Causas e impactos do ganho de peso em excesso na gestação são temas de pesquisas no ICB

Durante a gestação, neurônios perdem a sensibilidade aos sinais de saciedade. Foto: Divulgação/Internet

Desenvolvidos no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), o professor José Donato coordenou dois trabalhos que estudaram os fatores responsáveis por fazer a mulher engordar excessivamente no período gestacional e os impactos que esse ganho de peso provocam durante e após a gestação. Os estudos, complementares entre si, concluíram que, da mesma maneira que a presença do hormônio prolactina — responsável por preparar a mulher para receber o filho — induz a resistência à leptina, o oposto também é verdadeiro. Isto é, o excesso de leptina afeta a sensibilidade à prolactina.

O professor explica que a presença do hormônio leptina, produzido pelas células do tecido adiposo branco, é uma das maneiras mais eficazes de o corpo emitir sinais de saciedade ao cérebro, para controle de gestão alimentar. Na obesidade, quando há alta concentração deste hormônio no organismo, as células do hipotálamo, responsáveis por reconhecer os sinais emitidos pela leptina, desenvolvem uma resistência ao hormônio. Comportamento idêntico pode ser observado nas mulheres em período gestacional, segundo as pesquisas coordenadas por Donato.

Ganho de peso durante a gestação

Na tese Fatores moleculares envolvidos nas alterações metabólicas durante a gestação: papel do SOCS3, defendida pela aluna Thais Zampieri, concluiu-se que o aumento da concentração da proteína SOCS3 no hipotálamo de ratas fêmeas gestantes é o fator responsável pela resistência à leptina, causando, portanto, o ganho de gordura além do necessário durante a gravidez. Para isso, a doutoranda baseou-se em estudos anteriores, que já haviam identificado que o aumento na concentração do hormônio prolactina provoca o aumento da concentração da SOCS3 nos neurônios do hipotálamo.

Donato explica que, durante o período gestacional, a fêmea chega a ingerir 50% mais calorias do que uma rata não grávida. Essa energia acumulada no organismo, entretanto, não é utilizada integralmente para a sobrevivência do feto, de modo que a fêmea apresenta significativo aumento — em alguns casos, mais do que o dobro — no volume de gordura. Assim, durante a gestação, a mulher pode apresentar maior predisposição à obesidade.

Diabetes gestacional

No estudo, Zampieri simulou um caso de diabete mellitus gestacional e observou que, além de provocar o acúmulo de gordura, o aumento da concentração de SOCS3 no hipotálamo pode ser um dos fatores causadores da doença. Já nas fêmeas que não possuem a proteína, verifica-se um controle glicêmico.

Ainda são necessários mais estudos para avaliar quais são os possíveis riscos da manipulação dessa proteína durante a gravidez. “Parece, contudo, que a inibição central da SOCS3 produz mais benefícios do que riscos, não só ao tratamento dos desequilíbrios metabólicos gestacionais, como também para a obesidade e diabetes mellitus”, conclui Zampieri na tese.

Maternidade pós-parto

Na pesquisa intitulada Obesity impairs lactation performance in mice by inducing prolactin resistance, a pós-doutoranda Daniella Buonfiglio estudou a relação inversa à estudada por Zampieri, chegando a conclusão de que, da mesma forma que o aumento da circulação de prolactina afeta a sensibilidade à leptina, o excesso de leptina diminui a sensibilidade à prolactina. “Prolactina e leptina ativam classes similares de receptores e, nesse caso, a ativação de um está relacionada a outro”, esclarece o professor.

Buonfiglio observou que ratas obesas, alimentadas com uma dieta hiperlipídica e, portanto, com maior circulação de leptina no organismo, não possuem complicações relacionadas à fertilidade. Após o nascimento dos filhotes, todavia, elas apresentam problemas associados ao comportamento maternal e uma redução de 33% na produção de leite, quando comparadas às ratas saudáveis. Os filhotes de ratas obesas consequentemente ganham menos peso e apenas 15% da prole é capaz de sobreviver.

Donato explica que a ação da prolactina no neurônio dá-se por meio da fosforilação de uma proteína. O excesso de leptina causado pela obesidade produz uma hiperativação dessa via recrutada pela prolactina, de modo que, “quando a prolactina tem que agir, ela não consegue agir além daquilo”. Pois, para que a ação da proteína seja efetiva, ela precisa ter estágios ativada e inativada na célula.

A partir do momento em que se sabe que o excesso de leptina provoca a resistência à prolactina, torna-se possível encontrar “um caminho para tratar mulheres que queiram ter uma performance melhor na amamentação”, salienta o professor.

1 Comentário

  1. Muito boa a reportagem. Gostei muito do tema e da maneira como é explicado. Parabéns!

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