Taxa de mortalidade por intoxicação medicamentosa é crescente no estado de São Paulo

Estudo aponta aumento desses óbitos desde 2009; casos de suicídio são os mais expressivos

De 2009 a 2012, a taxa de mortalidade por intoxicação medicamentosa mais que dobrou no estado de São Paulo. Foto: Reprodução

A taxa de mortalidade por intoxicação com medicamentos no Estado de São Paulo cresceu de forma acentuada a partir do ano de 2009, aponta uma pesquisa realizada na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP – USP). O estudo, de autoria da pesquisadora Janessa de Fátima Morgado de Oliveira, também concluiu que essa tendência crescente se deve principalmente a casos de suicídios.

Em sua pesquisa, a autora analisou os dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde referentes ao período de 1996 a 2012. Por meio de sua análise, ela verificou uma tendência crescente a partir do ano de 2005, quando a taxa de mortalidade por esse tipo de intoxicação passou de um por um milhão de habitantes, em 2004, para quase o dobro no ano seguinte (1,9, mais especificamente). Esses dados se acentuaram de forma significativa no ano de 2009, que apresentou um total de 2,7 mortes por um milhão de habitantes. Três anos mais tarde, em 2012, esse número passou do dobro, chegando a 6,7 óbitos por um milhão de habitantes.

Em relação às intenções, há uma tendência crescente de mortalidade por intoxicação medicamentosa intencional, ou seja, por suicídio por meio do uso de medicamentos. De 2009 a 2012, esse número foi de 1,76 a 2,96 de mortes a cada um milhão de habitantes. Os números são altos, e, de acordo com Janessa, eles podem ser ainda maiores devido a possíveis subnotificações em alguns casos de suicídio. Ela explica que, por conta do estigma social em torno do tema e por questões legais, muitos casos de intoxicação podem ser dados como acidentais ou sem causa definida, quando na verdade foram causados por contaminação intencional. “Tudo isso traria um peso diferente para os resultados”, afirma.

No período analisado pela pesquisa, os casos de suicídio aumentaram significativamente. Foto: Reprodução

Outros dados relevantes levantados pela pesquisadora em seu estudo foram os grupos de substâncias causadoras dos óbitos, tanto em relação aos casos acidentais quanto aos intencionais. Ela analisou os dados da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) e descobriu que, para o gênero masculino, 40,5% das mortes foram causadas pelo uso de substâncias narcóticas e alucinógenas e 35,7% correspondem a “grupos não especificados”. Para o gênero feminino, esse grupo dos não especificados aparece em primeiro lugar, correspondendo a 45,6% dos casos – os medicamentos controlados prescritos, como anticonvulsivantes e sedativos, aparecem em segundo, sendo 40,4% dos casos correspondentes a esse grupo.

Para Janessa, a descoberta do alto número de casos de óbitos sem especificação do tipo de medicamento utilizado é um importante resultado de sua pesquisa: “É um grupo grande de casos, uma coisa estranha que eu não consigo entender como funciona. É atribuído um óbito a uma intoxicação por medicamento, mas não se sabe exatamente qual. E, de certa forma, especificar poderia trazer até implicações legais. Além disso, o conhecimento sobre os medicamentos envolvidos nas intoxicações ajudaria a implementar medidas de controle mais efetivas.” Ela reconhece o avanço que já foi obtido no país para a classificação dos óbitos, graças, afirma, “a ações conjuntas de pesquisadores e governo”, mas acredita ser necessária uma pressão maior para que a classificação desses casos fique mais adequada. “É preciso olhar pra esse tipo de situação com mais atenção.”

A pesquisadora também fala de algumas medidas que deveriam ser tomadas em relação à questão do acesso aos medicamentos. Ela cita como um bom exemplo a regulamentação adotada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 2011 que proíbe a venda de antibióticos sem receita prescrita. Contudo, ela acredita que, além da questão da compra, são necessários melhores cuidados em relação às prescrições médicas, o que viria por meio de uma melhor educação por parte dos profissionais. “Observando os óbitos femininos, verificamos que muita coisa acontece na verdade por falta de cuidados específicos do médico prescritor. Por exemplo, existem alguns tipos de critérios que falam sobre medicamentos potencialmente inapropriados para idosos, além de situações de interação de medicamentos. Se o profissional conhece esse tipo de coisa, ele vai ter um cuidado maior na hora de prescrever.”

Segundo estudos que fizeram parte de seu referencial teórico, a autora relata que o gasto com medicamentos é um dos maiores na área da saúde, ficando atrás apenas dos gastos com profissionais. Para ela, isso pode ser minimizado: “se forem tomados cuidados pautados em conhecimento ao prescrever, haverá menos agravos e intoxicações. São coisas possíveis, que diminuem custos e aumentam a efetividade”, conclui.

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