Pesquisa analisa o estado de conservação do acervo do Museu de Geociências

Primeiro estudo do gênero produzido no país foca em problemas e possíveis soluções específicos de coleções geológicas no Brasil

Vitrines do Museu de Geociências da USP. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O Museu de Geociências da USP conta com um acervo de cerca de 8 mil amostras, incluindo minerais, fósseis e meteoritos. Contudo, nem todas as peças se encontram em um bom estado de conservação. Por conta disso, Miriam Della Posta Azevedo estudou, em seu projeto de mestrado, os problemas de conservação próprios do acervo da Universidade e possíveis soluções e técnicas de preservação para as peças.

Ainda que esse tipo de estudo já exista no exterior, um diagnóstico dos problemas que podem ocorrer nos acervos de museus brasileiros não havia sido feito anteriormente. “A pesquisa foi uma oportunidade de produzir uma literatura nacional sobre o tema, criar um debate aqui, na nossa língua e tratando dos nossos problemas, que não são os mesmos de outros países”, conta Miriam. Um dos problemas que mais afeta as coleções geológicas no Brasil é a umidade, algo que não ocorre com tanta intensidade em países do Hemisfério Norte, por exemplo. Como esse não é uma questão para os museus estrangeiros, técnicas de como lidar com ela não haviam sido descritas de maneira aprofundada anteriormente.

A pesquisadora explica que as halitas, que são basicamente sal de cozinha, são as peças que mais sofrem danos em ambientes úmidos, podendo se deliquescer se expostas nesses tipos de locais. As piritas também são bastante prejudicadas pela umidade, uma vez que esta acelera o processo de deterioração dos minerais pelo contato com o ar. Para amenizar o problema, as amostras mais suscetíveis aos efeitos da umidade passaram a ser armazenadas em recipientes com sílica gel, que devem ser trocadas periodicamente.

A variação de temperatura devido à falta de climatização também foi um fator identificado por Miriam em seu estudo como danoso para o acervo do Museu. Por isso, o ambiente da exposição deve contar com aparelhos de ar-condicionado para manter a temperatura estável ao longo do dia. Além disso, a pesquisadora aponta que a luz direta em minerais fotossensíveis, como as fluoritas, pode danificá-los, o que estava acontecendo no Museu. Como uma forma de diminuir os danos causados pela luz nesses minerais sem ter que tirá-los da exposição, recentemente foram adaptadas vitrines com luzes de led que são acesas pelo visitante que deseja observar as peças. No entanto, alguns itens, como um tipo de halita proveniente da Bolívia, ainda não podem fazer parte da exposição porque não existem meios de garantir sua conservação: “Este é um grande paradoxo das coleções e da conservação nos museus. Para a peça ficar legal, ela tem que estar escondida. Se ela está escondida, não precisa estar no museu”, afirma Miriam.

Um dos itens mais importantes do acervo do Museu de Geociências e também identificados pela pesquisadora em seu estudo como um dos mais propensos a sofrer danos pela má conservação é o meteorito Itapuranga. Levado para a universidade nos anos 1970, o meteorito é o terceiro maior já encontrado no Brasil. Ele, no entanto, era exposto no saguão do Instituto de Geociências e estava passando por um processo acelerado de oxidação, além de apresentar fraturas por conta do suporte inadequado.

O meteorito Itapuranga, quando ainda exposto no saguão do Instituto de Geociências. Imagem: Reprodução/ Instituto de Geociências

Para descobrir a melhor maneira de conservar a peça, Miriam relata que pediu a opinião de profissionais de museus de diversas partes do mundo, que aconselharam a não tomar nenhuma providência quanto ao item. “Por ser uma peça muito grande, o processo de oxidação provavelmente começou de dentro para fora. Se passássemos qualquer tipo de proteção nele, que é o que fazem em museus do exterior, a umidade que iniciou o processo dentro dele ficaria presa e a degradação seria bem mais rápida”, explica. A solução encontrada foi mover o meteorito para dentro do museu e expô-lo em uma vitrine projetada especialmente para ele e equipada com um desumidificador. Isso, no entanto, não resolve o problema da oxidação do item em definitivo: “Nós conseguimos retardar o processo, mas não vai parar, e isso é um problema com esse tipo de material. Por isso, nós temos que trabalhar mais com conservação preventiva do que curativa, porque não tem muito o que fazer depois”.

Mesmo com os problemas identificados, o balanço final de Miriam é que o acervo do Museu de Geociências da USP está bem conservado, principalmente ao compará-lo a acervos de outros museus brasileiros ou da América Latina. “Se fosse pensar só no museu da USP, diria que está em um estado mediano. Mas em alguns museus, ao observar um exemplar, percebe-se que dele não tem quase nada, há muito pó, bolor e partes quebradas, o que é uma pena. Olhando para isso, eu acho que o nosso está bem”, esclarece.

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