Metodologia avalia grau de maturidade de redes de startups ao redor do mundo e propõe melhorias

Crédito: Ana Carolina Aires

Nos últimos 20 anos, o empreendedorismo alcançou um novo patamar a partir do surgimento das chamadas startups – pequenas empresas explorando atividades inovadoras no mercado. Essa forma de empreender em ascensão chamou atenção de Daniel Cukier, recém doutorado pelo Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP) defendendo sua tese que apontou parâmetros, por meio de um modelo de maturidade, a evolução do ecossistema de startups. Cukier, observando três complexos – o de Nova York, de São Paulo e de Tel Aviv –, desenvolveu uma metodologia para avaliar o grau de maturidade de cada um, verificando a existência de quatro estágios: (1) Nascente, (2) Evoluindo, (3) Maduro e (4) Autossustentável. São Paulo foi identificado como pertencente ao segundo nível. “A ideia é que, identificando o estágio em que o ecossistema se encontra, seja possível adotar medidas de aprimoramento coerentes com seu grau de evolução, visando acelerar o processo de desenvolvimento”, afirma Cukier.

Ecossistemas são entidades complexas que englobam todas as necessidades para a criação, desenvolvimento e crescimento de uma rede de startups. Cukier explica que um ecossistema propício está amplamente ligado à presença de uma grande universidade, de empreendedores e investidores dispostos a inovar, bem como leis de incentivo e burocracia favoráveis. “Como em uma floresta, cada elemento do ecossistema possui uma função primordial e realiza trocas cruciais entre si e com o ambiente. A sinergia entre os elementos é fundamental no desenvolvimento e manutenção do ecossistema e, consequentemente, na força com que as startup atuam e crescem”.

O modelo de maturidade de Cukier divide-se em quatro estágios. No primeiro estágio, nomeado “Nascente”, a região já conta com startups aparecendo timidamente no cenário. No entanto, não há a ocorrência de nenhum grande caso de sucesso. Nesse estágio, a presença de uma universidade bem conceituada é crucial e discussões a respeito do aprimoramento do empreendedorismo começam a aparecer. No estágio “Evoluindo”, o ecossistema já possui algumas startups maduras que geram receita e são lucrativas. Nesse nível já existem startups bem sucedidas em fusão com grandes empresas, por exemplo. Já se encontra, também, um fluxo de capital e as empresas estão crescendo de forma acelerada. É o estágio atual de São Paulo.

Já no estágio “Maduro”, tudo que acontece no segundo estágio passa a acontecer com maior força. O terceiro estágio conta com mais casos de sucesso e uma primeira geração de empreendedores que tiveram êxito com sua startup já têm condições suficiente para investir no próprio ecossistema, apoiando o surgimento de novas startups. No quarto estágio, “Autossustentável”, o ecossistema possui três geração de startups convivendo sinergicamente. A segunda geração de startups já investida pela primeira geração de empreendedores proporciona um suporte de recursos ainda maior para a terceira geração. Nessa etapa as startups já têm condições de atuar com amplitude e impacto global. Cukier identificou que tanto Nova York quanto Tel Aviv já atingiram tal patamar.

A pesquisa de Cukier, além de identificar o estágio em que o ecossistema se encontra, visa propor soluções de aprimoramento e maneiras de fazer com que o ecossistema evolua, passando de um nível para o outro. “É claro que não há uma receita de bolo ou mágica para o desenvolvimento, mas algumas boas práticas podem ser adotadas como forma de intensificar o potencial do ecossistema”, afirma Cukier. A disseminação da cultura empreendedora vinculada a tecnologia, bem como a criação de cursos na área em universidades; a promoção de mais e maiores eventos de nicho e aumento da prática do compartilhamento de casos de sucesso; a desburocratização de leis vinculadas a criação de startups e o aumento de aposta dos investidores em projetos inovadores estão entre as principais demandas para levar São Paulo para o terceiro nível.

Empreendedorismo na USP

Daniel Cukier começou a se interessar pelo seu tema de doutorado no grupo de pesquisa do IME, Inova Sampa, com a ideia de desenvolver projetos na área de empreendedorismo digital e difundir o pensar inovador para além dos muros da universidade. O grupo atua em conjunto com o Núcleo de Empreendedorismo da USP (NEU) e com a Agência USP de Inovação, buscando atingir novos potenciais empreendedores e abrir diálogo com a indústria, proporcionando soluções e parcerias. O NEU possui um curso gratuito sobre criação de startups e abre novas turmas a cada duas semanas com inscrição pelo site: www.coursera.org/learn/criacao-startups.

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