Projeto visa educação de alunos através de jogos

Professora do ICB ensina microbiologia através de um método que torna o aluno ativo durante o aprendizado

A metodologia da aula expositiva coloca os alunos em uma posição de aprendizado passiva. Fonte: http://www.divina.com.br/wp-content/uploads/sala-de-aula-7.jpg

Um projeto da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão coordenado pela professora Maria Ligia Carvalhal, do Instituto de Ciências Biomédicas, busca levar o conhecimento de microbiologia para o público jovem através de jogos e atividades que mantenham os alunos ativos durante o ensinamento.

O Microbiologia para Todos é um programa existente desde 1994 que busca unir o ensino de microbiologia, o público jovem e infantil e atividades lúdicas que visam o ensinamento. Seu desenvolvimento teve início porque a professora Maria Ligia começou a notar questões preocupantes na educação de seu próprio filho. “Tinha os olhos para isso, e comecei a ver como era pobre em termos de significado”, afirma, explicando que tudo o que se tinha na escola eram tabelas com os microrganismos, o nome da doença e o tratamento para tal. “Eram palavras que não tinham significado, eles não tinham a menor ideia do que aquilo era”. A maior preocupação para Ligia era que os ensinamentos ficavam só na teoria, e não eram postos em prática pelas crianças. “Se na prática não é feito, a teoria perde a importância”. Os principais ensinamentos na área de microbiologia diziam respeito à questões de saúde e higiene pessoal, e essas práticas eram deixadas em segundo plano pelas crianças.

A metodologia da aula expositiva coloca os alunos em uma posição de aprendizado passiva. Fonte: http://www.divina.com.br/wp-content/uploads/sala-de-aula-7.jpg

Ligia afirma que, embora essa situação fosse o comum 30 anos atrás e que as coisas tenham melhorado desde então, as informações oferecidas pelos professores possuem pouco significado para os alunos. Em geral, são informações das quais o professor não tem total conhecimento, ou conteúdos que o aluno tenta guardar para a prova, mas cujo aprendizado não é motivador, pois não gera questões a serem levadas para a vida. “A microbiologia não é trabalhada com exemplos práticos na vida real”, diz a professora. “A higiene se torna uma questão de protocolo, sem significado: ‘por que escovar os dentes duas vezes por dia?’ Eles sabem pouco e o professor não tem estrutura para dar essas informações”. Segunda ela, microbiologia não é fácil de ser ensinada, não apenas porque não se pode ver os micróbios a olho nu, mas também porque envolve um olhar muito mais sutil do que simplesmente saber o que é um microrganismo. É preciso saber como isso afeta o dia-a-dia das pessoas.

Quanto ao ensino superior, a professora também criticou a metodologia que privilegia aulas expositivas, com muita classificação e poucas informações sobre processos dos microrganismos, deixando os alunos em uma posição passiva. “Eles no máximo estão prestando atenção no que o professor está falando, mas não tem tempo para formular perguntas”, explica.

Na coordenação do projeto, Ligia optou pelo uso de jogos educativos que ensinem os alunos a resolverem problemas e enfrentarem situações novas. “É como dizia Paulo Freire: ‘o futuro não é determinado, o futuro é problemático’”, acrescenta. “Se a pessoa não está preparada para resolver problemas, que são situações novas, ela não está preparada para o futuro”. O uso de jogos que treinem o pensamento treina as pessoas para os momentos em que elas terão que fazer escolhas. Um dos jogos criados pelo projeto é o “Um dia na casa mal-assombrada”, um jogo de trilha em que existem situações de riscos e escolhas, associadas à presença de microrganismos no nosso dia-a-dia. Os jogadores podem escolher um caminho mais arriscado e rápido, mas esse custa cartas-tratamento. Se essas cartas acabarem e ninguém tiver chegado ao fim, o jogo acaba sem vencedor. “Isso implica a cooperação entre os jogadores”, diz a professora.

O uso de jogos torna o aprendizado mais divertido e ativo para as crianças. Fonte: https://ww2.icb.usp.br/ext/wp-content/uploads/2017/03/1-1.png

O projeto inclui oficinas com professores, para que eles possam vivenciar o jogo e poder levá-los para a sala de aula. Os alunos em geral se mostram muito motivados, mas alguns reclamam da falta de tempo para praticarem a atividade. Existe também uma certa resistência dos professores, que possuem medo de colocar um novo método em prática. “É mais fácil você mandar os alunos ficarem sentados na cadeira apenas escutando, do que criar uma situação de indisciplina”, aponta Ligia. Apesar disso, a avaliação dos jogos tem sido muito positiva, os alunos gostam do novo método de aprendizagem e querem sempre jogar mais.

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