Nuvens influenciam na radiação solar em São Paulo

Nuvens estratiformes. Créditos: Blog Editoras Biruta e Gaivota.

Uma das brincadeiras mais comuns para se fazer com crianças ao ar livre é enxergar desenhos nas nuvens. Mas o pesquisador Jorge Rosas Santana viu ali algo muito mais promissor: um objeto de trabalho. O cientista cubano viajou seis mil quilômetros de Havana até São Paulo e concluiu seu mestrado no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo fazendo uma descrição do comportamento das nuvens na região.

“As nuvens são um tema de muito interesse na comunidade de estudos de ciências atmosféricas, porque é o componente que mais interage com a radiação solar”, explica Santana. O comportamento desse conjunto de partículas de água é muito complexo e ainda não se sabe exatamente o quanto influenciam na radiação. Outra preocupação é a reação das nuvens com o aquecimento global, já que existem grupos de cientistas que defendem que elas irão incrementar o aquecimento e outros que acreditam que contribuirão para freá-lo. Até agora, tudo indica que a primeira hipótese é a mais provável. Evidências apontam que as nuvens, sobretudo as mais altas, estão se concentrando nos polos, deixando a linha do Equador desprotegida.

Santana decidiu estudar São Paulo por suas peculiaridades. A cidade tem muitas ilhas de calor, fenômeno que acontece quando a ausência de vegetação e o predomínio do concreto intensificam a absorção de calor, aumentando a temperatura daquele local. Além disso, por se situar em um planalto próximo ao mar, a capital sofre influência da brisa, transportadora de ar úmido que se choca com o aquecimento do ar proporcionado pelas ilhas de calor. A esses dois fatores soma-se a grande presença de poluentes provenientes de aerossois, principalmente o gás carbônico, responsável pelo agravamento do efeito estufa, e todos esses elementos colaboram na formação das nuvens, que são basicamente ar condensado.

A dissertação foi uma descrição do comportamento das nuvens na cidade de São Paulo. “Pesquisamos o regime e a circulação desde 1958 até hoje, usando informações de observatórios meteorológicos”. Santana constatou um incremento de nuvens baixas, aquelas mais escuras e mais próximas do solo, em especial as do tipo estratiformes, que formam uma camada no céu. Por serem mais espessas e cobrirem uma área maior, as estratiformes reduzem a radiação solar diurna que chega ao solo.

Esse tipo é menos influenciado pelo aquecimento solar, por ser mais fino e estável. Alguns cientistas acreditam que o aumento da temperatura média está levando ao aumento de estratiformes.

Santana também estudou o fluxo radioativo e o efeito das chamadas nuvens de superfície, aquelas que estão mais próximas do solo. “Aplicamos um método para estimar a profundidade ótica de cada uma”, isto é, o quanto ela é capaz de absorver radiação. Foi utilizado um modelo unidimensional, mais simples, que se baseia na profundidade da nuvem no inverno, quando elas estão mais finas. O efeito radioativo foi analisado por categoria e pelo quanto ela obstrui o Sol. Santana constatou que as nuvens baixas são as que mais influenciam nessa medição.

Os próximos passos do pesquisador envolvem lugares distantes de São Paulo (não tanto quanto Cuba, é claro): o pesquisador pretende utilizar modelos tridimensionais para analisar o céu paulistano e amazonense, estimando as propriedades óticas das formações de nuvens nas duas regiões e comparando-as.

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