Modelo matemático pode auxiliar pesquisadores a traçar perfil de moradores em zonas de Malária

Iniciativa do Instituto de Ciências Biomédicas conta com a colaboração de professores do Instituto de Matemática e Estatística

Malária é transmitida pela fêmea infectada do mosquito Anopheles Foto:Pixabay

Identificar o perfil de moradores de área de risco que são imunes ao vírus da malária por meio de um modelo matemático é um dos objetivos do pesquisador Rodrigo Malavazi Corder. Parte da equipe de um projeto amplo da Universidade de São Paulo que estuda a doença no Acre, o pesquisador trabalha a partir de dados individuais e domiciliares de habitantes da zona urbana de Mâncio Lima, município à 658 km da capital Rio Branco e busca alternativas para a interpretação fiel das informações.

A malária é uma doença típica de regiões tropicais e subtropicais com características quentes e úmidas, o que beneficia as condições de reprodução do mosquito transmissor. A doença costuma ser associada com condições extremas de pobreza e atinge principalmente áreas como a África e a região amazônica. A enfermidade parasitária é transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anopheles infectada pelo parasita Plasmodium.

Com a análise dos dados quantitativos do projeto, novos modelos matemáticos e estatísticos capazes de descrever o padrão de transmissão da doença na região estão em desenvolvimento. Com as novas ferramentas, os pesquisadores esperam descrever a dinâmica da doença ao longo do tempo e identificar os fatores de risco associados aos “zeros estruturais”, no caso, pessoas que se encontram em zonas mais protegidas e acabam não desenvolvendo a doença.

Durante o trabalho, os pesquisadores utilizam regressões lineares e equações diferenciais para estudar os padrões observados de incidência de malária, analisando variáveis como idade e o grau de imunidade desenvolvido pelos moradores ao serem infectados pela doença mais de uma vez. Com a combinação de todas as variáveis, os modelos prontos devem retornar padrões próximos dos dados reais. “A pergunta que estamos tentando responder é: quais características estão associadas à transmissão da malária? Por exemplo, uma pessoa que mora em uma residência com determinadas características tem maior risco de ter um episódio de malária do que outra pessoa que mora em uma residência com outras características? Em caso afirmativo, quais seriam as características, dentre aquelas de nosso banco de dados, que aumentam o risco?”, conta o pesquisador.

Embora a pesquisa faça parte de um doutorado que está sendo desenvolvido no Instituto de Ciências Biomédicas, o professor Gilberto de Paula, do Instituto de Matemática e Estatística está colaborando para encontrar um modelo estatístico que possa ajudar a identificar os pontos cegos hoje não detectados pelos modelos existentes. Segundo o professor, encontrar e desenvolver o modelo ideal para a situação pode avançar muito as pesquisas de malária, contribuindo até mesmo nas pesquisas farmacêuticas que buscam a melhor vacina contra a doença.

Além da contribuição do professor do IME, Rodrigo também contou com a colaboração da professora Gabriela Gomes da Liverpool School of Tropical Medicine (LSTM). Para trabalhar melhor com os modelos, Malavazi passou os primeiros meses de 2018 em um estágio sanduíche na Inglaterra.

Com os resultados, o objetivo dos pesquisadores envolvidos no projeto é que a detecção das características e um entendimento de como funciona a dinâmica da malária e seus fatores de risco associados ajude a traçar o impacto de políticas públicas para a prevenção da população e estimar quais delas seriam mais efetivas.

USP contra a Malária

Há mais de dois anos o Instituto de Ciências Biológicas da USP estuda as características de transmissão de Malária em Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul, no Acre. As cidades apresentam os maiores índices de diagnóstico da doença no país. O “Projeto Temático: bases científicas para a eliminação da malária residual na Amazônia brasileira” tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

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