Pesquisa apresenta modelo sustentável para o futuro da pecuária bovina

Setor econômico importante para o país apresentará desequilíbrio entre produção e consumo se não houver avanço tecnológico

No presente, os principais países que consomem e produzem carne bovina não apresentam uma condição ambiental sustentável . Imagem: Reprodução (Agroin)

Com o objetivo de criar e desenvolver um modelo capaz de identificar o nível de consumo e produção sustentável de carne bovina para o planeta, Regina da Silva Ornellas desenvolveu uma pesquisa na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP que verifica os impactos das ações do presente consumo e utilização de recursos no futuro. O foco na pecuária bovina se deu porque o Brasil é um dos principais produtores deste tipo de carne. Portanto, o intuito do estudo é promover contribuições especialmente para o Brasil.

A metodologia utilizada foi desenvolvida com base na Pegada Ecológica ou Ecological Footprint, com suas devidas adaptações. Tradicionalmente, o método traz como resultado uma quantidade de planetas ideal para a subsistência de uma população. Segundo a pesquisadora, utilizando essa metodologia, precisaríamos de dois planetas e meio para a subsistência. “Considerando que nós só temos um planeta, decidi me basear na quantidade de recursos necessários para a produção e o consumo por solo e espaço, e não pela quantidade de planetas”. A metodologia fez também uso da Projeção de Cenários, vislumbrando a produção e o consumo  de carne bovina de forma global, juntamente com suas consequências para o meio ambiente.

De acordo com a pesquisa, atualmente, o mundo e os principais países que consomem e produzem carne bovina não apresentam uma condição sustentável ambientalmente. Da forma como se produz e consome hoje, levando em consideração os recursos disponíveis, não haverão recursos naturais efetivos em 2040. No estudo, foi constatado que o consumo aumenta de acordo com o crescimento do PIB. A tendência é que o PIB continue a crescer, então o consumo continuará se ampliando. No entanto, os recursos do planeta, como solo e água, não aumentam. Dessa forma, o modelo indicou que investimentos tecnológicos altíssimos serão necessários para equilibrar consumo e produção.

Regina, então, produziu quatro cenários a partir do cruzamento de dados de várias fundações que trabalham com pecuária e dados da consultoria internacional da metodologia Pegada Ecológica. No primeiro, ela utilizou a situação atual com a tecnologia que é aplicada na produção hoje e chegou à conclusão que em alguns países não há recursos naturais efetivos ou disponíveis para continuar do jeito que está. Porém, o mundo está com saldo em positivo, ou seja, hoje, ainda sobram recursos. No segundo cenário, estipulado para o futuro (2040), analisando o crescimento da população, do consumo e do PIB, com essa mesma tecnologia, a produção e o consumo não se sustentam e ficam no negativo. Brasil e China, por exemplo, são grandes contribuintes desse resultado. Neste cenário, fica visível que, se o consumo e PIB crescem, mas a tecnologia permanece a mesma, a situação se torna insustentável.

Avanços tecnológicos precisarão acontecer para que o contexto se torne sustentável. Por isso, no terceiro cenário, a pesquisadora tentou identificar o nível tecnológico ideal para que a quantidade de produção e de recursos naturais ficasse em equilíbrio. O resultado obtido foi de 30% em avanço tecnológica, um valor altíssimo, considerando que os atuais índices indicam que os países estão avançando aproximadamente 10% na parte tecnológica. Mesmo assim, dentro desse cenário, alguns países continuam com um déficit muito grande, como a China.  Como tal valor seria irreal, Regina procurou encontrar um meio termo. Um avanço tecnológico moderado é de 10%. Com isso, o déficit de recursos continua, mas em uma situação amenizada.

Após a criação dos cenários, Ornellas entrou em contato com especialista da área para validação do modelo.  De acordo com a pesquisa, o Brasil consegue continuar liderando esse setor, mas são necessários alguns ajustes tecnológicos. Atualmente, há muita pesquisa e avanço com relação às técnicas aplicadas na pecuária bovina, como cruzamento genético e renovação do solo. Porém, muitas vezes, os produtores  vêem pelo lado econômico e não sustentável. “Por isso é importante que ocorram investimentos públicos e privados no setor”, afirma.

Segundo a pesquisadora, o estudo traz uma reflexão que recebe pouca importância tanto da academia quanto do mercado. Preocupadas com o lucro, as empresas pouco se atentam ao fato de que suas ações refletem no presente e no futuro: “O estudo indicou que esse setor é muito promissor, porém é um dos que mais afetam o meio ambiente, ou seja, se ele crescer de forma desesperada, pode trazer o fim das gerações”. Além disso, é um setor que com os devidos investimentos públicos e privados em diferentes níveis tecnológicos, poderá prosperar em sentido social, ambiental e econômico global.

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