Laboratório analisa efeitos neurológicos do medo em situações normais

Observação não-tradicional é utilizada no medo “inesperado”

Pesquisa estuda a formação da memória do medo. Arte: Gabriel Bastos

Como funcionam as memórias relacionadas aos medos? É a resposta a essa pergunta que um grupo de pesquisa vem buscando decifrar. Com objetivo de entender melhor as bases neurais do medo e também sobre o funcionamento da memória de medo em um sistema natural, o Laboratório de Neuroanatomia Funcional do Instituto de Ciências Biomédicas da USP vêm desenvolvendo diversos estudos na área.

O trabalho mais recente identificou uma rede neural dentro do córtex cerebral, que é importante para uma formação de memória contra uma ameaça de vida. Para exemplificar como isso se aplica na prática, o professor responsável pelo laboratório, Newton Sabino Canteras, utilizou um modelo em que gato e rato estivessem no mesmo ambiente: “Se colocarmos um rato com um gato, o rato vai entrar em um pânico tremendo. Caso sua região cortical sofra uma lesão, ele continua com medo, pois não precisa da cognição para fazer isso. Mas, incrivelmente ele precisa da cognição para lembrar do predador no dia seguinte, porque se atrapalharmos a cognição dele, ele não lembra do predador no dia seguinte. Do ponto de vista conceitual, isso é algo novo”.

No caso e modelo em questão, seria necessária uma ativação do circuito cortical, o que levaria o rato, de alguma forma, a ter um processamento cortical dessa informação, para que assim ele guardasse a memória do seu predador. Com esse trabalho na pesquisa, esse circuito cortical foi identificado, juntamente as suas comunicações analisando o “estoque de memória”.

As pesquisas no laboratório realizam os estudos funcionais com comportamento, através do animal se comportando, e manipulando esse sistema hipotetizado como importante. Recentemente, muitos estudos na questão dessa manipulação têm sido feitos. Alguns desses estudos utilizam mapeamento de padrões de ativação de grupamentos das células dentro do sistema nervoso, e nisso utiliza-se registros de atividade neural no animal.

Quanto ao funcionamento de seus estudos, o professor Newton comentou: “Estamos começando mais recentemente com esse tipo de análise, e com isso a gente procura ver qual o padrão de ativação dessas estruturas que a gente definiu previamente nos comportamentos que o animal tá fazendo. Aí depois nós manipulamos isso: ou inativamos com fármacos, ou lesamos essas estruturas para ver se com isso altera o comportamento lá na frente. Ou então, manipulamos isso com técnicas mais modernas, chamadas técnicas virais”.

O professor reconhece que existem pesquisas similares às suas, e que o tema não é inédito na comunidade científica. Entretanto, ele ressalta um diferencial de sua pesquisa, que utiliza uma outra espécie de medo. “No nosso caso fazemos uma pesquisa em que tentamos entender as reações de medo numa situação natural. Então temos um modelo experimental em que o animal é exposto ao seu predador natural. Ou uma outra maneira que a gente tem é o medo social” – esclarece Newton. Retomando o exemplo do rato, seria como se ele fosse exposto ao gato – seu predador natural – ou então, no medo social, se o rato fosse exposto a um dominante na própria colônia. E a pesquisa estuda os mecanismos de memória em ambos os casos.

No sistema conhecido e mais frequente na literatura, toda vez que o animal demonstra medo, ele tem um aprendizado. Desse modo, caso um animal vá numlugar e tome um choque, por exemplo, ele vai aprender que aquele lugar dá choque e começa a ter medo. No estudo, no entanto, ficou claro que o circuito neural envolvido em tal situação de medo difere do que é ativado no modelo com medo em situação natural.

Trazendo o indivíduo para uma situação mais natural de medo e refinando o trabalho usando um modelo mais apropriado, os pesquisadores estão observando uma aproximação maior dos sistemas neurais que estão verdadeiramente envolvidos com o medo. Na formação da memória, o professor afirma também que há alterações anatômicas, e agora, a pesquisa se encaminha para entender melhor sobre como isso funciona.

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