Tratamento alternativo para diabetes busca substituir injeção de insulina

Transplante de ilhotas pancreáticas produtoras de insulina causa menos efeitos colaterais e tem menos riscos

Terapia alternativa à injeção de insulina é possível tratamento para diabetes tipo 1. Imagem: Pinterest

O tratamento mais comum para diabetes tipo 1 é a injeção de insulina. Não por isso é o melhor procedimento — os custos para financiar uma bomba de insulina são altos, e alguns pacientes não respondem às injeções. Na USP, a pesquisadora Camila Leal investigou em seu doutorado terapias alternativas para tratar de diabetes. A tese, defendida no Instituto de Química (IQ), estuda o transplante de ilhotas pancreáticas, que produzem insulina, como uma opção para estes pacientes.

A diabetes é caracterizada pela dificuldade na degradação das moléculas de glicose (açúcar). O portador não consegue quebrar essas moléculas corretamente porque em seu organismo a quantidade de insulina, hormônio que promove a entrada de glicose nas células, é muito pequena.

Esse hormônio é produzido pelas chamadas células beta das ilhotas pancreáticas. Estas sofrem um processo auto-imune que as destroem, o que diminui a produção de insulina. Assim, a taxa de glicose circulante no sangue, chamada de glicemia, fica muito alta, e pode levar a danos em órgãos como os rins e causar cegueira. Por essa razão, a injeção diária de insulina é necessária para controlar a glicemia.

Apesar de atingir 8,9% da população brasileira, o tratamento de diabetes ainda é restrito, pois os custos para financiar uma bomba de insulina, por exemplo, são altos. Além disso, muitas pessoas não respondem a esse procedimento, sendo necessário buscar terapias alternativas.

Dessa forma, Camila Leal iniciou seus estudos na área em 2012, e veio a concluí-los em julho de 2018. Seu doutorado em bioquímica buscou apresentar o transplante de ilhotas pancreáticas, que produzem insulina e outros hormônios do pâncreas, como um método melhor para os pacientes que não respondem à injeção de insulina exógena.

Camila conta que no Brasil é liberado o transplante de pâncreas, mas que o processo é muito invasivo e gera diversos efeitos colaterais. “As ilhotas pancreáticas correspondem a apenas 2% da massa do pâncreas, então é um transplante muito menor, com muito menos risco”.

Proteção das células 

Dois problemas acometeram a pesquisadora durante os seis anos em que desenvolveu o doutorado. O primeiro foi a escassez de órgãos doados. “Muita gente não doa porque acha que se colocar para pesquisa, vai tirar de alguém que precisa. Mas não é assim que funciona”, comenta.

Devido a essa limitação, o grupo de pesquisa de Camila passou a trabalhar com diferenciação de células tronco em células produtoras de insulina. Dessa forma, perceberam que a inibição do gene Thioredoxin interacting protein (Txnip) aumenta a produtividade da célula final, pois assim ela secreta mais insulina. “Observamos que quando inibido, esse gene melhora as células que a gente obtém ao final, pois ficam mais protegidas e morrem menos”.

O segundo problema foi relativo à necessidade de imunossupressão, ou de reduzir a atividade do sistema imunológico, que é usada para diminuir a rejeição a um transplante. “Por mais que a imunossupressão seja menor no paciente que recebeu apenas ilhotas, ela ainda existe e tem diversos efeitos colaterais”, explica.

Assim, o grupo passou a estudar o encapsulamento das ilhotas pancreáticas, como alternativa à necessidade de imunossupressão. “Nesta metodologia, revestimos as células com uma membrana que as vai proteger do sistema imune do hospedeiro, então o imunossupressor se torna desnecessário”.

Além disso, a pesquisa desenvolveu um material novo para encapsular as ilhotas, o Bioprotect-Pln. Este não só as protege, mas permite sua sobrevivência por mais tempo. “Apesar de as cápsulas permanecerem viáveis e íntegras por muitos anos, as células perdem viabilidade e o paciente volta à necessidade de insulina”, finaliza Camila.

