Dinheiro nem sempre é melhor incentivo, propõe pesquisa

Em estudo da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, jovem investiga estímulos para induzir cooperação em hospitais

Apresentação de trabalho na Universidade Luigi Bocconi, em Milão. Foto: Éder de Carvalho

A relação entre médicos em posições de liderança com as equipes multidisciplinares é objeto de estudo de Éder de Carvalho Januário em seu doutorado. Neste trabalho, o pesquisador olha quais características do indivíduo são boas para uma tomada de decisão, os microfundamentos da estratégia.

“O estudo busca entender a relação entre incentivos e cooperação em ambientes em constante mudança. O hospital é muito bom para essa investigação empírica”, diz Januário. Ele explica que o ambiente hospitalar passa por mudanças tecnológicas frequentemente e depende da cooperação entre as equipes para reorganizar e atender melhor os pacientes. Além disso, há um conflito natural entre o médico e a equipe multiprofissional, o que configura parte do desafio.

O trabalho sugere modelos de governança que gerem incentivos de acordo com o que cada funcionário espera. Isso quer dizer que, diferente da teoria econômica — que assume o incentivo financeiro como único —, ele utiliza o conceito de que há três tipos de comportamentos: o normativo, o hedônico e o motivado por ganhos. No primeiro, a pessoa age pró-socialmente, explica o pesquisador. O segundo é incentivado por reconhecimento a curto prazo e o terceiro busca benefício financeiro.

Imagem: Mirella Cordeiro

No próximo ano, Januário vai a campo. Tendo como base um protocolo instituído pela Anvisa, o qual determina que cada hospital deve estabelecer estratégias para reduzir os casos de infecção hospitalar, o estudante vai comparar como dois hospitais têm se adequado para cuidar melhor da população. Isto é, quais incentivos foram dados para cada funcionário e se tem tido êxito. Os hospitais, um público e um privado, estão localizados na cidade mineira de Ponte Nova.

A técnica qualitative comparative analysis (QCA) permite contrastar os resultados obtidos na pesquisa. “O QCA é um programa, ele vai rodar todas essas informações e me dar combinações.” Por exemplo, “se o médico der voz ao funcionário, pode ser que ele fique mais motivado do que receber um valor monetário a mais todo mês”, esclarece. Dessa forma, Januário criará o mais adequado modelo de governança. Isto é, que gere os melhores incentivos para cada tipo de comportamento.

A pesquisa já passou por dois importantes seminários com os autores das teorias utilizadas por ele. “Tive bons comentários e, por isso, deu pra avançar bastante na pesquisa.”

Com a tese orientada pela professora Maria Sylvia Macchione Saes, fundadora do Centro de Estudos das Organizações da USP, Januário acredita que sua contribuição será prática para os hospitais e teórica para o avanço dos conceitos de cooperação. “Desde 1972, poucos estudos evoluíram no sentido de entender essa questão do team production. Motivação para cooperação, na tradução livre.”

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