Hospital veterinário da USP recebe doações de sangue para seus pacientes

Proprietários podem levar seus animais e contribuir para o tratamento de outros cães

Reprodução

Assim como os seres humanos, cães e gatos também podem passar por transfusões sanguíneas, logo, necessitam de doadores. A Universidade de São Paulo (USP) oferece esse serviço de coleta há 16 anos.

O hemocentro do Hospital Veterinário (Hovet) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) foi idealizado pela professora Denise Tabacchi Fantoni, especialista em anestesia pelo Departamento de Cirurgia. A vontade de criar um banco de sangue veio da necessidade que a professora encontrava durante sua residência, em que muitas vezes, ocorria alguma emergência em cirurgias grandes, como retiradas de tumor, e o animal acabava por perder muito sangue e ia a óbito. Na época, Denise insistia que a iniciativa deveria partir do Departamento Clínico, no entanto, todos os profissionais se encontravam sem tempo.

A anestesista, em conjunto com duas mestrandas da área clínica, Simone Gonçalves e Silvia Ulata, começaram a montar o laboratório via incentivo da Fapesp, e assim foi fundado em 2003. As orientandas também criaram o Hemovet, primeiro banco de sangue privado de São Paulo. Após a inauguração, mais alunos se interessaram e se candidataram para ajudar, fazendo com que o hemocentro funcione até hoje.

Entre os principais problemas que levam o animal a precisar de transfusão sanguínea, têm-se traumatismos, cirurgias ortopédicas de grande porte e câncer. Há também outros procedimentos, como o cardíaco, em que pode ocorrer o rompimento de artérias ou vasos, causando o vazamento de sangue.

A técnica em laboratório do Hovet, Selene Aparecida de Oliveira, explica como ocorre o processo de doação, desde a procura de animais doadores, até a coleta final dos hemocomponentes.

Para ser um doador, o animal deve atender a alguns pré-requisitos, peso, validade de suas vacinações e sua higidez. Após ser aprovado dentro dos parâmetros exigidos, o cachorro ou gato deve passar por uma série de exames que comprovem que o mesmo não possui certas doenças, como no caso de cães, brucelose (afeta a região genital), leptospirose (doença sistêmica bacteriana) ou erliquiose (afeta os glóbulos brancos). Caso o resultado da análise seja negativo para as patologias, o sangue pode ser retirado. O sistema que caracteriza o sangue canino é chamado de DEA (Dog Erythrocyte Antigen), havendo seis tipos. Já para os gatos, a titulação é semelhante ao sangue humano, tendo tipo A, tipo B e do tipo raro, AB.

O material utilizado para armazenar o sangue é igual ao usado em hospitais para as pessoas. É retirado, no entanto, apenas 450ml para cães e, para os gatos, há variação de acordo com o peso do felino. A bolsa é processada e, posteriormente a isso, os profissionais conseguem fazer a concentragem de quatro componentes: hemácias, plasma, plaquetas e crioprecipitado, utilizado para coagulação sanguínea. Por fim, faz-se o teste de compatibilidade, que se baseia, de acordo com Selene, em “testar as hemácias de quem vai ser transfundido no doador com o plasma do receptor, sendo o contrário válido também”.

Devido a divisão inicial dos hemocomponentes, diversos animais acabam por serem salvos, pois nem todos são utilizados de imediato. “Vamos supor, vem um cachorro de um ano que quebrou a pata, perdeu muito sangue, então pode ser que nesse animal precise dar só hemácia, não precisa dar os outros”, comenta a professora Denise Fantoni. Além disso, o plasma e o crioprecipitado podem ser congelados por um ano, o que facilita a manutenção do estoque.

Ilustração por Carolina Fioratti

Por outro lado, o hemocentro enfrenta alguns problemas relacionados ao desperdício de sangue. Há meses de baixa e outros de alta, todavia, quando ocorre o segundo cenário e nem todo o material é utilizado, o excedente acaba sendo descartado, já que a USP não permite a venda das bolsas que sobram. Em contrapartida, quando os profissionais sabem que ocorrerá uma cirurgia de grande porte e o estoque está baixo, pede-se que o proprietário do animal leve de outros bancos com a tipagem previamente realizada.

Bolsas de sangue armazenadas no laboratório | Foto por Carolina Fioratti

O Hovet conta com alguns doadores crônicos, que são aqueles a quem se pode recorrer quando o banco passa por necessidades. Além desses, há alguns parceiros fixos, como é o caso da Guarda Civil Metropolitana de Itapevi e de Santana do Parnaíba. Selene, na companhia de um veterinário, vai ao canil e realiza a coleta, tirando o sangue através da jugular do animal. Nessas visitas, conseguem em média, cinco bolsas, porém, por serem doadores regulares, deve-se esperar um período de dois meses para a próxima coleta.

Em relação aos gatos, a técnica explica que o hemocentro não está realizando coleta no momento devido à falta de doadores e material. Contudo, para cães, basta agendar uma triagem por telefone e atender aos pré-requisitos. Idealmente, o cão deve ser calmo e obediente, mas caso seja agitado e feroz, basta que o dono seja capaz de amansá-lo. “As pessoas não sabem que tem banco de sangue animal, elas acabam descobrindo apenas quando o animal delas precisa”, finaliza Selene.

Pré-requisitos para doação | Arte por Carolina Fioratti

Agende a triagem pelo número (11) 3091-1221
Av. Professor Orlando Marques de Paiva, 87 – CEP 05508-000 | Butantã | São Paulo | SP

2 Comentário

  1. Amei a reportagem! Espero que dessa forma o número de doadores aumentem e as pessoas divulguem cada vez mais essa causa.

    • Fico feliz que tenha gostado. A doação é realmente muito importante e pode salvar vidas. Nossa intenção é mostrar a existência do banco de sangue para que mais gente se conscientize e contribua com a causa.

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