Técnica sustentável diminui impacto de contaminações na USP Leste

Pesquisa analisa maneiras de melhorar a qualidade de vida e reduzir os riscos à saúde na região

Estudo analisa formas de diminuir impactos ambientais na EACH ou USP Leste. Imagem: Gabriel Almeira/EACH

Uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP analisou procedimentos de remediação sustentável dos resíduos da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) com o intuito de subtrair a exposição da população local a substâncias tóxicas ou perigosas, pois o terreno onde foi construído o campus costumava ser ocupado por “bota foras” de resíduos e sedimentos provenientes da obra de recuperação do rio Tietê.

Fernanda Bueno, criadora do estudo, explica que existem diversos riscos associados a esse contato: “Podem ser ameaças obtidas por meio da explosividade de alguns compostos, da ingestão e contato com a pele do solo e da água subterrânea e inalação de vapores decorrentes desse solo ou dessa água subterrânea contaminados.”

Ela ressalta que, no caso da USP Leste, os maiores perigos são em relação à possibilidade de explosão e ao caráter carcinogênico de algumas substâncias. Isso ocorre porque o campus capital Zona Leste da USP foi construído em uma área do Parque Ecológico do Tietê cedida pelo governo do estado, que, no passado, foi utilizada como esse tipo de local de descarte. “A escolha da localização da EACH na zona leste de São Paulo ocorreu pelo fato de que o campus representaria uma oportunidade para a USP ampliar o acesso da população à sua reconhecida excelência no ensino, pesquisa, atividades de extensão, o que promoveria uma forte interação com as comunidades da região,” conta Bueno.

A pesquisadora afirma que, naturalmente, o tipo de solo presente no local libera gases originários da decomposição de matéria orgânica, como o metano, que não é tóxico para a saúde humana, mas apresenta possibilidade de explosão se entrar em contato com oxigênio e alguma fonte de ignição. “Além do metano, a USP Leste também possui contaminação por alguns compostos orgânicos e inorgânicos, com risco toxicológico e carcinogênico na ingestão da água subterrânea para os moradores do local, trabalhadores de obras civis, funcionários e estudantes,” completa Bueno.

Para solucionar o problema com o metano, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) solicitou a instalação de um sistema de extração de gases. “Sistemas de ventilação existentes foram reajustados e exaustores foram conectados aos sistemas de alguns edifícios, para impedir o acúmulo de gases sobre o piso,” afirma ela.

Remediação sustentável

Essa técnica analisada no estudo foi criada em 2006 nos Estados Unidos, com o objetivo de gerenciar os riscos de contaminações para o meio ambiente e para a saúde humana, aumentando os benefícios econômicos, sociais e ambientais. Porém, Bueno afirma que ainda há desafios da implantação dessa técnica: “Os maiores desafios estão relacionados à falta de guias regulatórios e legislações específicas que incluam a sustentabilidade como critério de seleção para a escolha de uma técnica de remediação e a falta de divulgação de casos em que ela foi aplicada como alternativa à remediação convencional”, explica. “Sem essas diretrizes e a publicação destes casos é difícil a aceitação das novas práticas pelos proprietários e investidores das áreas contaminadas.”

O procedimento de criação, método apresentado, consistiu na pesquisa de casos semelhantes, nos quais foram identificadas 178 práticas possíveis de gestão e construção sustentável para a área. Destas, a pesquisadora selecionou 48 que poderiam efetivamente ser úteis no caso analisado, as quais foram divididas em categorias para a aplicação. Entre esses grupos de trabalho estão mobilidade, educação ambiental, sustentabilidade na administração, energia, edificação sustentável, uso e ocupação territorial, resíduos sólidos, fauna, redução de emissões de gases de efeito estufa e gases poluentes, áreas verdes e reserva ecológicas, águas e efluentes e política ambiental na universidade.

Para resolver tais problemas e colocar em prática a remediação, foi realizado um pedido de ventilação de metano, uma estação de tratamento de esgoto e um sistema de captação de águas pluviais. Bueno afirma também que poderiam ser implementadas outras práticas para favorecer mais ainda o meio ambiente: “Existem alternativas também como o fornecimento de energia elétrica a partir de energias renováveis para o sistema de ventilação, para minimizar os custos, e a redução do consumo de recursos naturais e da emissão de poluentes.”

Ela ainda adiciona que há várias dificuldades na aplicação desse tipo de gestão, como o fato que não é possível generalizar as técnicas, já que cada local contaminado possui as suas especificidades e, portanto, suas necessidades. “Também é necessário o envolvimento de todas as partes interessadas desde o início do processo de gestão para compartilhar o conhecimento e os recursos e determinar como as ações adotadas podem agregar valor,” diz Bueno. “A eficiência dos projetos depende de soluções que atendam às necessidades da comunidade, da economia local e do meio ambiente, de forma que a gestão e o reuso do lugar seja um processo único e interligado, não com atividades independentes,” completa.

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