Déficit vocacional é causa de evasão na Escola Politécnica da USP

Distância entre os prédios também causa distanciamento entre alunos

Pesquisa de doutorado conduzida na Escola Politécnica da USP se propôs a analisar casos de abandono de estudantes na unidade entre 1970 e 2000. A tese foi apresentada por Lucas Anastasi Fiorani, engenheiro civil que ingressou na instituição justamente no início da década passada e chegou à conclusão de que a evasão estudantil na Poli é multifatorial.

O estudo tomou como base mais de 16 mil alunos que se matricularam na instituição no período mencionado. Utilizando conceitos de estatística e hipóteses já pré-estabelecidas, Lucas conseguiu chegar em quatro principais razões pelas quais a taxa de evasão na Poli era de 15% ao ano, número relativamente alto. São elas: o déficit vocacional do graduando, a falta de persistência, a ambientação à instituição e deficiências na formação predecessora.

Bernardo Haguiara, ex-aluno da Escola Politécnica e atual estudante de Medicina pela Unifesp, conta sobre a sua experiência no curso de engenharia: “Eu acho que eu até tinha vocação para exatas e para números. Meu pai é engenheiro e eu sempre achei interessante, mas depois que começamos a ver assuntos de mecânica eu pensei ‘Eu não gosto disso’. Isso da vocação prática, de construir coisas, não era pra mim”

Quanto à falta de persistência, Bernardo pensa não se encaixar na hipótese da tese: “Mesmo depois de eventos complicados na minha vida, eu ainda persisti e passei em matérias difíceis. Passei em Termodinâmica, quase passei em Mecânica dos Sólidos, que poucos passaram no meu ano”. No caso dele, o que realmente pesou foram outros fatores que, não fosse por eles, provavelmente continuaria seus estudos na Poli. “Quando eu quero algo, eu vou atrás. O que aconteceu foi que eu percebi que persistência para algo que eu não quero é perda de tempo”.

“A questão da ambientação foi importante sim. Eu acho que a Poli é um ambiente bem frio mesmo e as pessoas são bastante distantes emocionalmente umas das outras”, pondera o estudante de medicina. Segundo ele, mesmo a distância física entre os prédios de engenharia contribui para isso. A quantidade de alunos que entram por ano – cerca de mil – também foi motivo para o sentimento de isolamento de Bernardo: “Eu me via como só mais um mesmo e não sentia que eu fosse realmente fazer diferença no meio de todo mundo. Me sentia bastante sozinho no geral”.

Apesar disso, ele não considera que sua formação acadêmica anterior tenha influenciado na sua decisão de abandono de curso. “Tive uma ótima formação, especialmente em exatas”, diz Bernardo, que estudou o ensino médio no Bandeirantes, colégio de elite na zona Sul de São Paulo.

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