Novas dietas promovem benefícios na criação de peixes marinhos

Pesquisador elabora rações que visam aumentar a qualidade nutricional e reduzir os riscos ambientais

Peixes da espécie bijupirá utilizados para análises na pesquisa (imagem: Laura Molinari)

O biólogo Bruno Cavalheiro abre caminho nos estudos sobre nutrição de peixes marinhos, formulando novas rações que melhoram a taxa de crescimento dos animais, aumentam sua qualidade nutricional e reduzem os impactos no meio ambiente normalmente causados pelas rações convencionais. O Brasil possui tradição na criação de peixes de água doce para comercialização. Mas o cultivo de espécies marinhas em cativeiro ainda é uma prática incipiente no País, fracamente explorada e pouco estruturada, com o predomínio da atividade pesqueira.

Por causa da pesca, os recursos naturais marinhos vivem uma realidade devastadora de escassez, e a piscicultura surge como uma solução alternativa de redução dos impactos extrativistas. Porém, isso não se confirma na prática. Os peixes de água salgada possuem uma necessidade nutricional muito grande pelo óleo essencial ômega 3. O problema é que, a fim de suprir essa demanda, a maioria das rações comercializadas são feitas com um preparado de farinha e óleo de peixe. “Os produtores pescam peixe para fazer farinha para alimentar outros peixes. É uma coisa insustentável, sem cabimento”, afirma o biólogo. Logo, os estoques naturais acabam igualmente agredidos.

A necessidade de ômega 3 na dieta do peixe marinho é amplamente divulgada e estudada no mundo. Já existem, inclusive, iniciativas de algumas empresas para a obtenção do óleo evitando a extração natural, como através do cultivo de algas indoor.

Mas a necessidade nutricional dos peixes vai além, e um outro óleo também é muito importante para a formação estrutural de várias espécies vertebradas é o ômega 6, também conhecido como ácido araquidônico. “Eu decidi averiguar o desempenho do ômega 6 no peixe marinho porque praticamente inexistem trabalhos com ele”, explica Bruno.

Cadeia carbônica do ácido araquidônico (imagem: Wikipédia)

Otimismo nos resultados experimentais

Com a introdução de ômega 6 na ração dos animais, o biólogo chegou a resultados muito otimistas e inéditos no mundo. O desempenho de crescimento dos peixes alimentados com o ácido araquidônico, se comparado com aqueles que não o consumiam, foi bem maior. É preciso destacar que, mesmo inserindo novos óleos na dieta, nunca se deixou de colocar as concentrações adequadas de ômega 3. A alternância de concentração se dava entre o ácido araquidônico e óleos vegetais, como o de coco e o azeite de oliva.

Instalado no Centro de Biologia Marinha (CEBIMar) da USP, em São Sebastião (SP), Bruno testou várias dietas em duas temperaturas distintas, analisando o desempenho de cada uma delas no metabolismo de peixes da espécie bijupirá. Ele observou um grupo-controle, incluindo apenas o óleo de peixe na ração, e nos outros grupos fez a inclusão de outros óleos em diferentes proporções.

Os animais de cada tanque são alimentados com rações de composições diferentes (imagem: Laura Molinari)

O bijupirá é a espécie mais comumente usada na aquicultura marinha. É um peixe que existe no mundo inteiro, de carne branca e sabor suave. Com um ótimo desempenho de crescimento, ele pode ganhar de sete a oito quilos por ano.

“Costumamos alimentar os animais por dois meses, sacrificamos alguns para fazer análises e então coletamos as fezes para verificar o quanto de óleo está sendo digerido”, explica Bruno sobre o método experimental.  “Inseri um ácido graxo que não é habitual para o peixe marinho e que promoveu um crescimento melhor do que uma ração comercial proporciona. Então, estou chegando à conclusão de que vale a pena incluir um pouco dele na dieta”, diz. O pesquisador ainda pretende fazer uso de diferentes tipos de algas, a fim de reduzir o uso de farinha e óleo de peixe nas rações.

Tanque de bijupirás alimentados com água do mar corrente, vinda do canal de São Sebastião (imagem: Laura Molinari)

Benefícios à saúde do consumidor

Os ômega 3 são ácidos graxos (cadeias carbônicas formadoras dos lipídios) de muita importância para a saúde humana. Eles trazem benefícios ao sistema imunológico, ao desenvolvimento neurológico e visual. São também essenciais na prevenção e no tratamento de doenças cardiovasculares, do Alzheimer, do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), da depressão e de outras mais. Já o ácido araquidônico possui propriedades anti-inflamatórias que também são interessantes ao consumidor.

É comum que empresas façam o barateamento das rações destinadas aos peixes com a infusão de óleo vegetal, como o de soja. Com ele, o animal até cresce sem muitos problemas, mas deixa de ser uma fonte tão rica em ômega 3 aos consumidores do produto final: “A maior propaganda do peixe é o ômega 3, mas o pescado que comemos não é tão rico nutricionalmente quanto esperamos que seja”.

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