Necessidades sociais renovam a atuação profissional em educação física

Linha de Pesquisa da USP busca entender como as condições da sociedade influenciam essa área da saúde

Aula infantil de educação física (Créditos: Portal da Educação Física)

Quando se pensa no comportamento motor de uma criança, tais como nadar, andar de bicicleta e até mesmo brincar em um playground, automaticamente a utilidade daquelas atividades é relembrada. A natação, por exemplo, serviria como um aumento de segurança, pois o risco de se afogar seria menor, mas também poderia funcionar como uma prática em prol da saúde. O professor Luciano Basso, da Escola de Educação Física e Esporte da USP, procura delimitar as necessidades sociais que se beneficiam com os exercícios físicos infantis, como a própria natação, e demonstrar que o profissional de educação física pode adaptar as práticas de acordo com as particularidades de cada faixa etária. Mas, segundo o professor, nem toda prática auxilia em qualquer necessidade social: “A ciência pouco sabe dizer se aprender a nadar diminui o risco de afogamento em crianças de até 5 anos de idade.”

O pesquisador explica que nessa linha de pesquisa as necessidades sociais são aspectos ligados à saúde, desenvolvimento e cultura: “Para alcançá-las, a sociedade percebe que precisa de conhecimento científico e profissional ligados ao corpo e movimento, dando legitimidade ao profissional de educação física para realizar a atuação”. Segundo ele, a “prática pela prática” já não é mais suficiente para que o público veja o trabalho de um profissional do setor como uma mais-valia.

Há, portanto, uma demanda em analisar as condições sociais da criança e sua família e basear-se nelas para conseguir exercer a profissão com eficiência. Em sua pesquisa, Basso também procura se aprofundar no desenvolvimento motor infantil e destacar o papel do profissional em educação: “Por muito tempo o desenvolvimento motor de crianças em idade pré-escolar foi de responsabilidade quase exclusiva dos pedagogos, fisioterapeutas e psicólogos.”

Atualmente, no entanto, com o advento dos jogos eletrônicos e o espaço cada vez mais reduzido para brincadeiras, algumas crianças demonstram dificuldades em movimentos tidos como “típicos”. Segundo o professor, o comportamento motor das crianças ainda estaria sendo debatido pelas diversas áreas da saúde. Há uma discussão se as crianças estão tendo apenas a oportunidade e orientação para desenvolver novas habilidades motoras ligadas aos jogos eletrônicos ou se estão deixando de realizar ações motoras típicas, e apresentando assim dificuldades para realizar jogos e brincadeiras de antigamente.”

A educação física tem papel fundamental nessa discussão, na opinião de Basso, e esse nicho criado pelos entraves motores das crianças deve ser explorado pelos profissionais da área, que podem servir como uma porta de entrada para um crescimento mais completo nesse aspecto. Essa necessidade não tem causa em doenças, síndromes e outros problemas de saúde, de acordo com o pesquisador: “Ela parece estar estritamente ligada ao meio social que a criança está submetida, aparentemente falta oportunidade, encorajamento ou orientação para mover-se, não há palcos para a criança se expressar motoramente”, lacuna que poderia ser preenchida pela atuação desse campo da saúde.

A sociedade, portanto, seria responsável por pautar as ações da área nesse sentido; suas mudanças e maneiras de pensar podem afetar diretamente as capacidades motoras de um indivíduo em crescimento. “Venho buscando delimitar quais são essas necessidades sociais, algumas já estão bem legitimadas pela sociedade, outras apenas estão nas pautas de pesquisa científica”, afirma o pesquisador, que continua à procura de subsídios para caracterizar outros fenômenos como necessidades sociais em que o bacharel de educação física possa auxiliar às crianças na primeira infância, apresentando a abrangência dessa área ao público geral.

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