Modelo computacional calcula custo-efetividade em casos de câncer de mama

Criado por pesquisador da EACH-USP, o modelo tem foco no tratamento com trastuzumabe oferecido pelo SUS

Imagem: Reprodução

Um modelo para simulações de custo e dos benefícios de formas de tratamento de câncer de mama HER2 (positivo inicial e localmente avançado) foi desenvolvido por meio de modelagem computacional. Essa produção foi resultado de uma pesquisa desenvolvida por Carlos Henrique Botelho, para a obtenção do título de mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Modelagem de Sistemas Complexos.

Foram comparados pelo modelo, o tratamento convencional e o realizado com o medicamento trastuzumabe, que consiste em um anticorpo monoclonal que combate especificamente as células doentes.

Com a simulação, é possível estimar os benefícios do tratamento com trastuzumabe. O modelo foi testado por meio da inserção de informações já utilizadas por uma pesquisa italiana e se mostrou correto ao produzir os mesmos resultados que ela. As conclusões foram que quando analisados os primeiros 11 anos a partir do início do tratamento com o trastuzumabe, obtém-se um ganho de 0,73 anos de vida e 0,55 anos ajustados pela qualidade de vida.

A simulação também calcula os custos do tratamento. Eles são de R$4.445,00 para o convencional e R$48.872,00 para aquele que contém o trastuzumabe. Quando o ganho de vida resultante de cada tratamento é dividido por esses valores, obtém-se o custo-efetividade do processo. Segundo, Carlos ele corresponde ao que seria gasto para se ganhar um ano de vida.

Para simular esse valor, foi preciso estabelecer parâmetros de comparação com uma suposta disponibilidade do governo a pagar pelo tratamento estudado. Esse seria o limiar de custo-efetividade. O pesquisador explica que o Brasil não possui um número estabelecido para tal e por isso, os valores entre 1 e 3 PIB per capita, utilizados pela pesquisa como base de comparação, foram supostos a partir de referências estrangeiras.

Concluiu-se que a realização do tratamento com trastuzumabe só é possível no Brasil com o limiar de 3 PIB per capita. Esse é um gasto considerável e há quem apoie o estabelecimento de um limiar brasileiro para que se julgue de forma mais clara o quanto é possível ser pago pelo Estado. Mas existem também aqueles que acreditam que essa disponibilidade seja flexível e dependa fortemente da opinião social. “Há um projeto de Lei citado na dissertação que discute que é preciso ter um limiar para poder julgar qual é o limite de custo aceito, mas também há uma discussão sobre não existir um limiar de custo efetividade”, conta Carlos.

Quanto aos métodos utilizados para a realização do estudo, o pesquisador afirma ter se preocupado em produzir um conteúdo acessível para pessoas atuantes em todas as áreas às quais o trabalho está relacionado. A efetivação dessa proposta foi um desafio, segundo ele: “Eu trabalhei com pelo menos três áreas diferentes: medicina, economia e a matemática. É um desafio escrever de uma forma que possibilite ser claro para todas elas. A tentativa é de ser o mais simples possível, para que os tomadores de decisões pudessem ler, entender e contribuir futuramente”.

Ele acredita que essa abordagem foi muito importante, uma vez que tem a intenção de difundir o modelo. Outro fator que contribuiu nesse sentido foi a ferramenta escolhida para a produção: “Eu já tinha a ideia de utilizar um software gratuito quando iniciei a pesquisa. Normalmente as pessoas utilizam o Excel, mas ele demora muito tempo para fazer simulações. Então a alternativa que eu encontrei foi o R, que é bastante simples e rápido”, conta Carlos.

Para que a difusão pretendida ocorra, o pesquisador propõe a aplicação do modelo em hospitais públicos de todo o país, para que possam ser analisados tanto os efeitos, quanto os custos dos tratamentos, que tendem a variar bastante de uma região para outra.

Ele frisa a importância da ferramenta no cenário em que se encontra o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, com o congelamento dos gastos por até 20 anos, ocorrido após a aprovação da PEC 241, em 2016. Isso, pois sendo gratuita, a sua implantação nos hospitais depende apenas da formação de grupos de pesquisa responsáveis por manipulá-la. O software também possui a vantagem de ter seus dados abertos o que permite que o modelo seja aperfeiçoado ou sirva de base para novas ferramentas.

Apesar de os resultados da pesquisa já terem sido um passo significativo para o aumento da eficiência na obtenção de dados sobre custo-efetividade, Carlos não enxerga o trabalho como finalizado. Ele identifica limitações na pesquisa. A primeira delas foi a não-inserção dos custos com procedimentos de saúde, como internação, cirurgia e exames. A segunda foi o período de 11 anos analisado. O pesquisador pretende extrapolá-lo para 51 anos. Desta forma, seria calculado o ganho de vida em relação a 100 anos, uma vez que as pacientes costumam ter 49 anos em média, cobrindo provavelmente todo o período vital destas.

Outra pretensão para trabalhos futuros é adicionar à pesquisa um tratamento que incorpora o pertuzumabe, medicamento que passou a ser utilizado pelo SUS recentemente. Para Carlos, a pesquisa “é um incentivo, um passo inicial para a utilização de ferramentas que estão disponíveis e são gratuitas com o objetivo de tratar os dados públicos de forma mais transparente”.

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