Caderno de Habitação Coletiva – CHC – analisa produção habitacional no Brasil e na Espanha

Pesquisa relaciona produção habitacional brasileira e espanhola e dá suporte a iniciativas acadêmicas

Foto: Fortaleza em Fotos e Fatos

Procurando iniciar a sistematização das informações sobre a arquitetura habitacional Brasileira no século XX e XXI, o professor Luiz Recaman (FAUUSP), em colaboração com a ETSAM-UPM (Espanha), iniciou uma pesquisa que tem como principal objetivo a produção dos Cadernos de Habitação Coletiva – CHCs – que, no futuro, comporão um Atlas da arquitetura habitacional brasileira. Em parceria com o prof. Leandro Medrano, também da FAUUSP, o estudo tem sido desenvolvido em um acordo de colaboração internacional com um Grupo de Pesquisa espanhol. Em um primeiro momento, já concluído, foram produzidos os cadernos dos Conjuntos Habitacionais realizados em São Paulo pelo IAPs (Institutos de Aponsentadoria e Pensão).

Atlas da arquitetura habitacional brasileira | Foto: Luiz Recamán – FAU-USP

GIVCO (Grupo de Investigación en Vivienda Colectiva) é um grupo de pesquisa espanhol parceiro da FAU no estudo da produção habitacional, responsável pela criação de uma metodologia que, através de análises gráficas, quantitativas e qualitativas, mapeou a estrutura habitacional da Espanha. ”Os conjuntos estudados dos IAPs foram uma experiência arquitetônica moderna específica, destinada a aposentados e pensionistas, que surgiu entre as décadas de 1940 e 1950”, destaca Recamán. No caso de São Paulo, essa produção ”confrontou-se com um contexto de urbanização acelerada e desordenada, que resultou na expansão desmedida da periferia pobre da cidade”, complementa. A primeira fase da pesquisa concentrou-se na região de São Paulo, mas o pesquisador destaca que os IAPs estão presentes, de maneira heterogênea, em todo o território nacional. Isto posto, a pesquisa, que em sua fase de prospecção foi financiado pela Fapesp, busca valer-se da mesma metodologia para explicar questões relativas à produção de arquitetura habitacional moderna e sua relação com a cidade.

Luiz Recamán explica que o tecido urbano espanhol é mais consolidado, em relação ao brasileiro. Em sua visão, um fator primordial para esta condição é o fato de haver um forte controle estatal sobre o processo de urbanização, especialmente na cidade de Madri. A principal consequência aponta para mudanças menos drásticas, nas palavras do pesquisador, na esfera urbana. ”Um edifício dos anos 1950 está inserido em um contexto muito próximo ao atual”, diz. No Brasil, entretanto, a arquitetura como forma de planejamento urbano tem sido uma exceção. A urbanização acelerada fragmenta a cidade, segundo uma lógica prioritariamente de mercado. ”A cidade é pensada de forma fragmentada”, completa o docente. Tal conjuntura consolida um dos maiores problemas da urbanização brasileira: a desigualdade espacial, inscrita desde a unidade habitacional até no mais amplo esquema da infraestrutura urbana.

A desconexão de espaços, como define Recamán, faz com que se crie uma relação entre as expectativas disciplinares no momento da construção do edifício e a forma como ele se concretiza no espaço urbano a seu tempo e no decorrer do tempo. Isso motivou a criação de uma sequência de mapas que mostram a absorção do edifício na dinâmica brasileira. Neste cenário, as transformações e a realidade urbana às quais o edifício está inserido são as bases usadas para a investigação proposta pela pesquisa.

A metodologia utilizada procura criar critérios de representação da arquitetura habitacional, produzir relações quantitativas (como a relação entre a área privada e coletiva) e inserir o novo conjunto na estrutura urbana existente. No desenvolvimento da pesquisa dos IAPs, percebeu-se a necessidade, dadas as características distintas dos processos de urbanização e de modernização arquitetônica entre os dois países, de analisar a apropriação, ou não, do conjunto pela cidade em constante transformação.

O pesquisador destaca ainda a importância da pesquisa em âmbito acadêmico. O estudo viabilizou a criação de um caderno de apoio para estudantes, professores e pesquisadores, de modo a fornecer bases para iniciativas futuras. Além disso, o professor destaca as parcerias já em andamento entre os Departamentos de História e Projeto da Faculdade, bem como entre a FAU e uma instituição de ensino portuguesa. Por fim, defende a importância da pesquisa na promoção da temática da habitação de interesse social.

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