Degradação diminui impacto de composto tóxico na natureza

Pesquisa aponta forma limpa de reduzir concentração de substância no meio ambiente através de ação em linha de produção.

A substância é utilizada principalmente na produção de policarbonato. Foto: Pixabay (www.pixabay.com)

Entende-se por poluição uma atividade que acaba por degradar o meio ambiente e altera as características de um ecossistema. Embora haja formas naturais, a maior e principal parte desse problema é resultante da ação humana e nem todas as suas consequências são facilmente notadas. Com o avanço da tecnologia na área, tornou-se possível o estudo de micropoluentes, substâncias tóxicas que podem gerar danos ao meio ambiente e aos organismos, e que acabam passando despercebido por muitos.

Apesar de ser uma substância conhecida há mais de 100 anos, o bisfenol A, “tem tido uma preocupação muito grande a respeito dos micropoluentes nas últimas décadas”, afirma o pesquisador Leandro Goulart. O policarbonato, onde é aplicado, por sua vez, é utilizado na fabricação de embalagens e utensílios, devido a características como resistência térmica e mecânica e a alta transparência. Após dúvidas sobre a segurança da substância, diversos estudos foram realizados e alguns chegaram a conclusão de que o nível de exposição é muito inferior ao que causaria preocupações, enquanto outros mostraram associação de desfechos mais emergentes com doses baixas do composto, como desregulação hormonal ou endócrina. Desde janeiro de 2012 é proibida no Brasil a importação de mamadeiras que possuem essa substância em sua fabricação.

Existem plantas de produção que, através de um processo com fenol e cetona, conseguem produzir bisfenol que depois é adicionado a plásticos de modo a aumentar a resistência. A principal preocupação é com o descarte desse composto, visto que não há uma lei que estabeleça um limite quanto ao retorno à natureza. Durante a limpeza desse sistema de produção, a imensa maioria é eliminada e o restante é enviado para um sistema de tratamento de esgoto convencional que não tem capacidade de decompor essa substância. E, dado que, a produção desse tipo de material é realizada na casa dos milhões de toneladas por ano, essa pequena porcentagem não compreendida acaba sendo uma grande quantidade de material.

O pesquisador e doutor em Engenharia Química pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Leandro Goulart de Araujo, alerta sobre o descarte do bisfenol A na natureza: “compostos semelhantes, por exemplo, mostraram que animais, como peixes, tiveram mudança no sexo devido a alteração hormonal relativa aos micropoluentes”. Assim, a substância volta para o consumo da população através da alimentação, como acontece com diversos outros micropoluentes.

Forma de degradar a substância

A pesquisa realizada por Leandro utilizou-se de uma tecnologia desenvolvida recentemente chamada de processo oxidativo avançado (POA). Essa técnica se baseia em processos físico-químicos e é muito eficiente em decompor compostos de difícil tratamento, como os micropoluentes, em que métodos tradicionais de biodegradação não seriam eficientes.

O POA adotado consiste no uso da luz ultravioleta com peróxido de hidrogênio (água oxigenada), chamado de peroxidação fotoassistida, de modo a gerar moléculas de água com um átomo de hidrogênio a menos, radicais hidroxila, que são altamente reativos e os principais agentes na degradação do bisfenol.

Foi feito também a análise de HPLC (Cromatografia Líquida de Alta Performance), capaz de realizar separação e análise de compostos, para avaliar a variação de concentração do bisfenol em função do tempo. Além de se mostrar extremamente eficiente, o processo é limpo, pois após a formação do radical hidroxila, o peróxido se transforma em água.

O pesquisador alerta sobre o descarte: “o bisfenol não desaparece, ele é quebrado e forma intermediários. Dependendo do que acontece na reação, forma compostos que geram desregulação endócrina maior ou são mais tóxicos que o bisfenol.” O estudo não seria eficaz no tratamento dos plásticos atuais, mas sim no tratamento do bisfenol antes de ser misturado com o restante do lixo industrial. Leandro afirma que a pesquisa foi feita com água e bisfenol, e que não é possível saber se o método seria eficiente em misturas com outras substâncias no efluente. A ideia é tirar esse poluente antes de chegar no efluente final.

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