Cartilha feita por pesquisadora orienta mães em pós-parto

Estudo identificou principais dúvidas de mulheres quanto à sua saúde e a de seus filhos recém-nascidos

Imagem: Reprodução

Em tese de doutorado para a Escola de Enfermagem da USP, a pesquisadora Bruna Gonçalves entrevistou mulheres que passavam pelo período do pós-parto. O objetivo era identificar, a partir dos relatos, quais dúvidas e inseguranças eram comuns entre essas mulheres — e elaborar, então, um material que servisse de auxílio às mães que estão passando por essa fase.

Bruna observou que a literatura científica sobre o assunto frequentemente focava a saúde dos recém-nascidos, e não a saúde das mulheres. As instituições de saúde, por sua vez, ofereciam às mães um acompanhamento pré-natal cheio de falhas, que simplesmente não esclarecia todas as dúvidas da mulher. Além de tudo isso, os mitos que existem em nossa cultura dificultam o processo do pós-parto, levando a essas mães um conhecimento que muitas vezes não tem respaldo científico. “Foi então que pensei em fazer uma pesquisa para identificar essas demandas que as mulheres no pós-parto possuíam”, comenta a doutora.

A cartilha foi criada a partir das próprias dúvidas e inseguranças das participantes do estudo, que, na época, estavam passando pelo período pós-parto
Créditos: Bruna Gonçalves e Luiza Hoga

Em relação às necessidades físicas das mães, a pesquisa constatou diversas dúvidas sobre as modificações corporais decorrentes do parto. Seja em relação a assuntos básicos, como alimentação e higiene, quanto com questões mais específicas, como os cuidados com o períneo (região entre a vagina e o ânus) ou com a cicatriz da cesariana; a loquiação (sangramento pós-parto); a involução uterina e os desconfortos corporais. Mas também foram levantadas as dificuldades psicológicas enfrentadas no puerpério (período em que o corpo da mulher está voltando ao estado pré-gravidez). Gonçalves comenta que há uma romantização dessa fase da vida da mãe, como se houvesse apenas sentimentos positivos e nenhum obstáculo. Essa narrativa esconde a necessidade da mãe de suporte médico e familiar, e termina por reforçar inseguranças e medos causados pelo desconhecimento das dificuldades. “As mulheres não estão sendo devidamente preparadas para todas as alterações físicas e psíquicas que acontecem no puerpério”, constata a pesquisadora.

Mas o seu estudo foi além do mapeamento dessas demandas e resultou na elaboração de um material educativo para as mães. A cartilha desenvolvida busca promover o autocuidado da mulher, além dos principais cuidados que elas devem ter com seus filhos recém-nascidos, e leva o nome Tempo de amor e dedicação: promoção da saúde da mulher no pós-parto e do recém-nascido. Além de ilustrações que facilitam o entendimento dos aspectos do pós-parto, a linguagem utilizada é acessível, fugindo de termos excessivamente técnicos mas sem perder o valor científico das informações.

As seções da cartilha foram definidas com base nas demandas das mães que participaram do estudo. As entrevistas foram feitas pelo método da pesquisa participativa, que considera a perspectiva e o significado dos fenômenos de todos os participantes, prevê uma interação entre o pesquisador e o pesquisado e integra os saberes profissionais e populares, sem diferenciação hierárquica. Além do tópico O que é o puerpério, que apresenta explicações e orientações sobre as mudanças pelas quais o corpo passa durante o pós-parto, a cartilha também traz tópicos como Cuidados com o recém-nascido e Amamentação, sempre mantendo a mesma proposta de prestar suporte em uma linguagem fácil, acessível e elucidativa.

A cartilha se desenvolve com dicas e explicações, sempre se utilizando de desenhos e um vocabulário acessível
Créditos: Bruna Gonçalves e Luiza Hoga

Uma outra parte de extrema relevância da cartilha é a seção Sexualidade. Segundo Bruna, “a sexualidade e as práticas de anticoncepção foram aspectos que geraram muitas dúvidas, sendo unânime entre as mulheres como assuntos em que não recebem orientações, que não são conversados no âmbito familiar e que são cheios de tabus”. Esse segmento da cartilha oferece recomendações sobre o tempo e a forma de retorno à atividade sexual, sempre reforçando, às leitoras, a importância de respeitar o próprio corpo, além de explicar quais os métodos contraceptivos mais indicados para o período puerperal.

Gonçalves, que concluiu sua pesquisa em 2016, diz ter o interesse em conseguir financiamento governamental para impressão e distribuição do material nas maternidades do SUS (Sistema Único de Saúde). A cartilha está disponível no site da Escola de Enfermagem da USP, e pode ser acessada através seguinte link:

Tempo de amor e dedicação: promoção da saúde da mulher no pós-parto e do recém-nascido

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