Encontro discute divulgação e notoriedade da produção científica

O jornalista Flávio Dieguez e o bibliotecário André Serradas destacam a importância da internet na difusão de pesquisas

Em debate: divulgação de pesquisas no Brasil e publicação de periódicos científicos. Foto: Diego Smirne/JC

Por Carina Brito, Laís Ribeiro, Leticia Fuentes, Maria Beatriz Barros, Mariana Mallet, Mariana Gonçalves e Victória Damasceno

Flávio Dieguez, um dos fundadores da revista Superinteressante, e André Serradas, coordenador do Portal de Revistas da USP, participaram de debate sobre a divulgação de pesquisas no Brasil e a publicação de periódicos científicos. A apresentação[1] integrou ciclo de debates organizado pelo professor André Chaves para os alunos do quarto semestre de jornalismo do período noturno.

Como bibliotecário responsável da Seção de Apoio ao Credenciamento de Revistas USP, Serradas destacou em sua fala as características de um periódico científico. De acordo com ele, pontualidade em uma revista científica é algo crítico e que pode trazer prejuízos muito graves ao longo do tempo. “Uma descoberta científica só ganha legitimidade quando é publicada num periódico científico revisado por partes. Sem isso, é apenas uma informação”, afirma.

O plágio é um fator que causa grande preocupação para publicações online. Para Serradas, é preciso ter um acordo de direitos autorais para que não ocorra reprodução de um conteúdo de forma indevida. “A gente precisa dizer para as pessoas que vão acessar o nosso conteúdo, sejam eles científicos ou normas, que estamos disponibilizando online, o que elas podem fazer e o que elas não podem fazer.”

Serradas também explica que as publicações científicas são indexadas em grandes bancos de dados especializados, segmentados por área do conhecimento. Por meio delas, os rankings universitários avaliam as instituições de ensino, levando em consideração a quantidade de publicações de uma em certas bases de dados, como Web of Science ou Scopus. Segundo o palestrante, estar indexado no Google Acadêmico contribui para que uma publicação científica tenha “fator de impacto”, um dos critérios para medir o nível de produção científica de uma universidade.

Serradas complementou sua fala respondendo sobre o processo de publicação de uma notícia científica, cobrindo dúvidas quanto à escolha e filtragem dos artigos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), escolhas de visibilidade maior quanto à acessibilidade dos veículos e plágio. De acordo com ele, os cientistas não podem publicar suas descobertas em jornais ou revistas quando antes precisariam ainda passar pela avaliação.

Portal de Revistas USP: acesso pleno e gratuito às revistas publicadas, ampliando a visibilidade da Universidade em âmbito nacional e internacional. Imagem: DT/SIBi

Algumas vezes, as revistas que utilizam um sistema de assinatura podem ganhar mais visibilidade do que as que permitem acesso livre a toda a internet, já que o público é mais direcionado no primeiro caso. “Para alguns, pode ser um modelo viável e interessante; nós temos aqui na USP uma revista na área de Matemática que era uma revista aberta e passou a ser de assinatura”, afirma Serradas. “Após uma análise pela congregação da faculdade, eles entenderam que o acesso aberto foi um modelo de publicação do qual os matemáticos do mundo não se apropriaram, e as revistas mais relevantes da área não estão em acesso aberto.”

Em seguida, Dieguez falou sobre sua trajetória pessoal e fez comentários a respeito do jornalismo científico. Para ele, a atividade está passando por uma fase de transição. “Acredito que vamos ver por aí uma série de mudanças. Que tipo de pauta eu faço? Em quem eu estou pensando quando vendo?”, questionou. Ao longo da palestra, ele chegou a relembrar histórias das primeiras publicações de ciência e tecnologia do Brasil — como a Ciência Ilustrada, lançada em 1981 pela Editora Abril —, pautas antigas que teve de fazer e até mesmo opinou sobre teorias científicas famosas, como a Teoria das Cordas. Segundo Dieguez, o surgimento dos veículos de ciência veio na mesma época em que as pesquisas vinham crescendo constantemente, nas décadas de 1970 e 1980. Nos anos seguintes, o panorama mudou. Enquanto as próprias teorias começam a parecer insuficientes, o público e o consumo de informação científica têm sido outros: desde sua criação, em 1987, a Superinteressante já passou por reinvenções. De acordo com ele, isso não significa, no entanto, que o jornalismo de ciência tenha perdido a relevância.

Dieguez afirma que, apesar da crença atual de que o trabalho do jornalista não é mais necessário, o jornalismo seria uma fonte de informação confiável para a população, e a internet pode servir como um meio de difusão de informações. Segundo o palestrante, o jornalista não deve ver a internet como um obstáculo ao seu trabalho, mas sim como uma ferramenta de auxílio.

Em outro aspecto, é preciso ressaltar que a função do jornalista científico é divulgar pesquisas de interesse público de modo que a população consiga compreender. Em relação a isso, Dieguez cita um exemplo no qual ele deu um título a uma matéria para chamar atenção, porém o cientista que havia realizado o estudo sobre o qual era a reportagem, achou falta de respeito. Entretanto, ele diz que, considerando o interesse dos brasileiros em ciência, faz-se essencial a escolha de títulos chamativos e textos com linguagem simples para que o público leia, além do conteúdo ter que ser de extrema importância para a sociedade. Dessa maneira, o cientista que tiver interesse em divulgar seu estudo deverá submeter-se às exigências da imprensa.

Dieguez ressalta, no entanto, que o dever do jornalista é prezar pela veracidade das informações que divulga e, ao mesmo tempo, conhecer o seu público a ponto de saber sobre o que ele quer ler. “A responsabilidade da imprensa é não deixar a conversa fiada se proliferar. Essa é uma responsabilidade que todo jornalista tem, em todas as áreas”, afirma. “E o jornalismo científico tem uma responsabilidade inacreditável, porque as pessoas têm de saber o que está acontecendo. Precisamos ir atrás de gente que faz a fronteira da ciência andar para frente. É isso que os leitores querem.”

[1] Palestras proferidas no dia 27 de setembro de 2016. Todas as palestras deste ciclo comemorativo foram sediadas no auditório Freitas Nobre, do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE/ECA/USP).

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