Nova tecnologia de concreto permite que água siga seu fluxo para lençóis freáticos

Concreto desenvolvido por pesquisador permite que água siga seu fluxo para lençol freático. Foto: Reprodução

Um estudo promovido pela Escola Politécnica e elaborado pelo doutorando Filipe de Oliveira Curvo, sob orientação do professor José Tadeu Balbo, permitiu elaborar uma nova mistura de concreto mais permeável do que a normalmente utilizada em construções e grandes vias. O novo modelo permite que a água infiltre no solo e continue o ciclo regular para os lençóis freáticos, em vez de ser escoada por calhas.

O concreto normalmente canaliza a água e essa é enviada a um sistema de reuso. O principal problema nessa ferramenta é que há prejuízos à jusante, o sentido da correnteza. “O que motivou essa pesquisa é que, com o desenvolvimento das construções, vias e a grande quantidade de telhados, houve um aumento da área impermeável da água e ela perde o seu curso natural”, explica Curvo.

O novo concreto é fruto de uma mistura de cimento, água, brita e um pouco de areia, ou até mesmo a ausência dela. Essa falta de areia é o fator que promove maior porosidade para o concreto, facilitando a infiltração da água pelo material.

“Para os testes, ensaiamos propriedades mecânicas como resistência, compressão, tração e impermeabilidade também em laboratório. Na primeira calçada que fizemos na USP era pequena e fomos testar se o concreto seria funcional e se a metodologia para construção seria viável para ser aumentada”, explica Filipe sobre os primeiros testes realizados.

O primeiro local escolhido era perto de árvores, o que gerou uma grande quantidade de resíduos, o entupimento de parte dos poros do concreto e diminuiu a eficiência do estudo. Com os resultados, outro lugar distante de vegetação dentro da universidade foi escolhido e lá foram aplicados três diferentes tipos de concreto. “A calçada era bem maior e colocamos dois trechos com concretos que a gente desenvolveu e um com de um parceiro da pesquisa. No primeiro trecho, na teoria, a água teria que infiltrar no solo e ir para seu curso natural. No segundo, colocamos uma lona impermeável que recolheu a água e levou para um outro sistema, que a gente recolhe em uma caixa e encaminha para ser reutilizada”, complementa o pesquisador.

Os resultados do segundo experimento foram positivos, com uma taxa de infiltração em média de 2 centímetros por segundo, enquanto outros concretos atingem 0,3 centímetros por segundo. “O que conseguimos concluir é que o local escolhido influencia muito no êxito da aplicação, lugares perto de muitas árvores prejudicam. No caso de São Paulo é vantajoso”, comenta Curvo.

Quando questionado sobre seu projeto ratificar ideias sustentáveis, o pesquisador explica que para uma solução ser sustentável deve-se atingir três diferentes objetivos: ambiental, para devolver a água ao curso natural e evitar escoamento; social, para trazer benefícios para a sociedade; e econômico para ser vantajoso economicamente. “Não adianta trazer um concreto produzido no norte dos Estados Unidos e aplicar aqui. É um material diferente, com propriedades diferentes. Mesmo no Brasil, país continental, o que é aplicado na  Bahia pode ser muito oneroso para quem está em São Paulo”, finaliza.

Os testes realizados foram guiados por normas norte-americanas para serem alcançados determinados valores de porosidade e infiltração. O concreto estudado por Curvo permite uma manutenção rápida, feita apenas com produtos como vassouras para retirar as impurezas e permitir a continuidade da infiltração da água. Essa limpeza deve ser feita, a princípio, a cada um ano e meio.

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