Pesquisa questiona intervenção humana na natureza

Instrumentalização do espaço atende à lógica da produção em massa, mas afeta meio ambiente e sociedade

A natureza sintetizada | Foto: Euler Sandeville - FAU-USP

Motivado por sua trajetória acadêmica, sobretudo pelo mestrado e doutorado, o docente do Departamento do Projeto da FAUUSP, Euler Sandeville Junior, deu início a uma pesquisa intitulada ”A natureza e o tempo – o mundo”, cujo objetivo é indagar a forma como a construção do espaço e da natureza refletem a cultura hegemônica da sociedade, a partir da Segunda Guerra Mundial.

Em seu mestrado, Euler se preocupa com a forma através da qual o arquiteto intervém no espaço. O doutorado, por sua vez, tendo como base a representação do Brasil através de seus recursos naturais, analisa as questões culturais do país. Valendo-se destes estudos prévios, o pesquisador propõe uma reflexão sobre as transformações da paisagem nos últimos anos. ”Eu sinto a necessidade de refletir. Em 60 anos, eu vi o mundo mudar. Então, foquei nessa próxima década, talvez o momento final da minha carreira como docente, para refletir sobre as transformações ocorridas e o modo como os homens representam a natureza e a cidade”, diz.

Para isso, o recorte histórico utilizado compreende do século 15 até os dias atuais. Em um primeiro momento, Euler analisa como as culturas e as representações dialogam ao longo do tempo. ”Uma série de elementos da Antiguidade se prolongam dentro da cultura moderna”, explica. Para o docente, entretanto, muitos elementos desses perderam sua representatividade, dada a emergência de uma cultura contemporânea conectada, complexa e desenvolvida. ”Isso nos faz mudar a forma como vemos as coisas. Há coisas que trazem consigo um eco do passado, outras, entretanto, engendram uma nova forma de ver o mundo”, complementa.

A pesquisa analisa a ciência e a mentalidade científica como agentes transformadores da natureza. Para isso, Euler recorre à forma como sociedades antigas enxergavam o meio ambiente. ”Se prestarmos atenção, os gregos pautavam-se a partir de uma sociedade controlada e organizada por diversos deuses. Era tudo bem delimitado”, explica. Por outro lado, a globalização e os avanços tecnológicos fomentam discussões complexas sobre diversos temas. ”Nossa sociedade viu uma explosão atômica, ela lida com a transgenia, com a engenharia genética. Há um desenvolvimento tecnológico sem precedentes”, defende Sandeveille.

O código humano e suas particularidades | Foto: Euler Sandeville – FAU-USP

Sobre o desenvolvimento tecnológico, o professor da FAU estabelece dois polos antagônicos. De um lado, os benefícios. Do outro, as consequências negativas. ”A tecnologia nos permite criar novos produtos medicinais, encurta as distâncias, nos mantém conectados a todo momento e, ainda, traz facilidade”, comenta. Sobre os malefícios, Euler é bastante crítico. O pesquisador analisa a forma como a lógica da produção em massa prejudica não só a natureza, como também a sociedade. ”Antes da Revolução Industrial, a ética estava ancorada na natureza. Hoje, ela é extremamente instrumentalizada, virou matéria. E se é matéria, não tem ética”, enfatiza. Para o professor, esta lógica, se levada ao extremo, justificaria o uso da bomba atômica como mero experimento.

Por fim, Euler problematiza a questão da preservação do meio ambiente. Para isso, apoia-se em uma citação de Hannah Arendt para defender o uso sustentável. ”Gosto muito daquela frase que diz que a natureza é o único lugar no universo em que o homem pode respirar sem aparelhos”, diz. A busca incessante pela produção e pelo lucro, além de prejudicar o meio ambiente, trará consequências para o convívio social. ”A economia é o novo paradigma moral da sociedade. A lógica de mercado, de produção em massa, reforça as desigualdades e afeta os que menos podem”.

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