7 Comentário

  1. Boa tarde.Meu filho tem diabetes tipo 1 ele usa insulina lantus diariamente. Gostaria de saber um pouco mais sobre as ilhotas pancreáticas e a possibilidade desse transplante realmente ser uma forma de tratamento.

    • Cristiani, tudo bem? Sou a autora do texto e, com intenção de te responder da melhor forma, levei para a pesquisadora o seu comentário. Aqui está o que ela me enviou:

      Nas últimas três décadas, as técnicas de isolamento e de transplante de ilhotas pancreáticas deixaram de ser procedimentos experimentais e passaram a ser aprovados e reembolsáveis por sistemas de saúde em diversos países, incluindo Canadá, Austrália, Reino Unido, Suíça, Itália, França e outros países da Europa. Mais de 1.500 procedimentos já foram realizados ao redor do Mundo. Porém, o procedimento está associado a oferta limitada de pâncreas de doadores falecidos e a necessidade de imunossupressão crônica dos receptores, fatores que limitam a aplicabilidade do transplante de ilhotas pancreáticas em pacientes de DM1. Dessa forma, o tratamento é oferecido apenas para pacientes selecionados com Diabetes Mellitus tipo 1 instável, episódios hipoglicêmicos graves e labilidade glicêmica que não podem ser estabilizados através da terapia com insulina, bombas de insulina ou terapias contínuas de monitoramento de glicose. No Brasil, o transplante de ilhotas pancreáticas ainda é considerado um procedimento experimental e o acesso ao procedimento é limitado pelo alto custo, que se baseia apenas nos recursos escassos oferecidos à pesquisa.
      Nosso trabalho estuda duas estratégias terapêuticas que visam oferecer soluções aos principais problemas relacionados ao transplante de ilhotas pancreáticas: a baixa disponibilidade de células para a terapia de reposição e a necessidade de imunossupressão. Nós estudamos o mecanismo molecular que dirige o processo de diferenciação de células-tronco embrionárias em células produtoras de insulina, visando otimizar o processo de diferenciação e aumentar a disponibilidade de células para o transplante. Um biomaterial inovador também foi desenvolvido para a produção de microcápsulas biocompatíveis que criam um ambiente imunoprotegido para o transplante de células produtoras de insulina, dispensando o uso de imunossupressores. Essas inovações também são consideras experimentais e ainda devem ser avaliadas em diversos testes clínicos para determinar a segurança e a eficácia do procedimento.

      Espero que te ajude de alguma forma. Abraços!

  2. Tenho 34 anos e sou diabético. Convivo com essa doença a mais de 20 anos. Sempre tive esperanças que a ciência pudesse estudar e evoluir rapidamente os tratamentos para o diabetes tipo 1. Para mim, infelizmente, não sei se consigo alcançar esses tratamentos antes de complicações aparecerem severamente (já possuo retinopatia diabética leve), pois o controle da diabetes muitas vezes foram pouco eficientes para mim, sem contar o aspecto dispendioso. Por isso, gostaria de saber se esse tratamento com ilhotas é viável a curto prazo? e se existe algum programa experimental em humanos?

    • Henrique, tudo bem? Enviei para a pesquisadora Camila Leal as suas perguntas, e ela me respondeu com o seguinte:

