Pesquisa seleciona cinco principais indicadores quando tema é energia

Objetivo é descobrir os índices energéticos mais importantes para pensar políticas públicas

Através dos jornais, a população é constantemente confrontada com diversos dados estatísticos sem saber ao certo qual levar mais em conta. Assim como o povo, os próprios políticos precisam entender essa quantidade de informação e escolher o que priorizar na elaboração de políticas públicas. Pensando em resolver esse problema, pelo menos no setor de energia, Karen Tanaka elaborou em sua tese de doutorado uma metodologia que permitiu selecionar os cinco índices de maior relevância sobre o tema. Para isso, ela tentou equilibrar entre eles aspectos sociais, ambientais e econômicos.

Ao todo, mais de 400 indicadores foram estudados, e posteriormente enxugados através de sucessivos cortes. “Desses iniciais, chegamos primeiramente à 25. E depois em uma segunda leva à esses cinco, que são os escolhidos ao final”, relata a pesquisadora que defendeu sua tese pelo Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEE). De acordo com ela, não existia um número pré-estabelecido da quantidade que sobraria no final. A ideia era que permanecessem aqueles necessários, independente de quantos fossem. “Fizemos esse trabalho até o momento que não tinha mais como tirar nada”.

Dentro do método utilizado, fatores como a disponibilidade e confiabilidade de dados foram de fundamental importância e influenciaram diretamente nos indicadores selecionados e no espaço temporal definido, de 1990 a 2014. Os cinco escolhidos foram: acesso à eletricidade, emissões de CO2 na eletricidade, perda de distribuição elétrica, produção de energia renovável e sua capacidade de geração.

  • (IND 1) Acesso a eletricidade: mede o percentual da população que tem acesso à rede elétrica. Possui um grande viés social, pois permite análises sobre o desenvolvimento de um país e sua situação de pobreza. Karen explica que além disso, o índice também permite outras leituras. “Podemos acompanhar o quanto esse acesso evolui com o crescimento do PIB. Deveria ser no mesmo ritmo, mas nem sempre é. Então essa é uma maneira de ver, por exemplo, o lado econômico desse indicador”. Os dados são da Agência Internacional de Energia.
  • (IND 2) Transmissão de energia elétrica e perda na distribuição: mede a porcentagem de energia elétrica que é perdida na distribuição, mostrando a eficiência dos poderes público e privado no setor energético. No indicador são contabilizadas tanto as perdas técnicas quanto as não técnicas. “Por exemplo, quando o fio esquenta é uma perda técnica, já que o calor criado na transmissão de energia se dissipa no caminho. E a ‘não técnica’ é todo o resto, como o roubo”, explica ela. Os dados são da Agência Internacional de Energia.
  • (IND 3) Emissões de CO2 advinda da produção de eletricidade: corresponde a porcentagem da emissão de dióxido de carbono em toda a produção de eletricidade. O índice é de grande interesse, pois identifica o quanto as fontes de energia de cada país afetam o meio ambiente. Apesar de não ser o único gás poluidor que auxilia com o aquecimento global e o efeito estufa, o CO2 foi escolhido para compor o indicador já que é coletado pela grande maioria dos países. Os dados são da Agência Internacional de Energia.
  • (IND 5) Capacidade de energia renovável e (IND 4) produção de energia renovável: esses dois índices são comumente confundidos. O primeiro mostra o quanto um país tem de capacidade potencial para produzir energia renovável. Assim, a partir dele é possível perceber os esforços políticos e econômicos que são feitos ao longo do tempo sobre o tema. O segundo índice, por sua vez, mede apenas o que é de fato produzido nas usinas, visto que normalmente elas não utilizam 100% de sua eficiência por questões técnicas. Dessa forma, sabe-se a porcentagem de energia produzida no país que é realmente renovável. “No caso do Brasil, quando surgem problemas como por exemplo falta de chuva, diminui-se a produção nas hidrelétricas e liga-se às termelétricas”, conta a pesquisadora. Os dados são do Banco Mundial.

Karen esclarece que alguns destes índices foram invertidos para efeito de comparação. Por exemplo, ao falar de perda na distribuição, o país que tivesse a maior porcentagem seria o com pior situação. Porém, a pesquisadora inverteu esses dados, para que assim, nesse caso, a porcentagem significasse a eficiência de uma nação e não sua ineficiência. O mesmo ocorreu com as emissões de dióxido de carbono.

Dados retirados da pesquisa de Karen mostram o desempenho do Brasil ao longo dos anos nos cinco indicadores.

Análise dos dados

Além dos índices separados, a pesquisa também montou uma classificação geral dos países, juntando os cinco dados estudados através de uma média simples. Isso porque, de acordo com Karen, esses indicadores devem ter o mesmo peso na hora da elaboração das políticas públicas. “Não queríamos priorizar um dos três valores: ambiental, econômico ou social”.

Nesse ranking unificado, o Brasil está muito bem tendo como sua pior colocação um sexto lugar de 2000 a 2010. ” No geral estamos bem, mas quando vejo os dados separados percebo no que estamos falhando: Temos a vantagem de ter disponibilidade de água e utilizá-la, porém é necessário avançar com outras fontes alternativas de energia, como a fotovoltaica e a eólica”.

A análise de todos esses índices ao longo do tempo pode se dar de diversas formas e depende muito dos objetivos do país. Alguns gostam de comparar dados brutos e outros se apegam à colocações, mas no final não existe uma maneira correta. Subir de colocação pode não significar uma melhora no dado bruto e vice-versa. Por exemplo, se o Brasil sair de 6º para 7º no índice de emissões de CO2, não necessariamente ele melhorou nesse quesito. Existe a possibilidade que tenha tido uma classificação mais alta devido ao desempenho ainda pior de outra nação.

Outra análise possível, é a comparação à um país que tenha características semelhantes. Em termos energéticos, Karen coloca a China como uma boa régua para o Brasil, pois também é uma nação de grandes proporções territoriais e populacionais. Outro ponto em comum é a complexidade entre o uso de hidrelétricas e de fontes poluidoras, e a necessidade de um avanço em fontes renováveis. “A China virou o maior produtor de painel solar do mundo. É um país gigante e com uma matriz inicialmente suja”, explica ela.

Idealização da pesquisa

Karen conta que a ideia para a pesquisa surgiu da vontade de juntar dois segmentos de sua vida: o acadêmico e o profissional. Na época, já mestre em energia pela Hiroshima University, no Japão, ela dava consultoria para grandes empresas sobre gestão sustentável, trabalho que envolvia a análise de muitos indicadores e que inspirou sua futura tese.

A pesquisadora também demonstra interesse em continuar acompanhando e coletando esses dados. “O índice também é uma coisa viva, ele deveria mudar. O indicador tem que ser revisto e atualizado, porque às vezes passa a não fazer mais sentido”. Um exemplo disso, pode ser o próprio acesso à eletricidade. Se em algum momento ele passar a contemplar todas as pessoas, perde seu valor.

Além de melhorar seu desempenho nesses índices, ela recomenda que o Brasil organize-se melhor, visando a coleta de dados. Assim, os políticos teriam cada vez mais insumos para tomar suas decisões, e os estudos nessa área poderiam continuar avançando. “Gostaria de ver muitos outros dados para comparar”, completa.

A pesquisa completa Índice Baseado em Indicadores: Uma Proposta para Alcançar um Futuro Energético Sustentável no Setor Elétrico Brasileiro pode ser acessada pela plataforma Teses USP.

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