Curso para professores de ciências forma mais de 100 alunos

O curso durava sete meses e possuía nove encontros presenciais. (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

Na tentativa de fazer uma formação eficaz com o maior número de professores possível, Anne Louise Scarinci desenvolveu um curso online de astrofísica, que durava 7 meses e era oferecido a cerca de 100 a 200 professores da rede pública. As aulas e o material estavam disponíveis em uma plataforma e eram realizados 9 encontros presenciais.

“Os encontros presenciais aconteciam porque a modelagem física eu não conseguia ensinar online. Percebemos que apenas com aulas presenciais a grande maioria dos professores conseguia compreender”. Ensinar essa modelagem é importante porque grande parte dos professores de física do ensino fundamental não entendem física, afinal, essa não é, necessariamente, a formação deles.

Trabalhar na formação de professores de física do ensino fundamental sempre fez parte da carreira acadêmica de Scarinci. A doutora começou nessa área antes do mestrado, quando foi convidada para fazer parte de um programa nacional da Universidade Federal do Paraná. “Eu era formada em física, estava quase terminando pedagogia e me pediram para ajudar na formação de professores de ciências. Eu fiquei frustrada com a minha atuação.”

Essa frustração aconteceu porque, alguns meses após o fim do curso intensivo, Scarinci teve a oportunidade de revisitar os professores que participaram das aulas, e acompanhar as turmas de alunos deles. “Todas as avaliações de nossos cursos eram muito boas, mas quando fui observá-los colocando os ensinamentos em prática vi que faziam exatamente o contrário do que orientamos. As propostas eram deturpadas.”

Segundo a pesquisadora, os educandos sempre “culpavam os alunos”, dizendo que eles não entenderiam em outro método. E isso a levou a pensar quais tipos de ações poderiam ser efetivas para o desenvolvimento profissional destes professores. Somente no doutorado foi capaz de estudar esta área e, para isso, resolveu analisar um programa de formação bem-sucedido. “Eu queria observar algo dando certo, professores dando aulas com características que os alunos se interessassem e aprendessem.”

Scarinci comenta que a principal queixa dos educandos é a dificuldade de comunicar o conteúdo de física para os alunos. É como se, mesmo quando o estudante está interessado, ele não entendesse o modo como o professor fala. “A maioria dos cursos de formação de professores recebe as demandas mas não acolhe as necessidades dos professores, eles trazem propostas que não vão conseguir aplicar.”

O programa, objeto da pesquisa de Scarinci, era oferecido no IF através de uma bolsa da Fapesp. Diferente dos cursos tradicionais, ele não era intensivo. Acompanhava os participantes durante todo o ano letivo, semanalmente: “Todo mundo analisava junto os problemas uns dos outros, e planejavam as próximas aulas juntos também.”

Neste caso, o professor participante tinha uma voz muito mais ativa. Ele quem escolhia como seria sua aula e o que queria ensinar, dentro de suas capacidades. “Era uma comunidade de pessoas experientes conversando sobre como dar aula de física e colaborando uns com os outros.”

Qualquer professor de rede pública poderia participar e, para Scarinci, a característica principal do programa era o acompanhamento continuado do professor. “A mudança na prática docente é bastante radical, por isso a importância dele se sentir amparado.”

As principais características dos formadores deste programa era saber ouvir e ter capacidade de compreender o que o professor quer. “Um formador não tem que ficar falando, falando, falando, e sim deve perceber o outro. O professor é o protagonista.”

Uma das desvantagens, no entanto, era que este grupo conseguia ter apenas 15 participantes por ano. “As reuniões tinham seis horas de duração semanal e, ainda assim, não dava tempo de todo mundo falar. Mas os resultados eram brilhantes, alguns professores relataram que os alunos brigavam para ter aula”, conta a pesquisadora.

O fim do doutorado não impediu Anne Louise Scarinci de continuar estudando métodos para aprimorar a formação de professores. Após acompanhar o programa ela enfrentou algumas outras questões: É possível fazer tal formação para mais professores? Como ter turmas maiores?

Segundo Scarinci, melhor método deve acompanhar os professores continuadamente, eles devem ir para a sala de aula e, lá, aplicar os resultados. “A sala de aula é que faz o professor trazer as perguntas. Um esclarecimento racional do formador não é suficiente, tem que ser orgânico, o educador deve construir uma nova prática. Se o formador falar antes, o professor não entende.”

Assim, o curso online de astronomia foi estruturado com uma visão construtivista. “Os professores aprendiam os conceitos através de dinâmicas e, assim, nós fazíamos com eles o que eles deveriam fazer com os próprios alunos. É claro que eles não conseguem copiar o que estávamos fazendo, mas passavam a questionar seus próprios métodos.”

Outro ponto fundamental era a interação entre os participantes: “Quando eles entendiam que isso era necessário, a turma criava um grupo de trabalho e todos se beneficiavam.”

O curso online foi oferecido de 2011 até 2017 e, atualmente, Anne Scarinci analisa os dados colhidos para chegar em outros resultados. “Além do que já foi comentado, um dos nossos objetivos é utilizar os dados deste curso para pensar em como fazer formação inicial de professores, ainda na universidade.”

A principal dificuldade da formação inicial é que o aluno não tem como fazer a pergunta que veio da sala de aula justamente porque ele não tem a prática em sala. Por isso, é complexo pensar em como ensinar de forma que seja significativa, prevendo os problemas que ele possa ter. “Para iniciar essa segunda análise, estamos perguntando para professores formados quais foram as disciplinas que mais os ajudaram na graduação e como eles acham que o curso contribuiu com sua prática docente.”

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