Mac lança livro sobre obras italianas de seu acervo

Natureza morta de Giorgio Morandi. Foto: acervo MAC

A professora Ana Magalhães, da Divisão de Pesquisa em Arte, Teoria e Crítica pelo Museu de Arte Contemporânea, lançou, recentemente, o livro Classicismo moderno, Margherita Sarfatti e a pintura italiana no acervo do MAC USP. O trabalho se propõe a estudar 71 obras escolhidas por Ciccillo Matarazzo e Yolanda Penteado para compor o acervo do antigo MAM São Paulo, o Museu de Arte Moderna, que viria a passar, mais tarde, seu acervo para o MAC.

As coleções de Ciccillo e Yolanda no Brasil

Ciccillo e Yolanda De Chiric ao lado da obra “Enigma de um Dia”, de 1914, hoje parte do acervo do MAC. Foto Acervo MAC

O casal Matarazzo, entre as décadas de 1940 e 1950, tinha grande participação no meio artístico de São Paulo. Ciccilllo foi o criador do Teatro Brasileiro de Comédia, da Cinemateca Brasileira e  colaborador da grande mostra homenageando o quarto centenário de São Paulo, em 1954. Suas coleções particulares de pinturas foram, portanto, fundamentais para compor o acervo do Museu de Arte Moderna e, posteriormente, do MAC. São três conjuntos de obras: a coleção conjunta do casal; e as coleções individuais de Ciccillo e Yolanda, após o divórcio. As pinturas estudadas no livro concentram-se nas obras da coleção conjunta e da coleção individual de Ciccillo. Algo particular desta série é que suas obras foram adquiridas especificamente para o acervo do MAM São Paulo, diferentemente das demais, que foram acervos particulares antes de passarem aos museus.

Na Itália, Margherita Sarfatti

Margherita Sarfatti. Foto do acervo digital do McMullen Museum of Art

Ciccillo e Yolanda, ainda na década de 1940, adquirem uma série de pinturas italianas, com a curadoria da aclamada crítica de arte, Margherita Sarfatti.

Margherita era uma figura italiana conhecida. Ela foi uma das idealizadoras do Classicismo Moderno no início do século 20, o chamado Novecento, um movimento que retomava aspectos da figuração e elementos clássicos da pintura. Tratava-se de uma vanguarda, segundo a professora, ainda que não acompanhasse as tendências das demais vanguardas europeias. “Eles se entendiam como vanguarda. E nós falamos dessa  ideia ampla de Novecento para a escolha da coleção.” Socialite judia, Sarfatti, nos anos 1920, manteve um relacionamento com Benito Mussolini, chegando até a escrever sua biografia. Todavia, após a aproximação do partido Fascista do Nazismo antissemita de Hitler, foi obrigada a abandonar o país, estabelecendo-se na Argentina. Ela foi a ponte entre o casal Matarazzo e a realidade artística europeia.

A curadoria de Margherita tornou-se controversa após o fim da 2ª Guerra Mundial. Apesar dos argumentos estéticos, era evidente que se tratava de uma discordância ideológica, dadas suas relações políticas. “Havia o problema da vinculação dessas tendências da pintura do entre guerras na Itália ao regime fascista”, coloca a professora. “Parece-me que a historiografia condenava muito mais isso, reproduzindo o que a crítica de arte do imediato pós-guerra tinha com essa pintura, do que propriamente a qualidade dessas obras. ”

Do MAM ao MAC, obras ilustres

Graças ao casal Matarazzo e à Margherite Sarfatti, apesar das críticas, o MAM São Paulo recebeu belíssimas e emblemáticas obras italianas, que incluem grandes nomes da História da Arte, como Modigliani e Morandi. Em 1963, devido a crises financeiras, Ciccilo doa o acervo do MAM para a Universidade de São Paulo, que o utiliza para compor ao acervo do novo museu, o MAC USP.

Acima, à esquerda, o único autorretrato do pintor italiano Amadeo Modigliani. Yolanda dizia esse quadro ser um presente de aniversário. À direita, natureza morta de Giorgio Morandi. Abaixo, o retrato “A Adivinha”, de Achille Funi. Imagens: Acervo MAC

O livro Classicismo moderno, Margherita Sarfatti e a pintura italiana no acervo do MAC USP, da professora Ana Magalhães está disponível na biblioteca do MAC.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*