Componente da banana beneficia afetado por prisão de ventre

O reaproveitamento de bananas descartadas é o objetivo de pesquisa da Poli. Foto: Pxhere

Bananas sem valor comercial podem ser reaproveitadas para a extração de componentes que trazem benefícios à saúde. É o que mostra um estudo conduzido no Laboratório de Engenharia de Alimentos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Polissacarídeos não-amiláceos (PNAs), presentes na fruta, foram obtidos pela pesquisadora colombiana Lina Maria Rayo Mendez e podem auxiliar pessoas com problemas de prisão de ventre.

Lina, formada em engenharia agroindustrial pela Universidade Nacional de Colombia, explica que a importância dos polissacarídeos não-amiláceos já era conhecida no Laboratório por conta de uma parceria com a Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP). Os PNAs são carboidratos que concentram um grande número de moléculas unidas – ou seja, possuem um alto grau de polimerização – não-pertencentes à categoria dos amidos.

A engenheira explica que seus benefícios à saúde humana se dão por sua semelhança com as fibras alimentares. Os PNAs encontrados na banana são parecidos com aqueles presentes na aveia e em outros cereais, por exemplo, e podem auxiliar pessoas que sofrem de prisão de ventre. “Por serem similares a essa fibra, eles [PNAs] têm ação probiótica no corpo humano: não são digeridos no intestino delgado, porém são fermentados no intestino grosso e promovem a evacuação mais rápida e maciez do bolo fecal”, afirma.

Ainda sobre os componentes encontrados na banana, Lina aponta que existem outras possibilidades a serem aproveitadas: “A banana tem arabinoxilanos e galacturanos, outros dois tipos de polissacarídeos, com potencial imunomodulador. Ou seja, podem melhorar o sistema imunológico (de defesa) do corpo humano”.

Na pesquisa, orientada pela professora Carmen Cecília Tadini e intitulada Isolamento de polissacarídeos não-amiláceos da banana (Musa Cavendishii L. variedade Nanicão) e seu potencial uso como ingrediente funcional, a banana foi escolhida por ser uma fruta com alto índice de desperdício.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 40% da produção nacional é rejeitada e descartada após a colheita. A proposta é que esse montante seja reaproveitado para a obtenção dos PNAs e que sua transformação em um pó, por exemplo, o torne passível de utilização em outros alimentos como um adicional.

Obtendo os PNAs

Um dos desafios da pesquisadora foi encontrar a metodologia e o solvente adequado para realizar a extração. “Na FCF só havia sido estudada a escala de laboratório, então era preciso separar os polissacarídeos sem usar solventes que fossem nocivos à saúde humana ou muito caros, para que o procedimento pudesse ser realizado em escala industrial”, conta Lina.

Na constituição da banana, há aproximadamente 76% de água e 22% de açúcares (glicose, frutose e sacarose). Entre os 2% restante estão os PNAs e a solução encontrada para isolá-los foi utilizar o etanol, que dissolve apenas mono e dissacarídeos, como solvente. “Outro problema enfrentado foi definir uma metodologia de extração. Cogitamos a sólido-líquido tradicional, com tanques, agitadores e filtração e também a extração assistida por ultrassom”, acrescenta a engenheira.

Lina, que teve sucesso em extrair os PNAs da banana, conclui que o uso do ultrassom prolongado acaba por abrir as cadeias dos polissacarídeos e os inutiliza, mas a extração sólido-líquido convencional não apresenta problemas. “É possível extrair os PNAs usando uma quantidade mínima de etanol, com a ajuda de altas temperaturas, para transformá-los em um ingrediente que pode ajudar muito aqueles que sofrem de prisão de ventre”.

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