Cresce número de casamentos entre pessoas de diferentes escolaridades

A partir do ensino superior, brasileiros se casam mais entre si

Imagem: Mirella Cordeiro

Foi se perguntando como as pessoas escolhem com quem se casar que Lorena Hakak iniciou os seus estudos sobre a formação da família. Na tese de seu doutorado, Hakak analisou como as pessoas se casaram, de 1992 a 2014, em relação, principalmente, à educação.

Durante o doutorado na Fundação Getúlio Vargas, a pesquisadora cursou uma disciplina sobre jogos cooperativos, um campo da matemática que pode ser aplicada à economia, na USP. Com isso, interessou-se pelo modelo do casamento. “É o modelo mais simples de trabalhar jogos cooperativos”, explica Hakak. Isso acontece porque é um mercado de dois lados, ou seja, há duas partes interessadas em se casar, com associação de um para um (no casamento monogâmico) e cada pessoa possui preferências para formar a melhor união possível, dado um conjunto disponível para a escolha.

Para fazer a pesquisa, os dados para os anos de 1992 a 2014 foram usados, com casais de idades entre 26 e 60 anos. Os níveis de escolaridade foram divididos em cinco grupos: até um ano de estudo, até o Ensino Fundamental I (4-5 anos de estudo), até o Ensino Fundamental II (8-9 anos de estudo), até o Ensino Médio (10-12 anos de estudo) e a partir da graduação (mais de 12 anos de estudo).

O principal resultado da tese foi a percepção de que, hoje em dia, o número de casamentos entre pessoas que estudaram menos e mais tempo (na faixa de 1 e 12 anos de estudo) aumentou. Porém, dentre os mais escolarizados as uniões são mais homogêneas, eles estão se casando mais entre si. Uma possível explicação é o fato de a escolaridade entre homens e mulheres ter aumentado durante o período estudado.

Gráfico: retirado de Essays on Economics of Marriage; Imagem: Mirella Cordeiro

A pesquisadora também olhou para a desigualdade de renda familiar, utilizando o índice de Gini, caso as pessoas se casassem aleatoriamente em relação a educação. Este foi um exercício contrafactual, no qual Hakak constatou que o índice de Gini seria menor em todos os anos de 1992 a 2014.

Outra hipótese contrafactual foi calcular como seria a desigualdade, também utilizando o índice de Gini, caso as mulheres participassem do mercado de trabalho em 1992 tanto quanto em 2014. O resultado foi uma diminuição do Gini durante todo o período analisado. Isso pode ser explicado porque, em 1992, 51% das mulheres casadas trabalhavam fora de casa. Já em 2014, esse número cresceu para 70%. Mais mulheres no mercado de trabalho pode ter contribuído para a queda da desigualdade no Brasil nos últimos anos.

Em 2017, Hakak iniciou o pós-doutorado na FEA com o nome de “O casamento ainda é valioso (vantajoso)? Uma análise empírica para o Brasil”. Por meio desta nova pesquisa, pretende-se expandir o olhar para outras características além da educação. “Por exemplo, será que há 10 anos as mulheres preferiam casar com homens em faixa de idade muito maior?”, esclarece.

Estas questões são analisadas a partir da evolução da medida de independência na decisão de casar – o positive assortative mating – com relação a determinada característica. Este indicador é calculado para a religião durante um período, por exemplo, e, caso o resultado seja um, as pessoas se casam independentemente da religião do parceiro. Caso o resultado seja maior do que um – situação de positive assortative mating – a probabilidade de um casal da mesma religião se casar é maior do que uma união aleatória no tocante a isso. Assim, Hakak planeja entender “quais casamentos estão mais atrativos e quais estão menos atrativos”.

A tese de doutorado de Lorena Hakak pode ser encontrada aqui: https://goo.gl/EtQZsm 

Página pessoal: https://sites.google.com/site/lorenahakak/

2 Comentário

  1. Na teoria é muito bonito, “o amor vence tudo, até a diferença de nível de instrução”, mas na prática é bem difícil, quando a paixão acaba e a relação vai naturalmente desgastando, as diferenças de nível de educação e cultura ficam evidentes e insuportáveis, quando vai morrendo o desejo, os beijos quentes e demorados dão lugar a um silêncio sepulcral, não há afinidade, não há conexão de idéias, de opiniões, não há troca de conhecimento. É um martírio.

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