      Nas últimas três décadas, as técnicas de isolamento e de transplante de ilhotas pancreáticas deixaram de ser procedimentos experimentais e passaram a ser aprovados e reembolsáveis por sistemas de saúde em diversos países, incluindo Canadá, Austrália, Reino Unido, Suíça, Itália, França e outros países da Europa. Mais de 1.500 procedimentos já foram realizados ao redor do Mundo. Porém, o procedimento está associado a oferta limitada de pâncreas de doadores falecidos e a necessidade de imunossupressão crônica dos receptores, fatores que limitam a aplicabilidade do transplante de ilhotas pancreáticas em pacientes de DM1. Dessa forma, o tratamento é oferecido apenas para pacientes selecionados com Diabetes Mellitus tipo 1 instável, episódios hipoglicêmicos graves e labilidade glicêmica que não podem ser estabilizados através da terapia com insulina, bombas de insulina ou terapias contínuas de monitoramento de glicose. No Brasil, o transplante de ilhotas pancreáticas ainda é considerado um procedimento experimental e o acesso ao procedimento é limitado pelo alto custo, que se baseia apenas nos recursos escassos oferecidos à pesquisa.
      Nosso trabalho estuda duas estratégias terapêuticas que visam oferecer soluções aos principais problemas relacionados ao transplante de ilhotas pancreáticas: a baixa disponibilidade de células para a terapia de reposição e a necessidade de imunossupressão. Nós estudamos o mecanismo molecular que dirige o processo de diferenciação de células-tronco embrionárias em células produtoras de insulina, visando otimizar o processo de diferenciação e aumentar a disponibilidade de células para o transplante. Um biomaterial inovador também foi desenvolvido para a produção de microcápsulas biocompatíveis que criam um ambiente imunoprotegido para o transplante de células produtoras de insulina, dispensando o uso de imunossupressores. Essas inovações também são consideras experimentais e ainda devem ser avaliadas em diversos testes clínicos para determinar a segurança e a eficácia do procedimento.

      Espero que te ajude de alguma forma. Abraços!

  3. Bom dia, tenho um filho diabético e gostaria de saber como posso me informar mais sobre este processo. Grato.

    • Rodrigo, tudo bem? Enviei para a pesquisadora o seu comentário, para obter a melhor resposta possível. Aqui está o que ela me respondeu:

      Nas últimas três décadas, as técnicas de isolamento e de transplante de ilhotas pancreáticas deixaram de ser procedimentos experimentais e passaram a ser aprovados e reembolsáveis por sistemas de saúde em diversos países, incluindo Canadá, Austrália, Reino Unido, Suíça, Itália, França e outros países da Europa. Mais de 1.500 procedimentos já foram realizados ao redor do Mundo. Porém, o procedimento está associado a oferta limitada de pâncreas de doadores falecidos e a necessidade de imunossupressão crônica dos receptores, fatores que limitam a aplicabilidade do transplante de ilhotas pancreáticas em pacientes de DM1. Dessa forma, o tratamento é oferecido apenas para pacientes selecionados com Diabetes Mellitus tipo 1 instável, episódios hipoglicêmicos graves e labilidade glicêmica que não podem ser estabilizados através da terapia com insulina, bombas de insulina ou terapias contínuas de monitoramento de glicose. No Brasil, o transplante de ilhotas pancreáticas ainda é considerado um procedimento experimental e o acesso ao procedimento é limitado pelo alto custo, que se baseia apenas nos recursos escassos oferecidos à pesquisa.
      Nosso trabalho estuda duas estratégias terapêuticas que visam oferecer soluções aos principais problemas relacionados ao transplante de ilhotas pancreáticas: a baixa disponibilidade de células para a terapia de reposição e a necessidade de imunossupressão. Nós estudamos o mecanismo molecular que dirige o processo de diferenciação de células-tronco embrionárias em células produtoras de insulina, visando otimizar o processo de diferenciação e aumentar a disponibilidade de células para o transplante. Um biomaterial inovador também foi desenvolvido para a produção de microcápsulas biocompatíveis que criam um ambiente imunoprotegido para o transplante de células produtoras de insulina, dispensando o uso de imunossupressores. Essas inovações também são consideras experimentais e ainda devem ser avaliadas em diversos testes clínicos para determinar a segurança e a eficácia do procedimento.

      Espero que te ajude de alguma forma. Abraços!

  4. Olá, tenho um filho de 2 aninhos que desenvolveu diabetes tipo 1. Já existe alguma solução para que ele se livre das insulinas diárias sem ser a bomba de insulina?
    Obrigada

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