, afirma o pesquisador. “Atletismo, judô e tae-kwon-do, que rendem medalhas eventuais, ficaram de fora do primetime, em parte por causa do patrocínio e por contar com atletas, mesmo que conhecidos, de pouca frequência no noticiário esportivo.”

Após as Olimpíadas, Tavares destaca que as matérias locais se concentraram especificamente no legado dos Jogos, dos âmbitos esportivos aos sociais.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*